Duas semanas que estou em posição de combate. Como? Orando e jejuando a fim de me preparar para a guerra (?)
Duas semanas que não ouço mais a voz de Deus sobre o que devo fazer. Queria tomar uma atitude já que fui escolhida para libertar o meu povo. Isso parece até ironia.
Era três horas da tarde quando convidei Flora para me explicar o que significava aquela resposta misteriosa de Yavé. Por mais que eu soubesse, estava agoniada para agir.
Flora sorria ao observar o texto. Não contei a mesma sobre meu encontro com Ele, e nem pretendia.
— Gosto especialmente deste versículo. — Comentou.
— Sim, e...? O que entendeu? — A incentivei continuar.
— Sei que entendeu, também. O que mais me chamou atenção, é que após a ordenança de Deus, Josafá se prostrou com o rosto em terra... — Flora fez uma longa pausa e olhou-me. — Tem certeza que não entendeu o recado? Sabe, não precisa me contar sobre seus encontros com Deus, mesmo porquê, o que é revelado no íntimo não precisa se tornar público. A menos que Ele queira. — Suspirou. — Ora, Paulo recebeu um espinho na carne. Por que? A fim de que não se ensoberbecesse, devido a visão que o Pai Celestial o havia dado. Consegue chegar na mesma linha de raciocínio?
Desmanchei todo mecanismo de defesa, me rendendo a realidade. Talvez eu esteja agindo precipitadamente. Yavé confiou em mim para salvar Bórneo e eu? Bom, estou agindo como se O mesmo não possuísse capacidade de orientar-me.
— Me desculpa, Flora. — Eu disse.
— Não deves nada a mim. Só evita sofrer precocemente, amiga. — Ela levantou. — Eu terei que fazer mercado com meus pais agora, então até a noite. O Pastor colocou no grupo algo sobre você.
— É... Uma saudação. — Dei os ombros. — Até mais tarde, não quero te atrapalhar.
Levei-a até o andar superior e assim que a mesma foi embora, voltei para o porão com o intuito de estudar o que aplicaria em minha oportunidade.
Mas ao chegar no cômodo, o mesmo exército que tive em visão quando meu corpo foi arrebatado estava presente como se estivessem me aguardando.
Levei as mãos ao peito devido ao susto.
— Rafflésia? — Esse nome me causava arrepios, porém sua voz me tranquilizava.
— Sim, eis-me aqui Senhor. — Respondi ainda não sabendo quem realmente falava. Se aqueles anjos indescritíveis ou a voz do além.
— Filha, minha justiça se aproxima. Cobrarei de Bórneo o sangue de meus servos que foram derramados. Servos esses que ganharam almas para me conhecerem, mas foram decapitados, engolidos vivos por serem fiéis a mim.
— Por que agora, Senhor? — Ousei em questionar.
— Porque você está pronta.
Foram só essas palavras para que meu muro de defesa se desmanchasse. Eu não me sentia pronta. Há algo errado aqui. Mas, de repente, um espírito de coragem tomou posse de meu corpo. Não sei como explicar...
— Maanaim, o acampamento celestial onde você pôde contemplar o meu exército. — Disse, por fim. E os anjos desapareceram.
Ao anoitecer, me arrumei para ir ao culto. Soltei meu cabelo longo, coloquei um vestido de renda na cor bege e uma sandália rasteira.
Era rara as vezes que soltava meu cabelo, pois meus pais tinham receio. Até hoje não encontro respostas. De fato, eu era a única menina de pele negra que possuía os fios ondulados.

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ALOMORFIA
Spiritual#2 em Espiritual - 23/04 "Ela não teve tempo de sentir a dor. Era pequena; não tinha noção dos danos que a fizeram crescer. Sua semente foi lançada sobre cadáveres; quase nunca se via o solo. Regada com sangue, e a polinização ao invés de lhe trazer...