2.

6 0 0
                                    


Abro meus olhos lentamente e percebo que estou em uma sala branca. Uma sala branca que se parece uma versão estranha do meu quarto, como se alguém tivesse jogado latas de tinta branca nele.

Não sinto dor e muito menos lágrimas pesadas. Ainda estou com meu figurino e consigo ver a mancha de sangue enorme, sinto um arrepio. Escuto a porta branca à minha frente abrir e também sinto medo. Uma moça que aparenta estar na casa dos 40 ou 50 anos entra e sorri pra mim.

— Seja bem-vinda! — Ela diz entrando e parando na minha frente.

— Obrigada... mas bem-vinda aonde exatamente? — Pergunto confusa.

— Oras... aqui. — Ela diz como se parecesse algo muito claro.

— Eu... estou no... céu? — Pergunto confusa.

— Oh... não querida. — Ela diz com as mãos atrás das costas.

— Onde estou? — Digo com os olhos cheios de lágrimas. — E quem é você?

— Me chamo, Eva. Prazer! — Ela diz sorrindo. — E você está no meio termo. Nem no inferno e nem no céu. Você esta em um lugar temporário. — Ela diz calmamente.

— Como assim? — Pergunto me sentando na cama que se parece muito com a minha.

— Okay... vou tentar esclarecer as coisas. — Ela diz agora segurando uma pasta que surgiu do nada. Tento não parecer impressionada, mas acho que minha cara me entrega, pois vejo ela sorrir. — Você, Fátima. Morreu e agora se encontra no meio termo. O meio termo é um lugar temporário para almas que precisam acertar algumas coisas na terra. — Ela diz andando de um lado para o outro. — Algumas almas moram aqui temporariamente até conseguir arrumar as coisas. Você vai ter vizinhos, mas não pode conversar com eles fora daqui, seus assuntos não devem interferir um no outro, precisam arrumar a bagunça sozinhos. — Sinto o mesmo arrepio de antes novamente.

— Okay, mas como vou arrumar "as coisas" — Digo fazendo aspas com os dedos. — Sendo que estou morta?

— Você vai descobrir. — Ela joga uma piscada. — Este quarto é uma cópia fiel do seu na terra para tentar deixar você o mais confortável possível. Se precisar de ajuda ou de uma amiga, eu sou como o seu anjo da guarda, só me chamar! — Ela sorri e me sinto um pouco mais calma.

— Como saio daqui e volto para a terra? — Digo.

— Sobre isso... é só você imaginar alguém ou um lugar, estalar os dedos e pronto. — Ela diz. — E falando em alguém... você tem uma lista das pessoas que você precisa se resolver com elas, para sabe... ir para o céu ou para o colo do capeta. — Ela diz rindo.

— Onde está minha lista? — Assim que pergunto sinto um papel nas minhas mãos.

Ravena... Bill?? E meu... irmão?? Não. Não.

— A Ravena eu consigo entender, mas os outros dois... não entendo. — Digo apontando para a lista.

— Você vai descobrir tudo no seu devido tempo. Seu caminho já está traçado, basta você seguir as migalhas de pães e ir até ele. — Ela diz abrindo a porta. — Ah, quanto mais você demora pra se resolver, mais vai demorar para você descansar em paz. — Balanço minha cabeça ainda um pouco confusa. — Troque sua roupa, querida. — Ela diz sorrindo fraco. — Tente fazer amigos, mas lembre-se: Apenas aqui. — Ela diz a última parte séria.

Sinto lágrimas se formarem e mesmo com ela no quarto me permito desabar no chão. Eu devo estar em coma, isso não é real, essa merda não existe, estou sonhando... ou delirando.

— Meu amor.... — Ela chega perto de mim e se ajoelha. Sinto suas mãos macias em meu cabelo. — A morte é só mais uma parte da vida. — Ela diz secando minhas lágrimas.

— Não entendo... ele me matou Eva... eu só queria saber... — Ela me interrompe.

— Você vai descobrir, confie em mim. — Ela diz me oferecendo a mão e me ajudando a me levantar e me recompor. — Aproveite sua estadia aqui. Qualquer coisa me chame, okay?

— Okay... e obrigada. — Digo enquanto vejo ela sair sorrindo uma última vez pra mim.

 — Digo enquanto vejo ela sair sorrindo uma última vez pra mim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Vivendo após a morte: Em busca do paraíso Onde histórias criam vida. Descubra agora