O Conselho

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- Aquele ferimento jamais será totalmente curado. - Disse Gandalf. - Ele o carregará pelo resto da vida.

Eu estava reunida com meu pai e Gandalf. Frodo tinha passado pelo andar de baixo, arrancando o comentário do mago. O assunto que nenhum de nós desejava tocar, mas ainda assim necessário.

- E por ter vindo até aqui ainda carregando o anel, o hobbit demonstrou uma extraordinária resistência a sua maldade. - Elrond respondeu.

- É um fardo que ele jamais teria que ter carregado. Não podemos pedir mais nada a Frodo.

- Gandalf. O inimigo está se movendo, as forças de Sauron estão se reunindo no leste, seu olho está fixado em Valfenda. E Saruman pelo que disse nos traiu, nossa lista de aliados fica menor.

- A traição dele é maior do que imagina. - Gandalf disse - Com magia negra, Saruman cruzou orcs com gnomos, ele está criando um exército nas cavernas de Isengard. Um exército que se move à luz do sol, e percorre grandes distâncias rapidamente. Saruman virá atrás do anel.

- Esse mal não pode ser ocultado pelo poder dos elfos. - Elrond respondeu.

- Não temos força suficiente para defender o anel, Gandalf. Não temos como lutar contra Mordor e Isengard. - Eu completei, concordando com meu pai.

- Gandalf. O anel não pode ficar aqui. - Elrond finalmente disse a frase que passava pela cabeça de todos, mas que temíamos pronunciar - Frodo tem uma resistência incrível ao anel. - Ele acrescentou.

- Não podemos pedir isso a ele...

- A quem mais poderíamos? Diga-me com sinceridade Gandalf, se até mesmo você já não foi tentando pelo anel?

O mago não respondeu, então meu pai se virou para mim. Eu suspirei, sabendo que ele tinha razão.

- O anel tem um poder muito grande. Acredito que esteja acostumada a sua presença, mas não sou forte como Frodo. Se me aproximasse de Mordor, não acho que eu resistiria ao poder de Sauron.

- Este perigo ameaça toda a terra média. Precisamos todos decidir agora como acabar com ele. A época dos elfos terminou, meu povo está deixando este local. A quem vai pedir ajuda quando formos embora? Aos anões? - Ele perguntou, com sarcasmo. - Eles se escondem em suas montanhas buscando riquezas, e não se importam com os problemas dos outros.

Senti meu coração se apertar com o que meu pai disse, e me virei para ele, perplexa. Os elfos deixando a terra média? Elrond me lançou um olhar que claramente dizia "conversamos depois". Então eu me voltei para Gandalf.

- É nos homens que temos que colocar as esperanças. - Ele disse.

- Homens? - Elrond respondeu - Os homens são fracos. A raça dos homens está fracassando. O sangue de Númenor já se foi, seu orgulho e dignidade estão esquecidos. Foi por causa dos homens que o anel sobreviveu. Eu estava lá Gandalf, há três mil anos. Quando Isildur pegou o anel. Eu estava lá quando a força dos homens falhou.

"Guiei Isildur até o centro da montanha da perdição. Onde o anel foi forjado. O único lugar em que podia ser destruído. Mas ele se recusou a destruí-lo. Deveria ter terminado naquele dia, mas o mal conseguiu sobreviver.

Isildur ficou com o anel, a linhagem dos reis foi interrompida. Não há mais força no mundo dos homens. Estão dispersos, divididos, sem líder."

- Existe um homem que pode uni-los. - Eu disse.

- E que pode reclamar o trono de Gondor. - Gandalf completou.

- Há muito tempo ele se afastou daquele caminho. Optou pelo exílio.

- Isso não deve ser decidido agora. - Gandalf disse - E não apenas por nós. Temos muito o que discutir.

...

- Estranhos de terras distantes, velhos amigos. Chamei-os aqui para responder a ameaça de Mordor. A terra média está prestes a ser destruída. Ninguém poderá escapar. Devem unir-se, ou serão destruídos. Cada raça está presa a esse destino, essa perdição. Nos mostre o anel Frodo. - Disse Elrond.

