Capítulo 10- Luz ao Horizonte

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ALINA POV

Alina, acorde, eles chegaram. — Kalya me diz, enquanto me balança, me acordando. Olho para a cama ao meu lado mas Inej não está lá. Kalya deve ter visto minha expressão pois antes mesmo de eu perguntar onde Inej estava, ela já me responde— Ela acordou algumas horas depois que você voltou a dormir, está agora com os rapazes tomando um chá na cozinha.

Ela sai do quarto e me deixa sozinha, para ir no banheiro. Me arrumo sem pressa, ainda tinha muitas dores. Saio do quarto e escuto vozes. A primeiro momento não reconheço a voz nem compreendo o que estão falando, mas conforme me aproximo mais da cozinha, escuto.

Ela não precisava salvar sua vida. Ela irá querer algo em troca.

Não... fale isso Kaz. — a voz de Inej é baixa, claramente ainda estamos fraca— Ela é boa.

Ninguém é assim tão bom/boa.

É sim! — diz Inej aumentando seu tom de voz— Ela é uma santa, MINHA santa! Santos são bons, enviados para fazer o bem, de graça, sem nada em troca. E essa santa veio para nos salvar da maldição.

Nada na vida é de graça, há sempre um preço a pagar, sabe disso! Seu irmão....— ele parece ter dito algo que não devia já que logo se cala.

KAZ! Ei, vocês dois, parem de gritar, se não...—Jesper interrompe a tensão no ar entre Kaz e Inej.

Se não o que? Eu poderia ouvir?— pergunto, fazendo minha presença ser notada, e os 3 olham para trás.— Eu ouvi, então não precisam mais parar de falar. Continuam. Façam as perguntas e acusações na minha cara.— há um silêncio combinado com tensão palpável no ar que dura apenas alguns segundos, já que o manco se impõe.

Por que salvou a vida dela? Porque do bem do seu coração não foi, sempre há uma troca, um preço...— ele grita comigo, me fazendo perder a paciência.

ACHA QUE NÃO SEI?! — me exalto— VOCÊ NÃO SABE NADA DA MINHA VIDA, NADA! NÃO SABE O INFERNO QUE PASSEI NAQUELE LUGAR MALDITO, NEM O QUE PASSEI ANTES DISSO. — respiro fundo, tentando me acalmar. Levanto minha camiseta, mostrando minha barriga e todas as marcas que agora tem nelas— É fácil julgar apenas o que se pode ver. A salvei porque tenho certeza que foi ela quem quis me salvar, ela que deve ter tido a ideia de me buscar, ela nunca quis me deixar lá; era o mínimo que eu poderia fazer por ela.

Ao parar de falar, vejo que os dois homens estão sem palavras, talvez ainda processando tudo, talvez em choque ou talvez procurando uma resposta de volta. Inej, no entanto, não parece surpresa pelo motivo que lhes dei, na verdade, parece deslumbrada, como se fosse confirmado tudo que pensara. Ela agradece com um movimento de sua cabeça e decido que é hora de voltar para o quarto.

Chateada e cansada com o que acaba de acontecer, resolvo tomar um banho. Kalya me limpou quando cheguei, mas agora seria minha primeira vez me banhando em semanas, eu mesma, vendo cada traço do meu corpo.

Abro a torneira e deixo a agua encher a banheira um pouco. Me despido, de frente ao espelho, mas de olhos fechados. Quando finalmente tomo coragem, olho para frente e vejo onde cada nova marca está, sua profundidade, extensão, 'rota'. Consigo ver minhas novas companheiras por todo meu corpo, algumas vendo pela primeira vez, já que não conseguia olha-las sem o espelho.

Entro na banheira enquanto lágrimas começam a se juntar em meus olhos, me afundo na água morna, e quando volto, sinto um aperto no peito. Sem conseguir me segurar, solto uma rajada de luz tão forte quanto a dor que sinto.



DARKLING POV

Depois de meu encontro no campo com otkazat'sya, volto a meu quarto, e apesar de não querer, resolvo dormir um pouco, já que o cansaço me toma. Me arrumo e deito na cama, fecho os olhos e espero a escuridão me tomar, mas não é isso que acontece. Em vez disso me vejo como se tivesse andando em meio ao um túnel, com fumaça por todo lado, mas tendo um ponto de luz lá no final. Uma mistura de emoções me domina, esperança, felicidade mas também desespero, tristeza e solidão... me identifico com esses últimos sentimentos mas não sei de onde vem os outros, por isso decido seguir e ver de onde veem.

Conforme ando em direção ao ponto de luz, mais os sentimentos vão ficando intensos e o caminho mais difícil, com o chão rachado, buracos por ele, me fazendo desviar de cada obstáculo. Sinto também o túnel ficando mais úmido, e escuto o que parece ser água sendo contida, tendo seu caminho obstruído. E apesar de eu estar caminhando em direção ao ponto de luz, ele não parece ficar maior, nem mais forte, algo que estranho.

Chegado ao fim do túnel, há uma parede de pedras, onde através de uma fissura, a luz passa, assim como o som da água que eu estava escutando. Algo me atrai para o outro lado dessa parede, então tento tirar as pedras, tentando achar uma passagem. Quando finalmente consigo abrir caminho, luz e sombras se misturam, o barulho da água é claro como o som da minha própria voz, e vejo.... Vejo mais a frente, uma pessoa sentada em meio a esse maravilhoso caos, dou um passo em sua direção e ela olha para mim.

Acordo sem explicação, não estou assustado, e não há ninguém nem nenhum barulho que possa ter me acordado. Quero voltar àquele sonho, ver quem era aquela pessoa, o que era aquele lugar, mas sei que não conseguirei.

Me levanto, caminho até a janela e percebo já ser final de tarde, está escuro, me pergunto quanto tempo dormi. Contudo essa pergunta deixa de habitar minha mente quando eu vejo no horizonte ao longe, uma linha de luz forte, como se o Sol tivesse ressurgido por alguns momentos. É Alina, eu sei, simplesmente sei.

Não perco um segundo, ponho meu kefta, saio do quarto, e percebo que mais ninguém deve ter visto a luz, já que a única comoção que consigo encontrar, vem de mim mesmo. Subo em meu cavalo e vou encontrar quem me foi tirada.




Dois capitulozinhos pra compensar a falta da semana passada. Enjoy 😊
fanlualau

A Luz Que QueimaOnde histórias criam vida. Descubra agora