06

507 75 5
                                    

Ayanna

Depois de comer, Azriel ficou na sala, se comunicando com seus espiões enquanto lia um livro.

Ele estava em uma poltrona bem folgado, com um livro na mão as asas repulsavam em suas costas descansadas, e como em um maldito romance, o sol o favorecia totalmente me dando uma visão que deveria ser eternizada.

- Você está me encarando.

-Te incomoda? - ele não respondeu - Vou continuar encarando.

- Eu estou ciente de minha beleza...

- É claro que está, é exatamente por isso que eu estou olhando, e não vai me ouvir falar isso outra vez. Agora fica calado, você estava mais bonito.

- Fêmea abusada.

Voltei minha atenção ao livro que estava em minhas mãos, mas simplesmente não conseguia focar nas letras, Lucien chegaria a qualquer momento. E como se ouvisse meus pensamentos uma voz conhecida soou incrédula.

-Aya?? - havia certo desespero em sua voz como se implorasse para que não fosse uma miragem.

Percebi que ele fora pego de surpresa, não sabia o motivo de estar aqui, até me ver.

Eu já estava de pé o analisando, tínhamos o mesmo tamanho, o cabelo dele era um vermelho vibrante, a cicatriz como minha mãe contou, o olho de metal dourado, expressão cansada, os olhos opacos e quase desistindo da luz.

Meu coração apertou.

- Oi raposinha.

Ele deu um sorriso genuíno quando disparou em minha direção, seus braços me apertaram e seu cheiro me invadiu, ao mesmo tempo que lágrimas surgiram em meus olhos.

Os outros saíram para nos dar privacidade, o apertei ainda mais, desejando demonstrar tudo que estava engasgado em minha garganta, minhas lágrimas finalmente descendo silenciosas por meu rosto.

- O que você está fazendo aqui? O que ele fez? Como está a mamãe? - ele disparou assim que seus olhos passearam por mim, ele fez uma careta para o machucado mas não me deu chance de responder quando me puxou para um abraço de novo, me apertando ainda mais.

- Raposinha eu preciso respirar - ele me soltou e nos observamos por algum tempo absorvendo as mudanças.

- Eu me lembro de que decidimos em consenso esquecer este apelido - ele afirma fazendo uma careta mais ainda sorrindo.

- Eu não me lembro disso - digo cínica

- Tudo bem dragãozinho - ele fala rindo antes de me puxar para sentar, ficamos nos encarando sem falar nada.

-Como fugiu?

- Pela passagem do quarto da mãe.

- Porque fugiu? - sua mão acariciava meu cabelo e meu coração se encantava com seu carinho.

-Porque sou inútil lá - ou em qualquer lugar para ser exata, Lucien me encara esperando pela verdade, ele ainda me conhece - Ele queria me casar com Kalil.

Meu irmão fez uma careta, seu olho range com a raiva que agora transbordava em seu olhar.

- Temos que tirar ela de lá Lucien.

O olhar do meu irmão ficou perdido, e ele parecia se concentrar em respirar.

- Ela disse que vamos vencer a guerra, e depois disso eu vou voltar e tirá-la de lá. Como ela ainda consegue acreditar?

Ele me abraçou de novo quando viu minhas lágrimas, e assim como a dele brilhava em sua pele, coloquei minha cabeça na curva do ombro dele enquanto ele me acalmava, e ele fazia carinho em minhas costas.

-Eu não acredito, que está aqui - ele comenta inspirando o ar gelado - Pensei que nunca mais a veria.

- Eu sabia que eu daria um jeito de te encontrar - falei com um sorriso

- Não suba sua guarda para mim.

- Você tem uma parceira, como ela é? - na mesma hora eu vi seus muros subindo e seu olhar ganhando um misto de arrependimento e tristeza - Não suba sua guarda para mim, raposinha.

- É complicado.

- Temos tempo, vamos pro meu quarto.

- Já montou acampamento aqui?

- O morcego encantador gosta da minha presença - vi meu irmão ficar tenso e sorri - Não seja bobo, é papel de Eris.

Abri a porta do quarto que Az havia me mostrado depois do café, era grande e decorado com cores peroladas e azul, era lindo, tinha uma janela grande que dava para uma pequena sacada, estava tudo ainda bem arrumado, com exceção do banheiro, que eu já havia utilizado.

- Vamos me conte tudo.

- O nome dela é Elain, ela é irmã de Feyre gosta de jardins e plantas, mas ultimamente parece uma casca sem vida. Ela tinha um noivo do outro lado, e o amava, mas o mesmo odeia feérico e o pai também nos odeia mais que tudo. Ela não me deixa se aproximar, sequer dirige o olhar para mim, e parece tão perdida e se afundando cada vez mais e não posso fazer nada.

Meu coração se apertou, eu entendo que ela esteja sofrendo, não faço ideia da dor que ela sente, mas sei que é horrível, ouvi a história do que aconteceu em Hybern.

Puxei meu irmão para uma abraço e ele prontamente apertou minha cintura, seu rosto apertado contra o meu peito, enquanto eu permitia que ele desabasse, como nunca havia feito desde a última vez que nos vimos. Sabia que Lucien jamais se abriria deste jeito com nenhum outro, e considerando aqueles que o rodeavam ele apenas estava se afundando dentro dele, meu irmão.

Xinguei contra mãe e qualquer outro deus antigo, meu irmão tinha uma alma boa, genuinamente boa, e não merecia tudo que já sofreu.

-As coisas vão se acertar raposinha.

- Você diz isso desde que tínhamos vinte e Beron nos bateu pela primeira vez, olha onde chegamos. Fala da mamãe mas tem a mesma esperança tola.

-Não me chame de tola - ralhei - E eu aposto meus cabelos que você vai encontrar felicidade, e sabe o quanto amo meus cabelos - ele riu com seu corpo ainda apertado ao meu - Me recuso a viver em um mundo onde você não seja feliz, já passou por muita coisa e vou garantir isso.

-É uma promessa? - ele perguntou levantando o rosto para me olhar os olhos.

- É um promessa de fogo, raposinha - no mesmo momento senti a queimação na parte interior do meu pulso onde uma raposa pequena ficou marcada - Nem que eu precise fazer uma fila de fêmeas e machos na sua porta até que você encontre alguém, ou que você se acerte com sua parceira.

Ele riu mas depois me olhou indignado.

- Não faça essa cara se nunca provou das duas frutas está vivendo errado irmãozinho - ele ficou corado na mesma hora e eu ri - Como foi? Você gostou? - ele ficou ainda mais vermelho e eu inclinei a cabeça para trás gargalhando, ele me xingou saindo de perto de mim.

Promessa de fogo, era algo que eu e Lucien fazíamos desde pequenos, era comum em nossa corte, a marca ficava em nossa pele até que a promessa fosse cumprida. 

Corte de raios e sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora