A tempestade vêm com monstros.

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São seis da manhã e já estou na escola, completamente sozinha na sala. Por quê? Simples, minha mãe teve a incrível ideia de me levar pra escola às CINCO E CINQUENTA DA MANHÃ e me deixar aqui SOZINHA! Tudo isso porque eu atrasei um pouquinho essa semana, que raiva!

Suspiro, salvando algumas notícias a respeito da chuva de sangue no celular para ler depois. Ontem as pessoas falaram disso o dia inteiro, pelos jornais e programas na TV, teorizando a causa dela. Aparentemente ela aconteceu no mundo inteiro e em várias regiões, somente algumas não registraram esse fenômeno. Teorias da conspiração falaram que era um ataque biológico, já o governo, não se pronunciou. Completamente normal, eles são sempre incompetentes no final. Desligo o celular e olho pra cima, esperando o tempo passar enquanto penso no que vou fazer hoje. Preciso adiantar minhas tarefas do inglês e ver se corro um pouco, faz quase uma semana que não corro pela cidade e realmente sinto falta, é como se meu corpo enfraquecesse um pouco pela falta de exercício. Mas, de tarde resolvo tudo.

Por agora, pretendo apenas adiantar o que iria fazer no intervalo.

–O que raios você está fazendo na escola às 6:10 da manhã? –Uma voz ainda sonolenta me aborda por trás e sorrio. –Geralmente você chega cinquenta minutos atrasada, não antes da aula começar.

Uma cadeira é colocada do meu lado e Rodolfo senta nela, olhando para mim ainda com a cara amassada. Pelo visto não fui a única a dormir pouco hoje.  

–Vingança da minha mãe. –Murmuro e ele ri, balançando a cabeça. –E você? 

–Sempre chego cedo – esticando os braços, passo os olhos pelo seu uniforme e arrepio ao ver o tênis marrom em seu pé. Rodolfo veio com eles! –E como você reclamou por estar aqui às seis da manhã, dei uma adiantada. Sempre venho a pé mesmo.

–Tudo isso para me fazer companhia? –Pergunto mais atentada do que o comum e o semblante dele é tomado pela vergonha, desviando o olhar. Como fiquei aqui sozinha mandei algumas mensagens e torci para ele já estar acordado, sendo respondida na hora. Ajeito na cadeira e volto a atenção para frente, sem acreditar que Rodolfo realmente veio. –Mudando de assunto, você viu os milhões de artigos sobre a chuva de ontem? Ela aconteceu no mundo inteiro!

–Eles não falavam de outra coisa além disso. –Reclamando ao se virar para mim, paralisando, ele morde a língua e arqueio as sobrancelhas. –Vitória,  seu braço, não melhorou?

Tombo a cabeça, então lembrando dele. Olho para baixo e vejo-o ainda um pouco vermelho por causa de ontem e suspiro.

–Ele já melhorou, nem estava lembrando disso. –Tento tranquilizar Rodolfo, que morde o polegar nada feliz. Normalmente estaria brava, mas depois de esfriar a cabeça percebi o quão perigoso foi tentar encostar naquelas gotas. Os jornais mostraram inúmeros insetos e plantas por todo o globo nas regiões onde ela aconteceu, mortos por terem encostado nela. Aproximo dele, segurando e puxando seu punho, tentando fazer ele parar de morder o dedo. –Por favor, pare com isso, está tudo bem.

Ficamos alguns segundos em silêncio, nos encarando, até que Rodolfo cede e apoia o braço no joelho. Suspiro aliviada e volto a observar a rua, ainda vazia. Sinto ele segurar minha mão e percebo que ainda estou segurando-o. Rio de nervosismo e procuro algo para não focar nisso, olhando para uma pessoa dentro da recepção próxima das catracas com alguns cadernos sobre a mesa.

–Conhece ele? –Pergunto apontando para o homem. 

–O cara na portaria? –Concordo com a cabeça. –É o novo segurança, o nome dele é Emanuel. 

–Uau, sabe até o nome dele? –Um sorriso surge no rosto dele.

–Claro, ele jogava futebol de salão com meu tio e sempre ia lá ver os treinos deles, Emanuel sempre ganhava e zoava Igor. –É claro que alguma coisa tinha haver com seu tio se ferrando. –É uma das pessoas mais estudiosas que conheço. 

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