O Topo do Vento

454 49 6
                                    

- Para onde está nos levando? - Frodo perguntou.

Era o dia seguinte. Tínhamos partido cedo, sem maiores explicações. Os hobbits não tinham resistido a nos seguir, mas eu podia sentir a desconfiança deles. 

- Para a floresta. - Aragorn disse simplesmente.

Apenas alguns segundos depois, pude ouvir os hobbits cochichando.

- Como vamos saber se esse Passo-Largo é amigo do Gandalf? - Perguntou um dos hobbits, ao qual chamavam de Merry. 

- Eu acho que um servo do inimigo teria melhor aparência - Frodo cochichou de volta - E pareceria mais sujo. 

- Já é bem sujo - Merry devolveu.

Pude sentir Aragorn resmungar ao meu lado, contrariado, enquanto eu soltei um leve riso.

- Não temos outra opção senão confiar nele. Além disso, não acho que estaria acompanhado de uma elfa se fosse um inimigo. - Frodo disse.

- Mas para onde está nos levando? - Perguntou o hobbit loiro, Sam. 

- Para Valfenda Senhor Gamgee. - Aragorn disse - Para a casa de Elrond.

Nessa hora, eu resolvi que era hora de amenizar o clima tenso.

- Muito bem. - Eu disse, surpreendendo Aragorn com minha quebra do silêncio - Isso não vai nos levar a lugar algum. Acredito que já conheçam Passo-Largo - Eu repeti o apelido, sabendo que seria melhor não revelar o verdadeiro nome de Aragorn até que ele mesmo o fizesse- E meu nome é Aerin. Sou filha de Elrond.

Vi o semblante de Frodo se abrir ao ouvir meu nome, me levando a sorrir.

- Parece que reconhece meu nome, Frodo. Não esperaria algo diferente de Bilbo.

Vi o rosto dos outros três hobbits ficarem confusos.

- Ela conhece o Senhor Bilbo? - Sam perguntou.

- Aerin... - Frodo disse - Você é a elfa que acompanhou meu tio na aventura dele?

- Pode-se dizer que eu tive a honra de ver seu tio em ação.

- Ele nunca quis me contar detalhes sobre suas aventuras. Você esteve com ele o tempo todo?

- Infelizmente não. Passei cerca de um ano sozinha. Mas essa é uma história para outro momento.

Passamos a maior parte da manhã conversando, e senti que os hobbits ficavam mais a vontade em minha presença enquanto eu lhes contava algumas de minhas aventuras com Bilbo. Porém assim que me afastei para falar com Aragorn, percebi que os hobbits estavam parando atrás de nós.

- Senhores. Não paramos até o anoitecer. - Aragorn disse. 

- Mas e o café da manhã? - Pippin perguntou, ao que recebeu um olhar confuso de Aragorn.

- Já tomaram. - Ele respondeu.

- Tomamos um, sim. Mas e o segundo café da manhã? - O hobbit rebateu. Tive que me segurar para não rir, imaginando qual seria a resposta de Aragorn.

Porém ele não respondeu. Apenas se virou, e adentrou o matagal a nossa frente. Merry se aproximou de Pippin.

- Acho que ele não sabe sobre o segundo café da manhã Pippin. - Ele disse.

- E o lanche das onze? Almoço? Chá da tarde? Jantar, ceia? Ele sabe de tudo isso, não sabe? - Pippin perguntou.

- Eu não contaria com isso. - Merry respondeu.

Nessa hora, ouvi um som vindo de trás de mim. Uma maçã passou voando pela minha frente, indo cair na mão de Merry. O hobbit se virou para Pippin e lhe entregou a fruta, começando a voltar a andar. Um segundo depois, Pippin foi atingido por outra maçã, que o acertou direto na cabeça.

Eu não consegui segurar a risada, enquanto alcançava Aragorn.

- Uma coisa não se pode negar. Esses hobbits comem muito bem. Talvez até melhor que em Valfenda. - Eu disse, brincando.

