Our last summer

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   -Pai eu gosto de garotas.

   Nunca tinhamos tocado no assunto, sempre fui muito aberta sobre minha sexualidade mas parecia que tinha uma trava entre meu pai e eu nesses momentos.

   -Gosta tipo namorar? - ele perguntou e eu assenti, isso era tã constrangedor que eu já estava pensando onde enfiaria a cabeça depois disso.
   
    -E quando beijou Sea Hawk na sexta série? - fiz cara de vômito e o mais velho riu.

   -Pai, não me lembre disso! Foi terrível. - joguei a cabeça para trás o ouvindo rir um pouco.

  -Já teve alguma coisa com Mermista? - ele pergunta mechendo no prato com o talher.

  -Ah não, ela é como minha irmã. - sorri sem mostrar os dentes e ele sorriu para mim. Corei na hora - Não está bravo?

   -Claro que não filha. Apenas descobri que tenho mais uma coisa em comum com minha gatinha. - Sua mão esquerda encostou nos meus cabelos, bagunçando a raiz. - E além do mais... - ele olhou para a foto da mamãe meio receoso- Sua mãe já tinha me contado.

   Abri a boca em um círculo perfeito de surpresa.

-Mas eu nunca contei para ela. - papai revirou os olhos, trocando um olhar dolorido de parceria com a foto estável da mamãe.

  -Mães percebem as coisas . Ela sabia mais de você do que você mesma sabe, pode ter certeza. E eu apenas estava esperando você me contar.

  -Ela ficou brava quando começou a suspeitar? - papai negou com a cabeça fortemente . Ele bem sabia o quanto eu me esforçava para nunca decepciona- la.

  -De jeito nenhum. Chegou para mim e falou "Hordak, acho que nossa filha é sapatão" - contraí a testa com o termo inesperado e ele continuou- aí foi confuso para mim porque sonhei em ver você formando uma família , sabe? Mas ela me explicou que sua sexualidade não mudaria nada e decidimos esperar para quando você se sentisse confortável para nos contar.

  -Contei tarde demais pelo visto. - Daria tudo para ver a reação da mamãe, possivelmente subiria no sofá e gritaria na cara do meu pai um "EU TE DISSE"

   -Ei, não se cobre tanto, filhota. - Sua mão gelada tocou a minha, um carinho leve como se tentasse tirar a culpa que eu sentia. - Mas me conta..

  -Contar o que? - perguntei confusa e ele me olhou com cara de como se estivesse óbvia a sua pergunta implicita.

  -Me conta, quem é ela? - corei. Não tem ninguém pai, só uma celebridade loira que faz meu coração parar e parece uma Deusa.

  -A não...- olhei para meu prato, tentando desviar do assunto- Não tem ninguém, papi.

  -Tem sim que eu conheço essa carinha suspirante. Me fala, quem é que roubou o coração do meu bebê.

  -Não sou um bebê pai! - Se antes eu estava vermelha, a cor se intensificou um milhão de vezes. Ele me olhava com expectativa e eu suspirei - Mal a conheço.

   -Como ama alguém que mal conhece? - ele perguntou com a mão ao lado da foto. Lembro como ele sempre manteve a mão esticada para segurar a dela enquanto comíamos, o hábito nunca mudou.

   -Não a amo. Apenas ... penso nela mais do que penso em outras pessoas.

   -Cuidado para não se machucar, coisas corridas demais podem parecer melhor do que são. - ignorei, levantando para lavar meu prato. -Fica tranquilo, acho que é tipo uma atração mútua.

   -Eu lavo. - Ele me interrompeu quando liguei a pia- pode subir.

   Beijei a bochecha de papai antes de ir escada a cima.

   Tomei um banho para esfriar o corpo, o dia estava quente e certas lembranças deixavam isso mais quente ainda. Mas onde caralhos estava minha cabeça quando cantei para Adora? Ela deve ter achado patético.

   Aceitei na minha cabeça que nunca mais a veria. Bom, isso antes de acordar no meio da madrugada com o telefone vibrando.

   -Mermista para de me ligar, você não dorme mas gente normal dorme, sabia? - respondi irritada, ainda de olhos fechados.

    A risada do outro lado da linha me fez despertar. Puta Merda Catra

    -Desculpa atrapalhar seu sono , rabugenta. - Adora falou .

    -Oi Adora, desculpa. Achei que era minha amiga. - esfreguei os olhos ainda desacostumados a estar abertos.

   -Não tranquilo. Posso ligar amanhã. - meu corpo congelou .

   -NÃO! Quer dizer...não precisa, já acordei. - tentei descontrair - Não estava nem dormindo mesmo.

  -Estava sim, são quatro da manhã. - sua voz convencida e suave chamava minha atenção como um ímã .

   -E por que você não está dormindo? - retruquei.

   -Acabei trabalhando até tarde hoje - ela bocejou do outro lado da linha - Mas e aí, agora que já te acordei posso te propor uma coisa?

   -Sou muito nova pra casar- brinquei e ouvi sua respiração profunda antes de continuar.

   -Posso te levar em um lugar amanhã de noite? - Um encontro? Com a menina propaganda?

  Puta que Pariu, sim sim sim. Claro que pode, não precisa nem pedir. Só vem aqui e me busca por favor.

   -Não tenho nada para fazer então aceito, me busca aqui? Para onde vamos? - tentei disfarçar a animação e falhei miserávelmente.

  -Um lugar onde vamos poder sair de verdade sem câmeras para atrapalhar. - paparazzi? Chique, não me importaria em divulgar meu nome para a câmera e dizer "Ainda vão me ver no Spotfy "
 
  -Certo. Como é para me vestir? - "vestir" , até parece que ela não quer que eu tire até a calcinha.

   - Não se preocupe com isso, tomei conta dos detalhes. Ah e mais uma coisa, deleta seu registro de ligação.

   -O que? Por que? - agente secreto isso, Adora? Fugiu do FBI ?

   -Se esse número vazar eu fico na merda, é o meu pessoal. - ri com deboche.

   -Acha que eu vou vazar seu número? Tenho coisa melhor para fazer.

  -Só apaga, sério. Quando a gente precisar conversar eu vou falar com você.

  -Tá tá . Boa noite

  -Até amanhã. Dorme bem. - Ela respndeu antes de desligar.
 
    Fechei os olhos para descansar. Ah tá tudo bem, vou em um encontro com Adora.

  PORRA EU VOU EM UM ENCONTRO COM ADORA!

   Levantei da cama correndo até o quarto dos meus pais , abrindo a porta rápido e fortemente.

   -PAI! - Papai se levantou no susto, preparado para socar o invasor de seu sono mais profundo.

    -Ei ei calma! Sou eu! - disse ainda animada e ele esfregou os olhos, voltando a se deitar.

   -Não me mata de susto assim, filha! - assumiu sua posição de conforto de baixo das cobertas.

   -Ela me chamou para um encontro amanhã! - Se meu pai antes estava com sono, não estava mais. Se levantou na mesma hora , dando pulinhos.

   -Minha filha tá namorando, minha filha tá namorando!! Ai você cresceu tão rápido! - fui envolvida em um abraço.

   Depois explicaria para ele que não era nada disso e somente um encontro mas, no momento de animação deixei passar, aproveitando a liberdade de dividir com meu pai algo que escondi por muito tempo.
 

Still Into you Onde histórias criam vida. Descubra agora