Na manhã seguinte, a notícia havia infectado a escola toda. Embora meu dormitório fique do outro lado do campus, ainda acordo com os sons das sirenes lá fora e os choros mesclados com soluços abafados lá de cima. Abro os olhos e vejo Denki empoleirado na beirada da minha cama, o rosto grudado na janela. Ele já tomou banho, vestiu-se e está bebendo café na minha caneca na qual se lê: EU ♥︎ OS MENINOS DO FUTEBOL DA U.A.
Quando olho para a caneca, um calafrio percorre minha coluna. Temos um jogo crucial na segunda-feira e marquei um longo treino está manhã para me preparar. Pulo da cama, prendo meus cabelos espessos e o ondulados em um rabo de cavalo apertado e visto uma legging.
— Asui Tsuyu — diz Denki.
Sinto um frio glacial na pele, e meus ombros se contorcem.
— O quê?
— A garota no lago.
— Nunca ouvi o nome.
Gostaria que Denki não o tivesse dito.
Na noite passada, acordado ao lado de Denki na minha estreita cama do dormitório, quase não conseguia apagar da mente o rosto imóvel e plácido da garota. Agora preciso me focar. Quero tirar cada partícula da noite anterior da memória. Fui forte durante três anos, e não racharei nem me estilhaçarei com isso. Um floco de neve.
— Eu a conhecia. Ela estava na minha classe de Trigonometria.
Sinto uma sensação podre e corrosiva no estômago.
— Talvez não tenha sido a melhor das ideias dizer à polícia que não a conhecíamos.
— Não pense demais nisso.
Ele senta ao meu lado e enrola um dos cachos de meus cabelos no dedo.
— Quero dizer, eu mal sabia quem era ela, mal sabia mesmo. Não poderíamos contar tudo aos tiras. Eles fechariam o cerco e arruinariam nossa vida.
Denki tem os próprios e muito diferentes motivos para ficar com um pé atrás com a polícia. Para começo de conversa, os pais dele são advogados top de tinha de defesa criminal, e o filho está seguindo o caminho deles. Provavelmente Denki conhece mais a fundo as leis criminais do que qualquer estudante de primeiro ano de Direito. Tudo que disser pode e será usado contra você no tribunal. Desde que ganhou no clube de debate, na fase regional, no ano passado, Denki fez uma versão — que se tornou uma mantra — da citação "dance como se ninguém estivesse vendo; envie um e-mail como se um dia ele pudesse ser lido em voz alta em um depoimento". Em segundo lugar, Denki já vivenciou na pele o racismo. Nunca na U.A, disse ele, mas até mesmo eu havia notado como as coisas são diferentes fora do campus. Uma vez, quando dispersaram uma festa fora do campus, um tira passou direto por mim, um menor de idade agarrado a uma garrafa aberta de cerveja, e pediu a Denki que fizesse o teste do bafômetro. Ele segurava uma lata de refrigerante na mão. Ainda assim, eles o fizeram passar pelo teste do bafômetro.
Suspiro.
— E você não pode contar nada ao Shouto, a não ser que queira que a escola inteira fique sabendo.
— Isso não é justo.
Ser ou não justo não é a questão aqui. No ano passado, sem querer, Shouto liberou on-line os nomes dos novos recrutas de futebol antes que nós pudéssemos "sequestrá-los" de seus quartos em nossa tradicional cerimônia de iniciação. Essa tradição, além de divertida, é o que nos consolida como um time. Quando se tira da equação o medo da noite da iniciação, elimina-se a euforia, do momento em que a pessoa descobre que foi escolhida. Você é boa o bastante. Mas, não. Shouto vazou na internet os nomes que lhe enviei por e-mail, e eu aprendi o mantra do Denki do jeito difícil. Envie um e-mail como se um dia ele pudesse ser lido em voz alta em um depoimento. Ou postado em um fórum da comunidade para toda a escola ver.
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Garotos como nós
SonstigesHitoshi Shinsou pode ter segredos sombrios, mas passado é passado, e ele se reinventou por completo. Agora ele é uma estrela: um jogador de futebol cujo grupo de lindos e populares amigos comandam uma escola particular. Porém, quando o corpo de uma...