Capítulo 4

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Antes de procurar Izuku, passo no quarto do Denki para deixar a fantasia de Gatsby lá. Paro um pouco diante da porta ainda sem bater, para ver se há sinais de que ele está ocupado, e ouço suas risadinhas abafadas.

Está com com visita. Kyoka. Que ótimo. Aliso as finas e sedosas camadas do tecido e deixo-o no chão polido de madeira, ao lado da porta do quarto, então me dirijo às escadas. Odeio ser aquele que pega coisas emprestadas com frequência (e de vez em quando as rouba), que sempre depende de amigos, conhecidos e até mesmo de alunos aleatórios, para compor meu guarda-roupa durante as horas que nos permitem não usar nossos uniformes. Mas é necessário. A fantasia de Gatsby é uma das coisas mais extraordinárias que já vesti. O tecido deixou minha pele elétrica. Achei excitante ser uma pessoa como Daisy Buchanan. Elegante, insinuante e astuto, além de sexy e um pouco perigoso. Sinto-me triste por devolvê-la ao Denki, mas é um item muito extravagante para "esquecer" de devolver.

Quando ponho os pés do lado de fora, o sol já está sangrando sobre o lago, uma explosão em tons de laranja e vermelho através dos galhos escuros, dando a ilusão de que é o começo do outono. Cruzou o pátio em direção ao complexo esportivo, e nesse momento o sino da capela soa uma melodia que não reconheço. Volto o olhar contemplativo para trás, para o contorno do campus principal, excepcionalmente incrível ao pôr do sol - Como uma mistura de uma das universidades da Ivy League e Hogwarts, com uma bela arquitetura gótica, torres altas e finas e charmosos chalés elisabetanos.

Na quadra de tênis, Izuku está treinando sozinho sob a luz que se desvanece. A escola tem quadras internas, mas Izuku gosta de treinar em todas as condições climáticas, já que nem todas as escolas possuem quadras internas. Sua forma é perfeita enquanto ele se movimenta em um arqueio e acerta a bola. Os músculos do meu peito relaxam conforme me aproximo da quadra, e sinto meus ombros caírem como por reflexo. Izuku não tem motivo algum para trapacear. Ele está tão acima do restante do time que, na verdade, é vergonhoso ver os outros treinaram. Meu coração afunda no peito de novo. Por que ele é tão bom?

Jogo as mãos para cima, junto ao alambrado, e solto um grunhido como se fosse um zumbi, ao que Izuku gira e arremessa a raquete de tênis na minha direção.

- Que diabos, Shinsou! Por um segundo, achei que você fosse aquela garota do lago. - Ele balança os cabelos úmidos, soltando-os do rabo de cavalo, e penteia-os com os dedos. A roupa de tênis de Izuku é imaculadamente branca, destacando a assinatura escarlate da U.A.

As palavras tiram o sorriso do meu rosto.

- Cedo demais para piadas.

- Não apareça assim sorrateiramente perto de mim.

Ele pega de volta a raquete e a analisa em busca de arranhões.

- Quer ir jantar?

Izuku faz uma careta.

- As pessoas vão chorar e agir com todo aquele melodrama, como se a mãe delas tivesse morrido.

É a cara de Izuku dizer uma coisa dessas. Apesar de ter perdido a mãe quando era calouro, ele fala com naturalidade, e ficaria furioso se eu demonstrasse um pinguinho que fosse de compaixão. Dou um soco no braço dele.

- Alguém de fato morreu.

- Mas, tipo, não era ninguém importante.

- Sério, Izuku.

Ele sorri, os lábios assumindo a forma distinta e assimétrica de um V. Izuku tem a pele tão firme que parece que os cabelos estão sempre bem puxados para trás, até mesmo quando soltos em volta do rosto; nariz e maxilar definidos; e cílios e sobrancelhas tão leves que desaparecem sem maquiagem.

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