Preto e Branco

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Infelizmente tentar convencê-la é uma tarefa impossível, todos os amigos próximos já perceberam o quanto este retorno repentino do homem que se diz meu pai está fazendo mal a todos, fazem meses que minha mãe nem ao menos liga para minha avó nem que seja para falar um mísero "OI" e porquê disso? essa resposta é bem óbvia, ele não a deixa fazer absolutamente mais nada. Vovó até veio aqui, apenas resultou em uma discussão feia e alguns pratos quebrados, não posso fazer mais nada, na verdade eu não sei nem o que fazer comigo mesma.

Admito que uma parte de mim se alegra ao ter Feh de volta, mas a outra sabe que quem voltou não é completamente a pessoa que tanto amei, mas a memória daquele dia infeliz ainda se encontra presente e nítida em nossas lembranças, principalmente nas de Feh que em um único dia perdeu toda a família, não posso ser egoísta e apenas pensar em mim.

Preciso aguentar isso todo por mais um ano, sim será um longo período mas, para quem já aguentou tanta coisa, desde um acidente trágico, um pai maluco não vai ser muita coisa para se aturar apenas mais um ano não é mesmo? Bem, é isso que eu espero, que isso passe logo, para que possa finalmente me caçar com Feh e me ver livre do monstro que vive em minha casa.

- Bru você está bem? Estou falando com você por um tempão e você nem ao menos me ouviu.

- Desculpa Juh, é que tem tanta coisa passando na minha cabeça que eu já não sei nem mais o que fazer.

- Amiga eu sei que tem muita coisa acontecendo agora, você tem que aguentar as coisas em casa, é ainda têm à volta do Fernando que mexeu muito com você, não só com você, o Gus também, sente que está te perdendo.

Preciso admitir essas palavras mexeu bastante comigo, todos sabem de minha história com Feh, e que sempre tornava a repetir que apenas esperaria a época que o mesmo pudesse sair daquele inferno para que nós casasse, e agora ele finalmente saiu, poderíamos finalmente nós casar, e viver nosso amor como prometemos um ao outro.

Enquanto esse momento não chega, ainda procuro formas de me livrar do idiota do meu pai, fui juntando dinheiro as escondidas para conseguir colocar uma câmera escondida em meu quarto, e hoje será o dia perfeito de usar, estaria sozinha com ele em casa, pois minha mãe teria um compromisso inadiável, hoje seria nosso acerto de contas, terias as provas que preciso para o tirar de nossas vidas.

       - Bru toma cuidado ok? qualquer coisa nos ligue blz? Antes que ele chegue, verifique se as câmeras estão funcionando adequadamente.

       - Calma, Juh vai dar tudo certo.

Preciso admitir que estava com medo, e pela primeira vez nesses anos que se passaram por uma fração de segundos pensei que necessitaria de uma erva para conseguir a coragem para continuar aqui dentro dessa casa sozinha com aquele monstro. Podia sentir que o medo percorria meu corpo, mesmo que tente me manter completamente firme, não queria admitir que tinha medo, não queria admitir que me sentia perdida e insegura, mas é assim que me sinto agora.

- Seja o que Deus quiser.

Falei baixo apenas a mim mesma, reunindo forças, precisava me manter inabalável, fingir que não havia feito nada, precisava me fazer de vítima, essa é a única forma de o deter. Meu coração começa a acelerar de imediato, conseguia ouvir seus passos subindo pelas escadas, o mesmo falava ao telefone com minha mãe, podia ouvir sua risada cínica falando que cuidaria de mim muito bem, que não precisava se preocupar, a pessoa que tanto me amedronta termina sua ligação ao parar na porta de meu quarto, permaneci imóvel fingindo estar lendo um livro qualquer, na tentativa de não demonstrar meu medo.

Mesmo sem olhá-lo conseguia sentir seu olhar sobre mim, aquele olhar feroz como se quisesse me engolir viva, um olhar de predador, que não se importa nem um pouco de que sua vítima seja sangue do seu sangue, a única coisa que queres é a ter para si não se importando como.

Havia programado as câmeras para enviar as filmagens em tempo real para três celulares ao mesmo tempo, o meu o de Juh e também o de minha mãe, claro que não sabia se ela olharia à notificação e abriria, mas esperava ansiosamente que isso aconteça, e que ela veja, que o cara que ela tanto ama é um monstro.

- A bonequinha, olha seremos apenas nós dois hoje.

- Não se aproxima de mim.

- A bonequinha porquê está com medo de mim, prometo que não deixarei marcas em você.

Nesse instante meu corpo tremeu todo, o desespero começou a tomar conta do meu ser, eu não sabia o que fazer, não havia planejado essa parte, a única coisa que podia fazer era gritar por ajuda, e rezar para que alguém me salvasse, sentia suas mãos tocarem o meu corpo, enquanto implorava para que não fizesse nada, por dentro pedia que minha mãe estivesse vendo tudo e viesse correndo me salvar, mas no fundo o meu maior medo foi o que se concretizou, aquele monstro tentou de várias formas abusar de mim, quando estava preste a perder as esperanças vejo uma borboletas voar pelo meu quarto, era preta e branca, não sabia o que significa mas queria que com elas viesse meu socorro, e sim veio, meus olhos estavam enevoados devido as lágrimas, apenas vi o momento em que arrancaram aquele traste de cima de mim.

- Bruna, você está bem? pelo amor de Deus fala comigo, Bruna.

Me sentia atordoada e ainda apavorada, ouvia alguém me chamar, mas ainda não reconhecia a voz, fui voltando a mim aos poucos, finalmente pude ver quem foi o herói que me tirou daquele inferno. Juh assistindo pelas câmeras preocupada avisou para o Gustavo que veio de imediato, mas não foi apenas eles que viram tudo acontecer, minha mãe quem devia cuidar de mim viu tudo é não fez absolutamente nada, apenas me olhava com expressão de choque. E para onde aquele monstro foi? teve finalmente o que merecia, a cadeia, e dali não sairia tão cedo. Não importa quanto tempo leve, o carma sempre volta para nós cobrar, assim como aquelas duas borboletas me trouxe um anjo, trouxe o carma daquele monstro. 

borboletas paranoicas - Tentativa em VãoOnde histórias criam vida. Descubra agora