Os Detetives.
Após o Menino ter se apresentado, prosseguimos jogando conversa fora, e em um determinado momento, no meio da jogatina, ele me convidou para ir em um fliperama local que se localizava atrás da Câmara de Vereadores, perto da praça de alimentação, uma área repleta de trailers que vendem lanches como hambúrgueres e pizzas.
- Poxa, você é muito legal - disse o Menino J, com muita simpatia.
Esse elogio me deixou bastante empolgado, naquele dia, aquelas poucas palavras trocadas com um garoto que acabava de conhecer, conseguiram aquecer o meu coração de uma maneira ímpar. Durante muito tempo, me sentia desestimulado para fazer qualquer tipo de amizades, com tantas mudanças, tantas cidades diferentes, residências diferentes, a minha vida havia se tornado fluida e líquida, não conseguia criar raízes em qualquer lugar que fosse por conta do trabalho do meu pai, então desenvolvi uma barreira gigantesca em meu psiquê, que me impedia de firmar qualquer tipo de amizade. Por outro lado, me achava excêntrico demais, nerd demais, otaku demais, e não conseguia me identificar com qualquer pessoa. Não sei se era um sentimento egoísta de me sentir único e diferente, e que ninguém seria capaz de me entender, ou que se tratava de uma busca incessante por uma identidade única, atitudes comuns de início de adolescência. Entretanto, naquele momento que visualizei o Menino, jogando Mu Online, e reclamando de KS naquela máquina de computador, pude imediatamente me identificar com ele - é uma pessoa igual a mim - pensava, diversas vezes, e em toda nossa conversa até o convite para o fliperama, fiquei deslumbrado com uma ideia que já não circulava na minha cabeça fazia algum tempo: Ter um amigo.
Seguimos com nosso diálogo.
- Você topa ir na Dark Souls? - perguntou o Menino, empolgado.
- Dark Souls? Que diabos é isso? - perguntei, por que de Caravelas só conhecia a praia e a minha casa.
- Ah foi mal - se desculpou, cabisbaixo - esqueci que você é novo na cidade.
- Tudo bem, não esquenta - respondi, tentando tranquilizar o nativo eufórico, pela minha ignorância turística - mas me fala aê que eu vou.
- Dark Souls é o único fliperama que tem aqui, tem bastante jogos por lá, fitas de super nintendo, máquinas de arcade e fiquei sabendo que hoje chegou um playstation 2!
- Playstation 2? Sério? - urrei, na época esse videogame era o maior da geração.
- Sim! SIM! Fiquei sabendo que tem uma galera, e lá está lotado, todo mundo querendo ver os gráficos de última geração, deixei de merendar três dias só para conseguir jogar.
- Caramba! Também sou doido para jogar playstation, mas gastei todo meu dinheiro aqui na lanhouse, se não eu ia com você - respondi, na expectativa de um convite.
- Não tem problema, eu pago duas fichas para você jogar comigo!
- Sério? - disse feliz, pelas expectativas atendidas.
- Sim! Vamos lá?
- Agora?
- Bora moço! - apressou.
Assim, em um começo eufórico de amizade, eu e o Menino partimos da lan house para o fliperama, sem nem ao menos terminarmos as horas restantes de uso dos computadores. Atravessamos a rua sete em direção à Câmara de Vereadores para chegar na fatídica casa de jogos chamada Dark Souls. e durante o percurso, conversamos sobre diversos assuntos em comum, descobri que assim como eu, ele gostava de jogar Magic e Yu-Gi-Oh!. Dividíamos gostos similares por animes, desenhos, filmes e histórias em quadrinhos. Estava empolgado, naquele dia eu havia feito um amigo, e pela primeira vez em anos, não iria me sentir mais sozinho. Ficar isolado em casa mexendo no computador, não seria mais uma triste realidade em minha vida.
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Um Lobisomem em Caravelas.
LobisomemEm plena pandemia, em um momento de isolamento, Sabino começa a relembrar do passado através de um álbum de fotos de sua infância, no município de Caravelas, durante o início da década de 2000. Uma foto em particular, o faz despertar memórias em rel...