1. A chefe

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"Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração", disse Clarice Lispector, uma vez. Acho que ela estava falando sobre si mesma e, sinceramente, não sei quanto a todas as outras mulheres do mundo, mas, pelo menos em relação a mim, ela não se enganou.


Eu tinha um segredo e esperava que o vestido azul royal que eu usava naquele dia pudesse me ajudar a mantê-lo muito bem guardado. O comprimento três centímetros acima do joelho me fazia parecer uma mulher séria, profissional na medida certa, sem me envelhecer demais. Tinha custado bem mais do que eu estava disposta a pagar por ele, mas aquela era uma situação extraordinária.

O scarpin preto que Zelena tinha praticamente me obrigado a comprar junto com o vestido cumpria o seu papel de me deixar mais elegante, assim como a gargantilha dourada com um pingente em formato de flor. O toque final foi o blazer acinturado na cor preta, com mangas três quartos que eu tinha escolhido unicamente para não deixar meus ombros à mostra. Afinal, estava indo para uma entrevista de emprego e precisava impressionar a minha possível futura chefe.

Olhei mais uma vez para o meu reflexo no espelho, que ocupava boa parte da parede do meu quarto no minúsculo apartamento que eu alugava meramente para ter um lugar onde dormir entre um plantão e outro no hospital onde eu trabalhava até a semana anterior. Não que o dinheiro que eu ganhava não fosse suficiente para pagar por um lugar melhor do que um muquifo abafado e infestado por baratas, mas não podia me dar o luxo de gastar um centavo a mais com isso. Tinha um problema maior para resolver e precisaria de toda a grana que conseguisse juntar.

Passei as mãos pelo cabelo, colocando alguns fios rebeldes no lugar, conferindo o visual completo uma vez mais. Aparentemente eu estava pronta, mas não conseguia me livrar da sensação de que estava faltando alguma coisa. Por isso, enquanto tentava manter a pulsação sob controle, peguei o celular e tirei uma foto de corpo inteiro para enviar para Zelena.

"Você acha que causarei uma boa primeira impressão?", digitei na legenda e cliquei em enviar.

A resposta veio quase que imediatamente:

"UAU! Tem certeza que não está indo roubar o emprego da sua chefe?".

Revirei os olhos para o comentário idiota, mas não pude evitar um sorriso. Aquele era o jeito que Zelena tinha de dizer que estava orgulhosa por eu ter seguido todas as suas dicas de moda.

"Futura chefe, SE ela gostar de mim", corrigi.

"Detalhes, detalhes".

Me sentindo um pouco mais segura depois disso, peguei minha bolsa e caminhei para fora do apartamento, tranquei a porta e digitei mais uma mensagem para Zelena:

"Estou saindo agora. Deseje-me sorte".

Jogando o celular de volta na bolsa, desci as escadas e corri tão rápido quanto aqueles saltos me permitiram, para pegar o metrô. Somente quando eu já estava parada diante do prédio da Blanchard Enterprises é que voltei a pegar o aparelho para verificar a hora é que vi a resposta da minha irmã.

"Você não precisa disso. Se ela não te contratar, então não é tão inteligente quanto parece".

Desde que aquela entrevista tinha sido confirmada, Zelena parecia que tinha dedicado todo o seu tempo livre para pesquisar a vida da mulher que havia respondido o meu e-mail sobre a vaga de babá, e a empresa onde ela trabalhava.

A Blanchard Enterprises era uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, talvez encontrando concorrência apenas na empresa da família Gold. Mas, de acordo com os links que a minha irmã maluca tinha enviado, isso nem chegava a ser um problema, pois, Fiona Gold, a herdeira, estava prestes a oficializar seu noivado com ninguém menos do que Emma Swan, CMO da Blanchard Enterprises. A mulher com quem eu estava indo me encontrar naquele momento.

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