Cap. 12. Ethan

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Não sei aonde estava com a cabeça quando prometi que iria ajudar aquela menina. O universo conspira de uma forma inexplicável, ela tinha que ser filha justamente da Aurora?! Sabia que aqueles olhos me lembravam alguém. Não posso deixar de ir, vou decepcionar Liz se não aparecer no sábado. Sou um homem de palavra, prezo muito isso para voltar atrás. E também terei a oportunidade de questionar Aurora sobre sua partida. Desconfio que minha mãe esteja certa, que Aurora conheceu alguém e não teve coragem de terminar. Mas algo não bate, a menina parece ter uns seis, sete anos. O mesmo tempo que ela se foi. A pergunta que insiste em aparecer em minha cabeça é: será que Liz é minha filha? Se for, por que Aurora escondeu isso de mim? Conheço Aurora a tempo demais para saber que ela não faria isso sem um motivo. Ou será  que não a conheço tão bem assim. Se tem algo que minha profissão me ensinou, é que devo seguir meu instinto. E meu instinto diz que tem algo muito errado nessa história. Meus irmãos e eu estamos no escritório, na fazenda. Aqui é um dos únicos lugares que podemos nos reunir sem sermos interrompidos. Oliver optou por continuar morando na fazenda, Theo e eu optamos por morar na cidade. Mas estamos sempre reunidos aqui.

-Você precisa conversar com ela. Se a menina for sua filha, você tem todo o direito de saber e fazer parte da vida dela.

-Oliver tem razão Ethan, e se eu tenho uma sobrinha, tenho direito de saber. Que bom que um de nós já tem filhos, não preciso me preocupar em ter herdeiros. -Theo se anima.

-Não seja idiota, nem sabemos se ela é minha filha. E não pense que vai fazer minha filha de herdeira. Vai procurar fazer sua própria filha. -Acabo caindo em contradição comigo mesmo.

-Não vamos ser precipitados, primeiro você vai tirar essa história a limpo. E quando tivermos certeza que ela é sua filha, vou passar todos os meus bens para o nome dela. Uma herdeira só é o suficiente para nós. -Mas que cara de pau esse Oliver.

-Vocês são dois idiotas, não sei por que ainda perco meu tempo pedindo conselho pra vocês.

-Porque você nos ama, mesmo que sejamos idiotas. -Theo argumenta. E no fundo pode ser verdade.

-Talvez. Tenho que ir, Samanta já me ligou várias vezes.

-Quando ela souber que você tem uma filha, vai pirar. -Oliver diz.

-Vai mesmo. Do jeito que ela é louca, é capaz de criar uma guerra.

Os ignoro e saio da casa. Sei que eles estão certos, Samanta é instável e dramática. Mas não vou permitir que ela prejudique minha relação com minha filha. Minha filha! De alguma forma, já me sinto pai daquela garotinha.
...

Acordo cedo no sábado, pro meu alivio Samanta resolveu ir passar o final de semana na mãe dela em Valadares. Ela insistiu para que eu fosse, mas disse que tinha muitas coisas para resolver na delegacia e não poderia ir. Não gosto de mentir, mas nesse caso, se falasse o que realmente iria fazer, ela surtaria. E estou ficando sem paciência para os chiliques dela. Arrumo algumas coisas, pago algumas contas pelo aplicativo, envio alguns e-mails, faço uma comida rápida para o almoço. E mesmo fazendo tudo isso, ainda são dez horas da manhã. Não costumo ser um cara ansioso, mas que merda está acontecendo que a hora simplesmente não passa?! Resolvo entrar nas redes sociais e um dos assuntos mais comentados é sobre um livro que está sendo postado em um aplicativo de livros online. São tantos comentários que resolvo baixar o aplicativo para ler o tal livro. Leio muitas coisas, mas romance definitivamente não faz parte do repertório. O livro que na verdade é uma trilogia, retrata a vida de três irmãos russos. Começo a ler o primeiro livro que é sobre o irmão mais velho.
Quando vou conferir a hora, já passa de meio dia. O livro é realmente bom, muito bem escrito e prende nossa atenção. Prende tanto que nem vi a hora passar. Procuro saber sobre a autora do livro, Aura Simões. Por coincidência é o mesmo sobrenome de Aurora. Entro na rede social da autora, mas não tem nada demais sobre ela. Somente sobre seus livros. Resolvo deixar o celular de lado e vou almoçar. Depois de almoçar, tomo mais um banho e parto para a fazenda. No rádio toca paralamas do sucesso, e sinto uma nostalgia dos tempos que percorria o mesmo caminho para ver Aurora, quando erámos jovens. A primeira coisa que ela fazia quando entrava no carro, era ligar o rádio e aumentar o som. Ela sempre gostou de músicas antigas, dificilmente ela ouvia alguma música muito atual. Sempre brincava com ela, dizendo que ela tinha uma alma velha. Balanço a cabeça tentando de alguma forma limpar essas lembranças. Dez minutos depois estaciono na frente da fazenda. Aurora e Liz estão sentadas na varanda lendo um livro. Liz se levanta e vem em minha direção.

-Oi tio Ethan, eu sabia que você viria.

-Dei minha palavra. Estão lendo o que? -Pergunto, enquanto andamos de volta para a varanda. 

-Patinho feio. Minha mãe tem esse livro desde pequena, meu avô comprou pra ela e agora ele é meu.

-Isso é muito legal. Boa tarde Aurora, espero não estar atrapalhando.

-Não está. Vamos até a biblioteca. -Ela se levanta e entramos na casa.

-Seus pais não estão? Tem tempo que não vejo Afonso.

-Não, eles estão na cidade ajudando com os preparativos da festa.

Entramos na biblioteca, Aurora sempre amou livros e Afonso fez questão de montar uma linda biblioteca para ela.

-Separei uns livros sobre leis que eu tenho. Acho que vai ajudar. -Ela aponta uma pilha de livros em cima da mesa.

-Vem tio, vamos ler os livros.

Acho graça da empolgação de Liz.  Só agora me dou conta de como vou ensinar pra uma criança de sete anos, coisas que até um adulto tem dificuldades de entender. Aonde eu me meti meu Deus!

Recomeço Onde histórias criam vida. Descubra agora