Capítulo 8

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O quarto de Uraraka não é como eu esperava. Achei que as paredes estariam cobertas por pôsteres do Tim Burton, de Vampiries Diaries, desenhos góticos, esse tipo de coisa. Em vez disso, é cheio de luz e de vida. Há plantas por toda parte. Reconheço cactos, aloe vera, girassóis, lírios-tigre e narcisos, ervas que a gente veria no deserto e em lugares com clima tropical. Passa pela minha cabeça que não sei nada sobre Ochako, nem mesmo de onde ela é.

— Você é jardineira? — pergunto, meio sem motivo.

— Bem, isso não é exatamente um jardim. Mas realmente gosto de plantas. Essas foram todas mudas de casa. Casas.

Ela inclina um regador em um vaso com um cacto e inspeciono o restando do quarto. Na escrivaninha, pilhas arrumadinhas de livros e instrumentos vintage de escrita, potes de tinta, cálamos, pedras de afiar, estiletes e objetos do tipo. Nas paredes, um papel parafinado com colunas arrumadinhas de caligrafia que se estendem do chão até o teto. Fico nas pontas dos pés para chegar ao topo de uma delas.

"Quão felizes, alguns mais que outros, conseguem ser! Em toda Atenas, sou considerada tão formosa quanto ela."

Viro-me para Uraraka.

— Por que isso me soa tão familiar?

— Porque Sonho de uma noite de verão é a peça mais apresentada de Shakespeare. Nós a lemos nas aulas de Literatura Europeia, e também foi a peça da primavera. Eu era o Puck.

— Ah.

Geralmente não me importo com as produções teatrais da escola. Peças de teatro não são mesmo a minha praia. Só vou às peças do Denki para mostrar apoio a ele, e adormeci ou fiquei enviando e recebendo mensagens de texto durante a maior parte das encenações.

Uraraka, com a mão fina, faz um gesto indicando a parede, e então se levanta e fica ao meu lado. Sou uma cabeça mais alta do que ela.

— Você acha que memorizar algumas equações de Física é difícil? Tente, então, enfiar tudo isso no cérebro.

Viro-me em um movimento lento. A parede inteira está coberta, de cima a baixo.

— Não tem como memorizar tudo isso.

— Bem, não para uma apresentação — ela admitie. — Mas nunca esqueço. Eu seria capaz de recitar Hamlet para você agorinha mesmo.

— Você não participou dessa peça.

Ela me olhou com estranhos olhos que parecem globos.

— Fui a primeira na história da U.A a fazer Hamlet. No inverno passado, quando estava no primeiro ano.

Eu sabia que o clube de teatro gostava de produzir peças de Shakespeare e, considerando que não temos estudantes masculinos suficientes nessa área, escolhem para o elenco meninas nos papéis de homens. Porém, por algum motivo, nunca imaginei alguém que conheço desenvolvendo um papel tão icônico em uma peça teatral. Hamlet. O vendedor, qualquer que seja o papel dele. Imagino Uraraka trajando vestimenta clássicas elisabetanas e bigode desenhado com delineador, e sorrio. Não consigo evitar.

Ela estreita os olhos.

— Como se chutar uma bola de futebol fosse um grande feito.

Mordo o lábio.

— Eu não estava rindo. Interpretar me parece realmente difícil.

— Macacos podem fazer o que você faz. Mas não conseguem o que eu faço. Só estou dizendo.

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2021 ⏰

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