O maior susto e burrice da minha vida.

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O monstro sai rolando pelo corredor e luto contra a dor para levantar, me lançando na direção de Rodolfo, sentindo o mais puro medo. Não, não, não! Isso não! Saio cambaleando e consigo aproximar dele, tremendo de pavor ao vê-lo sangrar com os olhos arregalados, sem cor.

–RODOLFO! –O chamo ao movê-lo desesperadamente, mas não há resposta. Ele desmaiou. Mordo a língua e tento manter a calma, tenho que fazer algo, eu definitivamente tenho que fazer algo! Coloco o dedo no pescoço dele e suspiro aliviada ao sentir seu pulso, ao menos ele está vivo. Tento dar um jeito no braço de Rodolfo, em uma posição nada natural, e olho para o monstro, caído e imóvel mais a frente no corredor. 

Precisamos sair daqui. Engulo seco e tento pensar em algo, tenho que sair daqui, mas por onde? Atrás da criatura, vejo a porta das escadas e engulo um xingamento. É claro que a única forma de vazar está perto daquela coisa! Eu poderia procurar a outra entrada, mas está do outro lado da escola, não sei se consigo chegar lá com Rodolfo... 

Respiro fundo e reúno o resto de minha coragem, levantando Rodolfo ao apoiá-lo em meus ombros e andar em direção às escadas. Dou o primeiro passo e quase caio, sentindo o peso dele encurvar minhas costas. Consigo me manter de pé com muito esforço e começo a andar. Temos o mesmo tamanho mas ele deve pesar uns dez quilos mais que eu! 

Encaro o enorme corpo imóvel do monstro diante mim e a porta das escadas, tão perto e distante ao mesmo tempo. Continho a andar, olhando a criatura completamente imóvel sobre um líquido dourado, seja lá o que isso seja. A pele dele está rasgada e seus músculos pararam de se contrair, talvez ele esteja ao menos desmaiado, eu espero. 

Tomo o máximo de cuidado possível para não cair com Rodolfo, com o medo crescendo cada vez mais a cada passo dado, sem tirar os olhos do ser. Passo ao lado dele e congelo, vendo um dos seus músculos se contrair. O suor escorre pelo meu rosto e permaneço imóvel, sem ousar dar um passo. Nenhum outro movimento acontece e, depois de uns minutos, volto a andar.

Me aproximo da porta de ferro e custo a girar a maçaneta. Estou tremendo, muito. Entro nas escadas e fecho a porta, olhando para os degraus que levam para o andar de cima e para os de baixo. O que devo fazer? Não vou conseguir subir com Rodolfo e muito menos descer, custei andar com ele em linha reta! Nem subiria um andar e já estaria morta! As mochilas pioram ainda mais a situação e abaixo olhar, ouvindo grunhidos vindo do corredor, engolindo em seco. Aquilo acordou? E agora? 

Tiro minha mochila e a dele de suas costas e as coloco no chão. A de Rodolfo parece ter rasgado no impacto, mas ainda não abriu tudo. Retiro nossos cadernos e apostilas, raspando sem querer em Rodolfo que arregala os olhos na hora. 

Tampo sua boca por reflexo e sinalizo silêncio, tremendo de alívio. Ele acordou! O pavor nos olhos dele diminui ao olhar para os lados, vendo que estamos nas escadas e ele se contorce, cerrando os dentes para não gritar de dor. Pego a mochila dele e procuro por algum pano, jogando os cadernos dele no chão. Qualquer pano serve, qualquer um! Acho um pequeno paninho onde ele limpa o lanche e enfio-o na boca dele, que se assusta. Nos olhamos e mordo o ar, sinalizando para morder.

Parecendo entender, pego a blusa de frio azul que estava usando mais cedo na mochila e olho para o braço torto, pensando como irei improvisar um suporte e consertá-lo minimamente. Respiro fundo e depois de dar uns nós, encosto suavemente no braço e subo-o, escutando gemer de dor. Ajeito o máximo possível sua posição e passo a blusa amarrada no pescoço dele, criando um suporte improvisado. 

–Obligado... –ele sussurra ainda com o pano na boca e mordo a língua em frustação, eu que deveria dizer isso, não Rodolfo! Era para eu ter sido atingida! Não ele!

Respiro fundo e tento pensar em uma forma de sairmos daqui vivos. Poderíamos subir as escadas, mas não sei se aquela coisa vai nos escutar. Preciso afastar aquilo, mas como? Talvez se ficarmos parados sem fazer barulho, o monstro deve ir embora, mas se ele nos achar será o fim para Rodolfo. Abaixo a cabeça e tento pensar em alguma coisa, qualquer coisa. 

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