Send Me An Angel | Oneshot Gwynriel

single

"O destino não quis a gente junto pra sempre
Mas foi um privilégio me encontrar com você
…
Mesmo longe, seremos eu e você"

Era tarde quando Gwyn adentrou a sala de estar do seu apartamento.
O vento que penetrava a janela chicoteava em suas bochechas já rosadas pelo frio. Ela estava perdida.

Antes que se desse conta, os sapatos de salto já haviam saído de seus pés, o elástico já havia deixado seus cabelos e ela queria rasgar seu vestido ali. Ela queria deixar que ele virasse cinzas. Ela queimava.
Não por fora, mas por dentro. Um fogo que irradiava do seu âmago mais intenso que qualquer coisa que ela já vira.

Ela estava perdida, mas não era novidade. Ela nunca se encontrou mesmo.

Ela estava decidida a seguir em frente. E ela iria.

Em passo lentos, seus pés tropeçaram no tapete que foi o  palco de muitas risadas. Taças de vinho, champanhe... Amor. Quantas vezes fizeram amor ali? Quantas vezes juras de amor foram derramadas naquele lugar?

A sala já começava a  sufocar. Ela estava vazia. Ela não merecia isso. Mas ela não podia fazer nada por isso.

Nossas escolhas influenciam as escolhas de outras pessoas. E isso estava doendo nela.

Sempre lhe disseram que pessoas indecisas machucam pessoas boas. E ela sabia que era verdade. Ela sentira. E doía... Céus, como doía. Ela machucara alguém bom.

Ela passou as mãos pelo rosto extasiada . Como em um dia você tem tudo e no outro você não tem nada? Uma vida descendo como água corrente pelos seus dedos.

Suas mãos desceram devagar até sua barriga. Ainda estava reta. Ela tinha uma decisão. Ela precisava tomar uma decisão.

O vestido que já estava ocupando lugar demais em si deixou seu corpo como uma pena que cai em direção ao chão.

Se ela olhasse muito poderia ver um buraco se formando e consumindo ela. Levando-a pra dentro como se ali fosse seu lugar. Presa, escondida e longe do sofrimento que o mundo lhe causava. Que ela causara a si mesma quando se envolveu com ele. Com Azriel. O que ela causara a si.

As lágrimas desciam finas pela sua face. Salgadas como o mar. Densas como a dor que corroía seu peito como uma intensa lembrança do vazio que ela sentia. E ela viveria isso pro resto da vida. Ou aprenderia a lidar com ele.

Já se perguntou sobre o eco da alma?

É vazio... Escuro. É quando você não tem mais nada. Quando o grito dentro de você é audível apenas pra você mesma. Quando o silêncio dentro de ti é insuportável a ponto de gritar um pedido de socorro dentro de si mesma. Quando sua alma não aguenta o silêncio, ela grita.
Um grito silencioso, em eco.  Sua alma gritava.
E ela ouvia as palavras ecoarem... Mas ela já não podia fazer nada. Tudo era vazio.

Tudo já estava feito.

Ela encostou na parede, sentindo o frio da madeira de carvalho da sua estante de livros. Ela encostou a cabeça nas prateleiras e desceu... Ela sentiu as lágrimas descerem uma por uma. Ela poderia nomeá-las. Nomear o tamanho do estrago que cada uma delas trazia.

Ela sentia a dor em seu peito crescente como a lua que cobria o céu noturno. Mas a lua não chorava...
Ela iluminava a dor em seu rosto. Fazia com que se lembrasse da solidão.
Ela deitou no chão. Em uma mão via o anel que jurava ser o que seria seu um dia... Mas que nunca foi dado por ele. Ele seguiu... Mas e ela?