notas sobre mim. 

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ela dormia com a porta aberta
para que seus demônios rodassem livremente
e não precisassem se dar o incômodo
de bater.

ela tinha mariposas no estômago
muito maiores que as borboletas convencionais
não se atraiam por cores
e sim
por luz.

ela era café morno
adoçado na medida do amargo
não para mostrar contradição
mas sim a ambiguidade
presente em si.

ela era a morte
o enforcado
o diabo
e todas as cartas que representassem
sua dualidade.

ele era terapia
não para si
mas para os que o encontrassem
precisando desabafar
e desabar.

ele dava tempo ao tempo
o deixava trabalhar
não adiantava coisas que só o futuro guarda
mas não agradecia a dádiva do presente
não como deveria.

ele odiava chuva
a menos que pudesse molhar os
pés.

ele era muito fundo
fundo demais para amores rasos
Você nunca o conheceria por completo
mas iria se aventurar tentando descobrir as curvas deste labirinto chamado
eu.

ele curava suas feridas com coisas
superficiais demais para a destreza
delas.

ele não era bem ele
nem era bem ela
elu era corpo
era alma
era espírito
era mais que nomes
era mais que algo definido.

ele tem vontade de entrar em um banho
e dissolver com a água
se afogar em suas lágrimas
e que tudo vá pelo ralo.

ele não via graça em dias frios
tampouco os apreciavam com chocolate quente
ele gostava de deitar na grama ao sol
com seus livros novos de poesia
que não o fazia viajar entre mundos
mas o fazia viajar dentro de si
e não haveria mundo maior.

ele gostava de viagens
de todos os tipos
entre palavras
entre pessoas
entre curvas e corpos
entre si.

o amor dele não tem cor
raça
ou dono
não é de um
ou dois
ou três
ele é tão livre
quanto meu ser.

ela era um enigma
que se decifrava aos poucos
até para si mesmo.

ele tinha corpo de massinha
que se moldava ao ser tocado
que podia ser amassado e refeito como bem entendesse
não era de sua propriedade
ele era de todos
e qualquer um poderia entrar em seu corpo
se quisesse o desvendar.

notas sobre ela: não a chame de poesia
se ainda não souber ler.

ele não consegue ser superficial
te prende por horas na mesma conversa
e não tem tempo pra falar de pouco
precisa de alguém como si
que o prenda em uma conversa por horas
ele é muito fraco ou muito forte
pra superficialidade.

ela queria ser mais fácil
mais simples
mas adora ouvir como é difícil de desvendar
de desmontar e montar de novo.

ele implorava por arte.

ela finalmente está pronta pra si
como nunca esteve pronta pra si.

ele não fica sem palavras
tem o dom de argumentar
o que acontece é que sua língua se parte
se engole
quando não sabe reagir
e esquece a língua que fala.

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