Estávamos todos reunidos. Elfos, homens, anões e hobbits. Era a hora de decidir de uma vez por todas o que seria feito. Legolas estava sentado ao meu lado, e eu podia ver Aragorn claramente, sentado a algumas cadeiras de distância. Boromir parecia agora muito interessado na conversa, e Gimli bem mais tranquilo do que seria normal.

Frodo se levantou, tenso, e colocou o anel sobre a mesa no centro da sala. Ele era o único hobbit presente, e isso não parecia agradá-lo muito. Ele se sentou entre Gandalf e eu.

- Então é verdade... - Ouvi Boromir sussurrar.

Pude sentir a atmosfera ficar tensa na sala. Todos pareciam estar sofrendo com a presença do anel, menos Aragorn, que assim como eu, já tinha estado na presença do anel por algum tempo. Eu não sentia nada de diferente, pelo tempo que já tinha ficado perto do objeto.

Olhei para o lado, e percebi que Legolas apertava o braço da cadeira com força, como se estivesse em uma luta interna. Imediatamente passei minha mão por baixo da sua e a apertei, em um gesto de conforto. Vi ele me lançar um olhar agradecido, e senti-o apertar minha mão de volta, enquanto ele voltava a relaxar.

E então, Boromir se levantou. Foi a primeira vez que o ouvi falar.

- Em um sonho, vi o céu oriental ficar escuro. Mas no oeste ainda havia uma pálida luz. Uma voz gritava "seu destino está próximo". A ruína de Isildur foi encontrada. A ruína de Isildur... - Ele começou a aproximar a mão do anel, como se fosse pegá-lo.

Isso imediatamente me alertou, e eu estava pronta para dizer algo, mas Elrond foi mais rápido.

- Boromir! - Ele advertiu.

Gandalf se levantou, e começou a dizer algo, enquanto a atmosfera ficava mais escura.

- Ash nazg durbatulûk.
Ash nazg gimbatul.
Ash nazg thrakatulûk.
Agh burzum-ishi krimpatul.

Apertei a mão de Legolas mais forte, com o medo súbito que me invadiu. Mas logo Gandalf parou, e um silêncio se abateu sobre todos. Meu pai parecia perturbado.

- Nenhuma voz jamais proferiu palavras nessa língua aqui em Imladris. - Ele disse, com reprovação, ainda se recuperando do susto.

- Não peço seu perdão, mestre Elrond. Pois a língua negra de Mordor ainda pode ser ouvida em todo canto do oeste. O anel é todo maléfico.

- Isto é um verdadeiro dom, um presente aos inimigos de Mordor. Porque não usamos esse anel? Há muito tempo meu pai, o governante de Gondor, cercou os exércitos de Mordor. O sangue de nosso povo garantiu a segurança de suas terras. Deem a Gondor a arma do inimigo. Vamos usá-la contra ele. - Boromir disse.

- Não pode controlá-la. - Aragorn se manifestou. - Nenhum de nós pode. O um anel obedece somente a Sauron. Ele não tem nenhum outro mestre.

- E o que um guardião sabe sobre esse assunto? - Boromir questionou, com arrogância.

- Esse não é um mero guardião. - Legolas se levantou ao meu lado - Ele é Aragorn, filho de Arathorn. Você lhe deve obediência.

- Aragorn? - Boromir perguntou, perplexo - Este é herdeiro de Isildur.

- E herdeiro do trono de Gondor. - Dessa vez foi minha vez de me levantar.

- Havo dad (sentem-se) , Legolas, Aerin - Aragorn disse.

- Gondor não tem rei. - Boromir disse, irritado - Não precisa de rei.

- Aragorn tem razão, não podemos usá-lo. - Eu disse - É muito perigoso.

- Só existe uma escolha - Meu pai se levantou novamente - O anel deve ser destruído.

O Retorno do AnelOnde histórias criam vida. Descubra agora