Capítulo 2.
Algo mudou nos dias após a chegada dos novatos. Um frio intenso passou a tomar conta do clima do Paraíso, obrigando os anjos a tecer cobertores e casacos cheios para que pudessem se esquentar. Essa mudança repentina de tempo assustou Draco e os outros anjos. Nunca houve isso. Nunca o tempo mudou do que era, na temperatura perfeita. Agora, se via os anjos se esquentando em lareiras e cobertores além do limite. Algo estava errado, muito errado.
Draco acordou em uma manhã preguiçosa e fria, muito mais fria do que estava quando anoiteceu. Ele sentiu seus pés gelados, praticamente congelados. As cobertas já não eram suficientes para esquentar seu corpo. Draco apanhou casacos mais cheios, seguindo para o andar de cima.
Todos os anjos estavam caminhando pela sala, confusos e perdidos, até que ele viu. As janelas do palácio denunciavam o estado do lado de fora. A grama verde e calorosa foi coberta por um manto branco e frio. Do céu, já não se via mais o azul escaldante, agora tudo não passava de nuvens brancas. Elas expeliam pequenos flocos de neve que caíam pacificamente no chão. Estranhamente calmo e colérico ao mesmo tempo. Aterrorizante e diferente.
Draco olhou em cada canto da sala à procura de Theo. Seu amigo estava sentado em uma das poltronas, com um olhar perdido e as sobrancelhas franzidas. Havia bolsas escuras sob seus olhos, denunciando as noites mal dormidas por conta da preocupação.
"Hey, Theo."
Draco não sabia como começar essa conversa. Deveria dizer "Você viu como está o tempo? Estranho, não é?" ou talvez ele deveria começar com "Acho que é o fim, Theo. Gostaria de tomar uma xícara de chá?"
Pelo amor de Deus.
"Draco, olá, irmão. Estou tão perdido em meus pensamentos que nem sequer te vi. Como está? Além dos recentes acontecimentos estranhos."
Draco se sentou ao lado dele e colocou a mão em seu ombro, puxando-o para um abraço. Theo hesitou por um instante, mas depois ele se curvou sobre Draco e o abraçou com força.
"Eu sinto muito, Theo, mas se acalme, tudo vai ficar bem. Descobriremos o que está causando essa mudança estranha, eu prometo."
Theo estremeceu.
[...]
Uma semana se passou e a neve não parava de cair. Draco já estava se acostumando com o inverno, apenas impedindo que a preocupação dominasse sua cabeça e o impedisse de seguir com sua própria sanidade. Ele caminhava por entre os pinheiros, gostava da região das florestas. A neve branca e densa cobria algumas partes das árvores, compartilhando seu lugar com o verde escuro. No céu se caía uma noite linda. As nuvens desapareceram por um tempo, dando seu lugar para o azul escuro com pontos iluminados. A lua testemunha tudo de seu lugar. Tão brilhante e acesa quanto qualquer coisa no Paraíso.
Draco atravessou a estrada, parando de repente após escutar um barulho. Ele se virou para os lados, seguindo o som que vinha por entre os pinheiros. Após um tempo seguindo o som, tropeçando em galhos secos e escorregando no gelo, ele se deparou com uma coisa um tanto peculiar.
Um gazebo se encontrava no meio das árvores, simples e de madeira polida. No meio dele, algumas velas estavam acesas, iluminando o lugar com suas cores laranjas e avermelhadas, mas isso não foi o que mais intrigou Draco. O que deixou seus pensamentos confusos foi a presença de alguém no gazebo misterioso. Alguém que estava sentado em um banco largo, as pernas cruzadas e um caderno em mãos.
Draco se aproximou, silenciosamente para que não atrapalhasse o homem desconhecido. Seu cabelo curto e escuro caía em pequenos cachos por cima de sua testa. Os lábios vermelhos estavam pressionados, assim com sua sobrancelha que se juntava em uma expressão de concentração.
Draco reparou em outra coisa fora do normal, completamente extasiado e perdido: suas vestimentas. Uma espécie de macacão transparente cobria o corpo do homem. O tecido aparentava ser fino e macio ao toque. Algumas flores estavam bordadas pelas mangas e na região do peito, delicadas e com alguns fios em dourado.
A temperatura estava baixa por ali, não era possível que alguém conseguisse se esquentar com apenas aqueles panos. Draco estava tremendo com suas luvas e casacos pesados. Seus cílios pareciam ter congelado e ele não sentia mais o próprio nariz.
O homem ergueu a cabeça e olhou para um Draco congelado na entrada do gazebo. Draco se lembrou dele, o anjo de olhos extremamente verdes.
"Olá. Me perdoe caso tenha assustado-o. Meu nome é Draco."
O anjo mordeu os lábios e ergueu os cantos da boca em um mínimo sorriso. Seu rosto brilhava com a luz laranja das velas, destacando ainda mais os olhos cristalinos.
"Oi, meu nome é Harry. É um prazer conhecê-lo, Draco. O que faz aqui tão tarde?"
Draco entrou no gazebo, se sentando na extremidade do banco onde Harry estava, não se aproximando muito por conta da timidez.
"Eu que lhe pergunto. Estava apenas andando por entre a floresta, um momento de paz depois de toda a euforia. Você não está com frio?"
Harry fechou o caderno de capa escura, colocando-o de lado. Se virou para Draco, apoiando suas mãos ao lado de seu próprio corpo, deixando à vista o peito coberto apenas pelo macacão transparente bordado. Um desenho pairava em sua barriga, uma espécie de mariposa escura e delicada ocupava a região de seu abdômen. Draco nunca tinha visto algo como aquilo. Como um desenho poderia se prender à pele de alguém?
"Eu não sinto o frio, Draco." Harry sussurrou, quase não deu para escutá-lo se não fosse pelo silêncio devastador que rondava a floresta.
"Como...? Como conseguiu esse desenho em sua pele?"
O sorriso de Harry se contraiu um pouco.
"Consegue ver?"
Draco franziu as sobrancelhas em confusão. Era óbvio que ele conseguia ver o desenho.
"Sim, é meio óbvio isso."
"Ninguém nunca... Humm, você gostou?"
Draco observou novamente a borboleta. Perecia tão bonita ali, pairando no abdômen de um ser celestial. Tão linda e delicada.
"Significa morte. Uma morte que transforma."
Draco não entendeu como alguém poderia ter o desenho que representa a morte, tão sombrio na visão de alguns. Algo perigoso e muito questionável e a única certeza que os mortais têm. Draco não sabe como foi sua morte, mas foi um renascer para o Paraíso.
Quem está na Terra, não tem noção do que acontece após a morte. Os anjos não sabem o que existiu antes dela.
"Eu não sei como consegui isso. Simplesmente está aqui."
Draco concordou com um movimento de cabeça se aproximando minimamente. Harry era ainda mais magnífico de perto. Sua beleza era tão hipnotizante que Draco sentia que poderia observá-lo por horas.
"Toque-a." Harry praticamente soprou as palavras baixinho, olhando para Draco de forma intensa e quase... necessitada?
"Não, não é necessário, Harry."
Harry ignorou a resposta de Draco e abriu com delicadeza o primeiro botão da parte de cima do macacão. Logo após, desabotoou os outros três, e a roupa se abriu, dando a visão de sua pele branca e de aparência macia, manifestando o desenho da mariposa.
Harry pegou a mão do outro que nem sequer se moveu, tão hipnotizado.
As pontas geladas dos dedos de Draco tocaram a pele macia e quente. Mesmo com o frio intenso, a pele de Harry permanecia calorosa. Um arrepio se fez presente em sua pele assim que o toque gelado foi feito, acordando seu corpo e fazendo seu coração bater mais rápido.
Draco passou as pontas dos dedos delicadamente nos traços finos do desenho, curioso sobre aquilo. Ele olhou para cima, encontrando os olhos cristalinos em seu caminho.
O contato foi quebrado por Draco que se recordou de sua postura, se afastando do anjo e se levantando.
"Preciso ir embora, Draco, está ficando cada vez mais frio. Obrigado pela sua companhia."
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Péché | Drarry
Fanfiction[CONCLUÍDA] Draco Malfoy é um anjo caído e está condenado a passar todos os dias de sua eternidade no inferno por conta de um erro cometido no céu. Draco é bom, ele não merece essa maldição. Harry tem olhos angelicais e a pele tão branca que reluz...