2. As gêmeas

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– Mas é claro que você não vai usar o mesmo look que usou de manhã. Pode ir tirando essa ideia absurda da sua cabecinha teimosa! – a voz de Zelena saía pelo viva-voz do meu celular e preenchia o silêncio do meu apartamento ao mesmo tempo em que o micro-ondas dava sinais de que meu almoço estava pronto. – Regina, você está comendo lasanha requentada de novo? Pensei ter ouvido você prometer que passaria a se alimentar melhor a partir desta semana.

– O que há de errado com o vestido azul? – perguntei, ignorando propositalmente a alfinetada sobre a minha alimentação. – Você mesma disse que ele é perfeito.

– Para uma visita ao escritório de uma das maiores empresas do país, sim. Para um encontro na casa da sua nova chefe, de jeito nenhum!

Peguei o prato com o último pedaço da lasanha que tinha feito no fim semana e levei para a sala, sentei-me no sofá, largando o celular ao meu lado e dando play no filme que escolhi para ver enquanto comia.

Zelena tinha passado os últimos cinquenta minutos tentando me convencer a comparecer à segunda parte da entrevista com Emma Swan. Minha irmã havia herdado a teimosia da família Mills e conseguiu refutar sem muito esforço todos os argumentos que apresentei para desistir desse emprego — o principal deles, o fato de que Emma estava procurando alguém que pudesse passar os próximos, sei lá, dezoito anos no emprego, e eu realmente não pretendia ficar por tanto tempo. Mas era preciso admitir que Zelena estava certa. Não havia mesmo garantias de que a CMO fosse querer me manter na vaga após o período inicial de experiência. Então, por que não tentar?

– Primeiro, isso não é um "encontro" – corrigi –, é uma entrevista de emprego. Segundo, ela só será minha chefe SE me contratar e...

Quando – ela me interrompeu –, quando ela te contratar. Regina, você passou as últimas semanas esperando por uma oportunidade como essa, não é hora de dar para trás.

Parei o garfo a meio caminho da boca, irritada.

– Não estou dando para trás, ok? – respondi, elevando um pouco a voz.

Zelena não entendia, e eu não fazia ideia de como explicar, que havia estabelecido uma estranha conexão com Emma Swan e isso me fazia hesitar em prosseguir com o plano. Então, permanecemos em silêncio por alguns instantes, até que eu senti que podia continuar a conversa sem que minha voz denunciasse o nervosismo repentino.

– Você sabe exatamente o que a visita de hoje a noite significa para mim, não sabe? – perguntei.

– Sei. E é exatamente por isso que você não vai usar o mesmo vestido de antes – revirei os olhos, mas agradeci internamente pela mudança de assunto. E ela continuou: – Se Emma Swan a convidou para ir até a casa dela, significa que ela quer conversar com você em um ambiente descontraído, principalmente porque será o momento em que irá conhecer as filhas dela.

Se eu deixasse de lado a pequena aversão que sentia por gastos desnecessários, seria capaz de admitir que Zelena tinha razão, mais uma vez. A própria Emma havia deixado isso bem claro quando praticamente me intimou a comparecer ao jantar naquela noite.

– Acho que entendo aonde quer chegar – respondi antes de comer um pedaço generoso de lasanha, ouvindo Zelena bufar do outro lado da linha. Quase podia vê-la revirar os olhos enquanto murmurava:

– Eu me pergunto o que seria de você sem mim.

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Passavam cinco minutos das sete quando toquei a campainha da cobertura de um dos prédios mais chiques do Upper East Side. Enquanto aguardava, não conseguia deixar de pensar que um ano do meu salário como enfermeira pediátrica no setor da cirurgia não seria suficiente para pagar por um único mês naquele lugar. Isso me fez lembrar da primeira vez que estive em uma suíte de luxo, e um calafrio percorreu-me a espinha no exato instante em que a porta foi aberta.

Nanny In TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora