Capítulo 3

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O som da chave na porta de entrada tirou-o do devaneio. Estava calmo. Olhou o relógio, apenas oito e meia. Não esperava que Namjoon estivesse em casa tão cedo, já que ele dissera que participaria de um jantar de negócios naquela noite.

Foi até a porta. Namjoon estava de costas, a tensão em sua postura era facilmente perceptível. O alfa virou-se devagar e encarou-o. Depois, desviou o olhar pela sala e viu o telefone fora do gancho. Dirigiu-se ao móvel, colocou a pasta que carregava no chão e pôs o aparelho no lugar. Seokjin notou que a mão dele tremia.

Hyuk devia ter telefonado para ele. Com certeza entrara em pânico quando o amigo ficou incomunicável e resolveu contar a Namjoon o que havia feito. Seokjin pensou que gostaria de ter ouvido a conversa. As acusações e confissões, condenação e defesa.

Permitiu que o alfa o olhasse de alto a baixo.

Ele era culpado. Trazia estampado em seu rosto e corpo. Culpado!

Sem uma palavra, o ômega virou-se e foi para a sala de estar.

Namjoon respirou fundo e preparou-se para enfrentar o marido, que o esperava com paciência. Na sala, Seokjin sentia-se estranhamente calmo, o coração batia compassado e as mãos repousavam no colo.

O alfa entrou na sala. Estava sem o paletó e afrouxara a gravata. Sem olhar para Seokjin, seguiu direto para o bar onde, entre várias bebidas, estava uma garrafa de seu uísque preferido.

— Quer uma dose? — perguntou.

Seokjin negou com a cabeça. Namjoon percebeu a negativa mesmo sem virar-se e não insistiu. Serviu-se de uma dose dupla e sentou-se numa cadeira na frente dele.

— Que amigo leal você tem — foi como começou o assunto.

"Pena que não possa dizer o mesmo de você", o ômega pensou.

Os olhos do alfa estavam fechados. Não conseguia encará-lo. Estendeu as pernas fortes na frente do corpo e manteve o copo de bebida seguro no meio das duas mãos. Os dedos eram longos e fortes e as unhas absolutamente limpas. 

Aliás, tudo nele era limpo e elegante. Tanto o corpo como seus objetos pessoais. Bons ternos, sapatos finos, camisas feitas sob medida e caras gravatas de seda.

Namjoon ia fazer trinta e dois anos. O amadurecimento dera-lhe uma expressão de força e autossuficiência. Era um alfa controlado, raramente perdia a paciência ou se irritava quando as coisas não aconteciam a seu modo. Possuía a rara virtude de encarar um problema, colocar os pontos negativos de lado e lidar com os positivos.

Provavelmente era o que fazia no momento, procurando descobrir os estragos que o telefonema poderia ter feito a seu casamento e tentando encontrar os aspectos positivos do acontecido.

Esta habilidade fizera com que Kim Namjoon chegasse à presidência das Empresas Kim, uma organização que ele criara e que se expandira nos últimos anos, englobando companhias menores, ajustando-as ao mercado para torná-las mais rentáveis e depois vendendo-as com lucro.

Construíra seu império, mantendo os negócios na linha divisória entre o sucesso e o prejuízo, sem, no entanto, colocar sua família e o que conseguira para eles sob qualquer risco. Cercara a família de luxo e mimo.

— E agora? — Namjoon perguntou subitamente.

— Você é quem deve falar.

Com certeza, Hyuk ficara apavorado com a reação que o amigo pudesse ter. Talvez imaginasse suicídio ou qualquer outra tragédia. Só o medo o forçaria a contar tudo a Namjoon.

— Aquele imbecil! Se não se intrometesse, você seria poupado disso. Já acabou — disse Namjoon, muito tenso, enquanto apertava o copo nas mãos. — Se ele ficasse quieto, logo saberia que estava tudo terminado! Mas não, ele sempre quis acabar comigo, só não imaginei que fosse jogar tão sujo e envolver você! Ele nunca apoiou o nosso relacionamento — Após segundos em silêncio, continuou um pouco mais alto: — Pelo amor de Deus, diga alguma coisa!

Despedaçados | NamjinOnde histórias criam vida. Descubra agora