Os Espiões de Saruman

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- O portador do anel está saindo em busca da montanha da perdição. Sobre vocês que viajam com ele, nenhum juramento ou laço irá além do que vocês irão. Adeus, mantenham seu objetivo. E que as bênçãos de elfos, e homens, e todos os povos livres os acompanhem.

Então era isso. Estávamos partindo. Meu olhar passava do rosto do meu pai, que apesar de sua visível calma, trazia grande tristeza no fundo, para o de minha irmã, que se mantinha séria. Eu os conhecia muito bem. Sabia o quanto era difícil para eles, tanto quanto o era para mim. Mas eu tinha tomado minha decisão, e agora meu destino me guiaria.

- A sociedade aguarda o portador do anel. - Gandalf disse, olhando para Frodo.

O hobbit hesitou, encarando-nos todos um a um. Seu olhar se demorou no meu, inseguro, ao que eu respondi com um firme aceno de cabeça, relembrando-o da conversa que tivéramos duas noites atrás. Ele pareceu recobrar a coragem, assumindo um olhar determinado.

Então, começou a se dirigir para fora dos portões de Valfenda. Mal havia passado pela porta, ouvi ele sussurrando para Gandalf.

- Mordor Gandalf. É a esquerda ou à direita?

- À esquerda. - O mago respondeu, sério. Eu apenas sorri.

Nossa jornada estava para começar. 

...

Já estamos viajando a alguns dias. Não encontramos nenhuma dificuldade no caminho até então, o que manteve nossos corações esperançosos, e o clima tranquilo. Eu estava animada com a perspectiva de uma nova aventura pela frente, depois de tudo que tinha passado com os anões. Sabia que logo iria me arrepender, mas no momento eu estava bastante em paz.

Mas ainda sim era diferente da última vez. Dessa vez, eu estava com Legolas. E isso era muito melhor, no fim das contas. Dessa vez, eu não precisava me provar para ninguém. Pelo contrário, as maiores expectativas caíam sobre os pobres hobbits, os quais eu não deixei de tentar ensinar alguma técnica de luta. 

Mas incrivelmente, Boromir tinha conquistado o coração de Merry e Pippin. Ele passava horas com eles, ensinando golpes de espadas, enquanto os hobbits fingiam atacá-lo. Me surpreendi ao ver esse lado dele, que nunca esperei conhecer.

Eu observava os dois hobbits executando os movimentos ensinados por Boromir. Eles já tinham evoluído bastante, apesar do pouco tempo. Eu não me surpreendi, já tendo visto antes como hobbits aprendem rápido quando se esforçam de verdade para algo.

- Mexa os pés. - Aragorn disse, notando que Pippin se mantinha enraizado no chão.

- Movimentos completos Merry, não pare no meio. - Eu disse, vendo como o hobbit seguiu meu conselho no mesmo momento, conseguindo ganhar um pouco de espaço.

Sam e Frodo riam num canto, observando os hobbits lutando. Legolas sentava ao meu lado, também observando a luta, enquanto Gandalf estava afastado, com seus pensamentos. Como sempre. A questão era que desde o dia anterior tentávamos decidir qual caminho tomar para continuar nossa jornada.

- Se alguém quer saber a minha opinião, que parece que ninguém quer, diria que estamos pegando o caminho mais longo. Gandalf, poderíamos passar pelas minas de Moria. Meu primo Ballin nos daria boas vindas dignas de reis. - Disse Gimli.

Pensei em Ballin. Ainda me preocupava que os anões não tivessem notícias dele a tanto tempo. Não podia negar que eu desejava ir por Moria, e poder me certificar de que ele estava bem. Mas algo me dizia, que se Gandalf não tinha sugerido irmos por lá antes, provavelmente havia algo errado. 

- Não Gimli, não passaria pela estrada de Moria, a não ser que não houvesse outra opção. - O mago respondeu, pondo fim a conversa.

De um salto, Legolas se levantou ao meu lado, seu olhar se voltando para as montanhas a oeste. Não prestei muita atenção, enquanto via Boromir acertar Pippin sem querer com a espada. Em meio aos risos, o hobbit deu um pontapé no maior, fazendo com que ambos os primos se lançassem sobre ele. Boromir ria, assim como Aragorn, que continuava observando a distância. Ele se levantou, e tentou separar os hobbits de Boromir com um "Já chega" divertido, mas foi lançado para trás, caindo de costas. Eu ri, arrancando um olhar acusatório de Aragorn.

Do nada, a voz de Sam me despertou, me deixando atenta.

- O que é aquilo? - Ele perguntou, olhando na mesma direção que Legolas se virara alguns momentos antes. 

- Nada. Só uma nuvem. - Gimli disse, despreocupado. 

- Está se movendo muito depressa. - Boromir disse, se levantando. - E contra o vento.

Eu olhei para a massa negra que se aproximava de nós. Com certeza não era uma nuvem. Parecia mais um bando de pássaros. Mas eu já tinha visto aquelas criaturas antes. Elas fizeram com que um alarme se acendesse na minha cabeça.

- Espiões de Saruman! - Legolas disse de repente, e foi quando eu finalmente reconheci as aves. O pânico foi imediato.

Boromir arrastou Merry para um esconderijo. Olhei para os lados e vi que os outros também se escondiam. Mas vi Pippin parado no lugar, como se não estivesse entendendo o que estava acontecendo. 

Eu corri até o hobbit, e o agarrei pelo braço, conduzindo-o até onde Boromir estava com Merry. Assim que ele entrou no esconderijo, olhei para o lado, e vi os pássaros mais perto ainda. Foi quando senti algo me puxando para um esconderijo.

No mesmo momento senti Legolas atrás de mim. Acalmei minha respiração, e me apoiei em seu peito, vendo o bando de pássaros passar sobre nós no mesmo segundo.

- Você ajuda tanto os outros que esquece de si mesma. - Legolas sussurrou no meu ouvido, sua respiração também ofegante.

- Que bom que eu tenho você pra me lembrar disso. - Eu disse, relaxando. 

- É. O que seria de você sem mim?

- Agora? Provavelmente um cadáver. - Eu brinquei. 

Cerca de um minuto depois do som dos pássaros ter cessado, saímos do nosso esconderijo, indo nos reunir aos outros do lado de fora.

- A passagem sul está sendo vigiada. - Gandalf disse. - Temos que pegar a passagem de Caradhras. 

Eu olhei para as montanhas cobertas de neve, e estremeci. Aparentemente, nossos problemas estavam começando.






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