Capítulo 3

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Clico no link freneticamente, mas o site é protegido por senha. A vingança é um prato. O projeto final da Asui era a vingança. E ela o enviou diretamente para mim. Tento mais uma vez em vão abrir o site, e então empurro o laptop para o mais longe possível de mim. No entanto, não consigo tirar os olhos da mensagem.

Gostaria que o Mezou não tivesse ferrado as coisas entre nós. Por ser um gamer devotado, além de alerta, ele seria capaz de hackear e entrar no site sem esforço algum. Rolo a listagem de meus telefonemas recentes. Ele sempre esteve tão presente na lista que isso me deixa deprimido. Continuo esperando que me ligue para se desculpar novamente, para saber como estou, para me dizer que algo aleatório o fez lembrar-se de mim. Mas, aparentemente, nada disso acontece.

Jogo meu celular em cima da cama e volto para o laptop. Faço o login na rede da comunidade da escola e busco entre os nomes dos alunos alguém que possa me ajudar. A Academia U.A é forte nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), e um número expressivo de alunos entende pelo menos um pouco de codificação. Shouto, Denki e Katsuki, todos fizeram cursos com altas cargas horárias de matérias de STEM. Poderia tentar falar com o Shouto — ele faz a maior parte das aulas de codificação —, mas hesito. Pela ameaça na carta, não quero meus amigos nem um pouco perto do projeto de Asui, em especial Shouto. Prefiro que as pessoas com quem interajo socialmente não se envolvam nisso. Quanto menor a credibilidade social, melhor. Só como precaução caso fiquem sabendo de algo e eu só tenha minha palavra contra a deles.

Uraraka Ochako. Há um pontinho verde ao lado do nome, indicando que ela está on-line. Hesito antes de lhe enviar uma mensagem pessoal. Dois anos atrás, quando Uraraka tinha acabado de ser transferida para a U.A, eu, Izuku e Neito fomos um pouco duros com ela, na maior parte do tempo agindo pelas costas da garota. Talvez tenhamos inventado um apelido para ela, ou um boato ou outro. Mas isso foi séculos atrás. Provavelmente Uraraka se sentiria mais sem graça do que eu se a história toda viesse à tona. Não é nossa culpa se ela se veste como uma mistura de agente funerário e boneca assassina. Além disso, como tem vindo a alguns jogos de futebol desde então, imagino que não guarde ressentimentos.

"Oi, você está aí?"

Aperto enter e espero.

Sua foto de turma aparece junto com reticências para mostrar que está respondendo. Uraraka é bem baixinha e magra, com curtos e grossos cabelos castanhos que parecem sobrepujar o restante do corpo. A pele é branca como porcelana, e os olhos de um castanho brilhante são tão redondos que lhe dão sempre um ar de assombro. A palavra que me vem à cabeça quando penso em Uraraka Ochako é levemente. Ela não se destaca em nada em particular, ou isso era o que pensávamos quando começamos a implicar com ela. No fim, descobrimos que tem uma peculiaridade valiosa ao extremo: a capacidade de criar o caos com códigos e sistemas.

"Oi"

"Estou tendo problemas para entrar."

"É protegido por senha?"

"Sim."

"Você tem a senha?"

"Não."

"Deveria ter?"

"É uma longa história."

"Conte-me."

Solto um suspiro. Preciso saber o que Asui achava que tinha de informações sobre mim, e o que quis dizer com o papo de inimigos e vingança. E Uraraka é minha melhor aposta para descobrir a verdade e manter as informações em sigilo.

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