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"Ache seu irmão" ela disse com um suspiro seu rosto ainda machucado mesmo após a curandeira "Acredite isso não irá durar muito, venceremos a guerra e você virá me buscar"

" Por acaso virou vidente?" Perguntei tentando trazer um sorriso ao seu rosto.

" Tenho fé, tenho fé em você"

As palavras de minha mãe ainda martelam em minha cabeça, e mesmo assim a culpa me consumia.

O ferimento em minha barriga, havia sido feito por Keft com a espada de meu pai. Era uma espada diferente, além de conter freixo, era feito de um ferro da Corte Estival, especialmente demorado de curar, e com minhas condições acredito que ainda demora mais a cicatrizar.

Tinha cinco dias que fugi, matei guardas naquela noite, e deixei meu suposto noivo de joelhos próximo a morte, apenas por orgulho, um erro considerando meu ferimento agora feito em um único momento de distração.

Preciso achar Lucien, sei que ele está na Corte Noturna, mas não sei onde, não consigo atravessar, estou muito cansada e fraca, e não sei para onde exatamente atravessaria.

Todas as cortes são fechadas, mas a Corte Noturna é mais, quase não se sabe nada sobre o território deles, e os espiões não entram lá, ou se entram não voltam.

Não me importa a crueldade, a maldade, toda a história e boatos que correm sobre aquela corte, ou seu Grão-Senhor, após a arte que a quebradora da maldição fez na primaveril, ela tem meu total respeito.

Embora o povo não tenha nada haver, Tamlim merece aquilo e muito mais, se não fosse por minha mãe ele já estaria morto, ele e meu pai deveriam ser parentes, ou talvez almas gêmeas, ou se mundo fosse justo seriam cadáveres.

Além de é claro aquilo que ele fez com a quebradora da maldição, parecia não ser de conhecimento de todos mas eu sabia, e se estivesse em seu lugar teria ligado o foda-se e o estripado.

O céu começou a escurecer, e os barulhos de trovões se tornaram altos, as nuvens escuras brilhavam em vermelho, como uma sincronia, enquanto os raios se movimentavam nelas, ansiosos pela devastação, a cada batida do meu coração tudo se tornava mais escuro.

Tentei acalmar meu coração, não poderia perder o controle e com certeza, não poderia continuar com isso, chamaria atenção. E com certeza Beron estava atrás de mim, apertei minhas unhas nos pulsos a fim de me concentrar e apagar a bagunça que estava dentro de mim, a tempestade raios pareceu se dissipar.

Ouvi um barulho na entrada da caverna, e me pus de pé na mesma hora, deixei a espada nas minhas costas e peguei apenas a adaga que Lucien me deu, me apoiei na parede e forcei meu corpo a ficar estável, e minha mente a trabalhar de forma coerente.

Eu tinha tomado banho ontem, e ainda havia restado água para hoje, mas não comia desde ontem a tarde. Isso pode ser ignorado, eu sou uma grã feérica, a mais poderosa dos meus irmãos, e já havia sido trancada em muitos buracos por meu próprio pai, eu sobreviveria.

Eu era uma sobrevivente a muitas décadas.

Está tudo totalmente escuro, mas eu podia senti-lo, tinha algo que me levava até ele, era estranho. O desconhecido estava com uma adaga na mão, quando ele chegou perto o suficiente avancei, minha adaga se chocou contra sua e rangeu quando ele deu um passo para trás.

Seus olhos pareceram brilhar, ele chutou minha barriga para trás e eu soltei um gemido de dor, se tivesse sido em cima do meu machucado eu o mataria, virei meu pulso com força e acertei a cara dele com o fundo da adaga o fazendo resmungar dando passos para trás.

Sete sifões azuis brilharam, iluminando toda a caverna, seus olhos percorreram todo o meu corpo, parando na minha ferida, a preocupação brilhou em seus olhos mas sumiu no mesmo momento.

-Está invadindo - a voz dele, me fez apertar ainda mais o cabo da adaga, sabia quem ele era.

O Encantador de sombras, um illyriano.

- Era a minha intenção, preciso ver meu irmão - respondi ele me analisou de cima abaixo novamente e eu dei outro passo para trás involuntariamente.

-E quem seria? - ele não baixa a guarda por um mísero segundo.

- Lucien Vanserra - falei enfática finalmente conseguindo uma reação em seu rosto, surpresa, completa surpresa e curiosidade.

-Lucien não tem irmãs

-É uma honra ser um segredo tão bem guardado, que nem você sabe.

Olho para baixo ao sentir algo gelado tocar minha mão, uma das sombras dele está se enrolando em meu braço de modo carinhoso, como se dissessem que gostam de mim. Ele encara confuso e sua testa se franze, aparentemente não consegue levar a sombra de volta, então me encara esperando o medo que não surge em meu rosto.

A máscara de indiferença volta a seu rosto em segundos.

-Prove - ele ordena.

Não me dou bem com esse tom.

Troco o peso da perna e respiro fundo.

- Se está se referindo a magia do fogo, ela é quase inexistente em mim - estico minha mão lançando uma pequena chama que faz uma pequena foqueira ali.

-Qual o seu poder, então?

-Talvez eu não tenha um - dou de ombros.

-Não sou idiota, posso sentir.

-Onde está meu irmão?

- Você não é confiável.

-Mas a raposa é? - questionei com graça.

Lucien era inteligente sempre fora, por isso nossa mãe costumava chamá-lo de raposinha quando criança, ela me chamava de dragãozinho, embora minha magia não fosse de fogo, quando eu ficava irritada e abria a boca, nem o fogo do inferno se comparava a ira que saia em minhas palavras.

-Ele parece muito mais confiável que você e é amigo de minha Grã-Senhora - dei uma risada divertida.

-Ao menos você não é burro - afirmei. 

Corte de raios e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora