Logo quando amanheceu, notei que meus pais haviam saído para trabalhar.
Depois de tomar café, vesti uma roupa discreta, fiz um coque no cabelo e coloquei uma tiara. Acho que ninguém se assustaria em ver uma garota comum. Eu confesso que estou com medo, visto que nunca fui tão longe e sem avisar aos meus pais.Em minha mochila, coloquei meu notebook porque aproveitaria para estudar na Biblioteca Central e uma garrafa com água. Não poderia demorar muito tempo, teria que aproveitar o máximo da Província.
Enquanto caminho em direção ao trem que me levaria até Bornéo, as ruas de Kalimantann expõem o cenário catastrófico e esquecido. É repugnante andar por aqui e observar o quanto as pessoas se corromperam com coisas passageiras.
Dói ter que passar pela rua principal e ver o grande prédio que outrora era uma Igreja se tornar um prostibulo. As mulheres convidando homens a viveram um momento de prazer e sujando o seu corpo, as pessoas adorando deuses de barro ao ar livre, suplicando por riquezas materiais... Me dá calafrios quando me lembro da promessa de Yavé: estar pronta para libertar esse povo é estar pronta para morrer?
Não demorou para eu avistar o trem chegando. Acelerei os passos para alcança-lo.
— Acácia?! — Escuto a voz de Flora e paraliso. Por um instante, pensei que fosse a minha mãe. Virei para trás e e vi a mesma com a respiração acelerada.
— Tem certeza que pretende fazer isso? É arriscado demais. — Aconselhou.
— Tenho... — Menti. — Venha comigo, por favor, Flora. — Implorei, me aproximando.
— Tudo bem, mas me prometa que quando acabar, voltaremos para casa o mais rápido possível. Os seus pais não iriam gostar de saber que foi tão longe, Acácia. — Disse preocupada. — Eu sei que se sente dentro de uma bolha que não parece ter fim, mas não pense que fora dela há um jardim com pastos verdejantes.
— Bornéo será liberta muito em breve, irmã. Nem que eu precise morrer para ver esse dia chegar. — Sorri, puxando-a para dentro do trem. — Kalimatann está quase vazia, pelo visto essas informações são importantes para o povo. Só não entendo o que um simples pronunciamento pode mudar as nossas condições financeiras.
— Nada vai mudar, irmã. O povo adora os reis da Província.
Adentramos no veículo e ficamos em pé, visto que estava cheio de pessoas animadas e cheias de expectativas para um pronunciamento de traição (?).
O que uma nobre mulher poderia dizer como se sente depois de saber que em um período de crise em seu casamento, o seu marido resolver trai-la e gerar um filho fora do casamento? Sabemos que pode não ser uma situação fácil de lidar, mas por que estamos atraídos em querer ouvi-la?
Meu coração estava apertado por desobedecer os meus pais, mas a curiosidade ecoava em meu coração. E conhecendo bem os meus príncipios, minha mente iria me punir até o último dia da minha vida.Flora segurou a minha mão, quando o trem adentrou no grande túnel. É de causar arrepios, porque anteriormente a história relata que muitos cristãos foram encurralados dentro dele e mortos a bombardeios. O eco do local emana lá no fundo o grito de pavor e ranger de dentes.
Nos muros que sustentam a estrurura ainda existiam as marcas da dor e os escrítos de zombaria ao nosso Deus: "Canta para nós, povo que se diz santo!" e "Eu quero ver se o Deus de vocês os ouvem." Não só essas frases, mas diversas de ameaças aqueles que mencionarem o nome de Yavé.
Não é surpresa de que por muitos anos, adormecemos. Ou morremos. As pessoas não se lembram e não fazem questão de lembrarem o quanto era maravilhoso servir e viver milagres. Eu era apenas um bebê naquela época, mas consigo sentir o resquício de uma vida de paz.
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ALOMORFIA
Spiritual#2 em Espiritual - 23/04 "Ela não teve tempo de sentir a dor. Era pequena; não tinha noção dos danos que a fizeram crescer. Sua semente foi lançada sobre cadáveres; quase nunca se via o solo. Regada com sangue, e a polinização ao invés de lhe trazer...