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Ayanna

Comemos no quarto, quando terminamos de conversar, já era noite, falamos sobre tudo, cada uma das coisas que vivemos nesses setenta anos, as que nos machucaram, as que nos fizeram felizes, reviramos todo o passado um para o outro. Quando minha mente já estava pesada e meus olhos fechavam contra o meu gosto, Lucien me deitou e me cobriu, abriu a janela porque sabe que eu não consigo dormir com tudo fechado.

Preciso de uma corrente de ar no quarto.

Ele ainda estava ali quando eu amanheci, então não foi um sonho.

Ele estava literalmente sentado na ponta da minha cama me encarando, eu me levantei esfregando os olhos para afastar a sonolência, após me situar da realidade passei as mãos pela frente da cara do meu irmão e ele nem se moveu, decidida a acordar de verdade caminho até o banheiro.

Afundo naquela banheira e lavo cada parte do meu corpo com atenção, eu estava livre, estava longe daquele maldito castelo.

-Vai ficar aqui? Sabe da reunião dos Grão Senhores? - a voz de Lucien soou calma mais cansada e percebi que ele não dormira.

Ele com certeza tinha passado a noite em claro assimilando tudo, pensando em tudo, meu irmão sempre fora muito inteligente, e era muito bom em lidar com as políticas e jogos das cortes, fora primeiramente por isso que a besta das flores o aceitou inicialmente.

-Tenho uma amiga na Corte Diurna, posso ficar na casa dela. Está perguntando por que acha que eu devo ir?

- Pelo Caldeirão, pelo contrário! De jeito nenhum pode encontrá-lo, ele faria uma guerra se soubesse que outra corte a acolheu. E nas condições atuais...

-O que sabe sobre Hybern? - questionei assim que sai do banheiro secando meus cabelos.

- O que você sabe? - ele perguntou de volta.

- Raposa ardilosa! Eu sei que eles têm o caldeirão. Sei que a besta mais acima fez um acordo com ele pela quebradora da maldição e teve sua corte derrubada. Sei que eles trouxeram Jurian de volta a vida, e sei que algo aconteceu envolvendo as irmãs da Grã Senhora - ele olhou para mim surpreso - Peguei o Suriel quando fugi, quase morri congelada por isso.

Ele riu.

-Elas foram sequestradas, e depois as jogaram dentro do caldeirão, elas estavam apenas de camisola - ele sacudiu a cabeça e pegou um pente começando a passá-lo em meus cabelos - Elain mal come, tem saído mais do quarto desde que Feyre voltou, e a outra se colocou em um pedestal intocável mas está quebrada por dentro.

-Você gosta dela?

- Não tive a chance de conhecê-la, então acho que o que eu sinto não tem nada haver comigo, mas sim com qual seja a magia que nos une - ele falou meio incerto.

-Eu não quero isso - ele parou de pentear meus cabelos me virando para que o encarasse - É injusto, eu sequer conheço a pessoa e ela passa a ser meu mundo, o amor da minha vida? Eu não quero viver presa a ninguém, e não quero que ninguém viva preso a mim - explico em um suspiro - Exceto você, você está amarrado e costurado a mim pela eternidade.

Um pequeno sorriso brota nos lábios dele, então ele se joga na minha cama olhando para o teto enquanto eu me visto.

-Conte logo - incentivo voltando ao quarto.

- O que? - ele pergunta se fazendo de sonso.

- Nós não nos conhecemos ontem Lucien!

- Tenho uma missão no continente, vou partir nesta tarde.

Meu corpo automaticamente se vira em um 360°, e eu pisco duas vezes para ter certeza que minha mente captou a informação correta.

- O que raios você vai fazer na terra dos humanos?

- Você fala humanos como se fosse um xingamento.

- Idaí? - ele fez uma cara incrédula - Eu não gosto de gente Lucien, eles serem humanos é apenas mais um adendo, são frágeis e sem graça.

- Essa não é a história toda - ele afirma.

-Filhos dos Abençoados - eu falo irônica e ele se senta -São chamados assim porque nos idolatram, a maioria acreditam que são doidos. Eu faço parte dessa maioria. Primeiro que no meu ver somos todos amaldiçoados, eu comecei o treinamento logo depois que você se foi, e de alguma forma os humanos idiotas chegaram à clareira e... Eu estava fazendo um tempestade Lu, eles ficaram admirados e decidiram se aproximar, morreram em menos de um minuto, estavam carbonizados no chão, quando eu finalmente consegui me conter. Logo a culpa é deles por não terem o senso do perigo e responsabilidade, espero que estejam sofrendo por me fazer carregar esse peso, espero que sofram muito.

- A culpa é obviamente deles - ele afirmou.

-Exatamente - exclamei com os braços erguidos.

Ele me envolveu em um abraço quente antes que eu me afastasse.

- Muito contato físico - resmunguei e ele riu - Tenho que me acostumar à solidão e ao frio já que irá me abandonar - dramatizei e ele revirou os olhos - Uma hora seu olho não volta, e eu vou rir muito, raposinha. 

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2022 ⏰

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