Azriel
A fêmea realmente me intrigava, ela era forte e mesmo machucada parecia ser capaz de muito. Seus olhos me encaravam com uma determinação impassível, esperei que tivesse medo das sombras, mas ela não teve, não teve medo de mim.
Além do fato de minha boca não obedece meus pensamentos e continuar a falar quando eu deveria ficar calada.
Ela tinha uma presença que era impossível ignorar, o poder reverberava em sua presença.
Estava sobrevoando aqui, quando vi uma tempestade de raios se formar, algo dentro de mim me puxou mais para baixo, e de repente a tempestade simplesmente sumiu, então encontrei ela na caverna logo embaixo da montanha.
Mesmo com a luz fraca dos sifões pude observá-la, ela era uma guerreira, tinha corpo de uma, posição, e inteligência. Seus cabelos eram vermelhos mais bem escuros que se assemelha ao vinho, ela estava vestida em um couro de treino, tinha sua barriga enfaixada, um machucado com freixo, e algo mais que não consegui identificar.
E claro, não estou na presença dela nem a cinco minutos e já sei que ela é, egocêntrica, mandona, irônica, perigosa, arrogante, e tagarela.
Rhys pediu para levá-la a casa na montanha, e agora eu estou estudando como dizer que terei que carregá-la até lá voando.
- O que? Ficou assim tão ofendido por eu achar que era burro - ela diz cruzando os braços, e continuo a encara-la -Tem como você falar alguma coisa? - ela perguntou estalando os dedos na minha cara e reviro os olhos.
Era impossível ficar calado, ela não parecia conhecer as virtudes do silêncio.
- Vou levá-la até meu Grão Senhor - aviso e viro as costas saindo da caverna.
Ao olhar para trás percebo que ela ainda está parada de braços cruzados, e uma cara entediada, evito revirar os olhos e caminho de volta.
-O que foi?
-Pode esperar até amanhã?- ela pergunta e a olho confuso.
-Por que?
- Por que neste momento estou machucada, e me esforcei demais, não conseguiria dar dez passo - ela diz e se senta.
-Vamos voando.
- Com certeza não - ela diz com os olhos arregalados.
Respiro fundo e pergunto -E por que não?
-Primeiro tenho medo de altura, segundo não vou voar com um morcego, terceiro não é uma boa ideia voar comigo com uma tempestade se formando, posso sem querer fritar você - ela fala enumerando com os dedos - E não seria nada legal, porque além de eu despencar de lá de cima, eu ainda demoraria mais para achar meu irmão, e é claro teria que dar um jeito em seu corpo.
Olho para ela com irritação, a mesma apenas dá de ombros e se ajeita onde está sentada.
-Ou voa comigo agora, ou vou agarrá-la pelo braço e jogar fora de nosso território - falo e ela ri com escárnio.
Dúvido - uma sombra fala em meu ouvido seguido de uma risadinha conjunta.
- Eu duvido que faça isso - ela fala agora deitada - Além disso, sei quem são seus Grãos Senhores e não aparecerei na frente deles, sem ao menos poder andar. Então pode esperar até amanhã?
O que tem de bonita, tem de insuportável.
-É tão arrogante, vaidosa, estúpida e ridícula assim? É capaz de morrer esta noite.
- Vamos por partes, sim eu sou vaidosa, sou arrogante, às vezes estúpida. Você deve ter algum problema porque é impossível eu ser ridicula - reviro os olhos e xingo mentalmente - Não irei morrer esta noite, estou me curando.
-Como se machucou? - ela olhou para mim pensando se falava ou não, o que me surpreendeu não achei que ela fosse capaz de ficar calada.
-A espada de meu pai é feita com um pouco de freixo, o ferro da Estival e tem um veneno que diminui a velocidade da cura, vai melhorar em breve.
-Alguma criatura da floresta pode matá-la.
-Algo me diz que você vai está na porta da caverna antes que ela posso tentar, então encatador de sombras promete não me matar? Eu realmente preciso dormir depois de todos estes dias de viagem.
Ainda a encaro buscando a paciência que não me foi dada pela mãe.
-Promete não me matar? - ela pergunta novamente.
- O que te faz pensar que vou ficar aqui?
-Além da curiosidade em seus olhos, eu apenas sei - ela olhou para mim como se pudesse me ler completamente, e me arrepiou.
E ela podia percebi.
-Durma.
-Promete não me matar esta noite? - a encaro com tédio - O que custa você falar? São apenas sete letras.
-Prometo - assim que falei ela sorriu convencida e se aninhou confortavelmente.
Ela realmente dormiu, imaginei que ficaria acordada e não confiaria em mim, eu não confiaria em mim. Mas ela dormiu, e parecia realmente precisar disso, não precisou sequer cinco minutos de silêncio até que a respiração dela se tornasse calma e pesada.
E ela tinha razão, eu estava curioso, para saber quem ela é, qual o seu poder, como se manteve escondida por tanto tempo, porque Lucien nunca falou que tinha uma irmã, porque me sentia ligado a ela e precisava estar perto.
São perguntas demais.
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Corte de raios e sombras
Fantasy{ EM BREVE} A irmã gêmea de Lucien, ano após ano presa a corte outonal, com um poder diferente de tudo já visto. Acontecimentos a colagem num caminho de fuga, primeiro para encontrar seu irmão, e segundo porque a guerra está próxima e ela sabe que...