- Quero ver como vão sobreviver se não aprenderem a economizar. - Aragorn devolveu.

- Não seja tão sério. - Eu respondi, recebendo um dar de ombros como resposta. 

Voltamos a andar, e continuamos nesse ritmo durante os dois dias seguintes, parando apenas a noite em lugares discretos, onde corríamos menos risco de sermos vistos. Eu sabia que os nazgûl ainda nos perseguiam, e que seríamos incrivelmente sortudos se conseguíssemos chegar até Valfenda sem encontrá-los nenhuma vez. 

Depois de alguns dias, tínhamos finalmente chegado ao topo do vento. Uma construção em ruínas se erguia sobre uma colina, como se fosse um grande salão. Não era o lugar mais seguro de todos, mas pelo menos nos dava visão privilegiada dos arredores, o que por fim fez com que eu e Aragorn concordássemos em acampar lá.

- Esta era a grande torre de vigia de Amon Sûl. - Eu disse aos hobbits, enquanto subíamos a colina.

Os hobbits se jogaram sobre as pedras, exaustos. Tínhamos subido até quase o topo, ficando embaixo de uma saliência na rocha. Aragorn tirou quatro espadas, não muito maiores do que punhais, de um tecido, e as entregou aos hobbits.

- Fiquem com isso. - Ele disse - Mantenham-nas por perto. Preciso olhar por aí. Aerin, vamos nos dividir.

Eu assenti rapidamente. 

- Não saiam daqui, voltaremos logo.

...

Eu fiquei cerca de uma hora olhando em volta. Procurava por sinais de presença recente naquele lugar, mas para minha tranquilidade não encontrei nada. A ideia de deixar os hobbits sozinhos tão pouco me agradava, mas era melhor ter certeza de que não tínhamos companhia do que arriscar.

Andei por mais alguns minutos, e então lancei um olhar para o ponto onde sabia que os hobbits estavam, ao longe. O que vi quase fez meu coração parar. 

Eu não acredito que eles acenderam a droga de uma fogueira 

Um grito agudo aterrorizante cortou o ar, gelando meu sangue. Eu não esperei um segundo, correndo o mais rápido que pude na direção da fogueira. Vi a luz tremeluzir, e se apagar. 

Eu não tinha tempo a perder. Eu podia ver as figuras encapuzadas dos nazgûl se aproximando do topo do vento. Eles desmontaram ao pé da colina, subindo até a construção em ruínas, em perseguição aos hobbits.

Eu acelerei, finalmente chegando ao sopé da colina. Continuei subindo, com a respiração acelerada. 

Quando finalmente cheguei até o topo, ouvi a voz de Sam.

- Para trás demônios!

O som de choque de espadas se seguiu a esse. Eu me aproximei bem a tempo de ver Sam sendo jogado para longe.

Um nazgûl empurrou Merry e Pippin para os lados, revelando Frodo atrás deles. Então, a criatura começou a se aproximar dele lentamente, um punhal surgindo sob sua capa.

Eu corri, meu foco sendo o nazgûl que atacava Frodo. Porém antes que eu pudesse avançar, outro deles me atacou, chamando minha atenção. Bloqueei o golpe rapidamente, e comecei a empurrá-lo para trás pouco a pouco, até que ele caiu sobre a borda. Mas eu sabia que ele voltaria. Não estava vivo, portanto não podia morrer.

Me virei de volta para Frodo, mas ele tinha sumido. Ele colocou o anel, eu percebi. Haviam quatro nazgûl no ponto onde ele tinha desaparecido. De repente, um deles lançou seu punhal para baixo, em uma rápida investida. Ouvi o grito de dor de Frodo, me dando conta no mesmo momento que eles o tinham acertado.

 - Frodo! - Eu ouvi a voz de Sam, enquanto eu corria para me juntar a luta.

O Retorno do AnelOnde histórias criam vida. Descubra agora