03

287 43 128
                                    

Harry

Ele parece ser legal e tudo mais, porém não queria de falar com alguém naquele momento. Estava irritado demais para isso e não queria descontar em outra pessoa, afinal ninguém tinha culpa, ninguém exceto meu pai.

Fugi de qualquer interação social nesse dia. Enquanto me escondia entre os corredores da biblioteca fiquei pensando no quão grosso fui com aquele garoto. Louis o nome dele, um nome realmente bonito. E eu nem ao menos me apresentei para ele.

Notei que estava sozinho na biblioteca. Os alunos deveriam estar na palestra do reitor. Consegui ouvir um pouco. Mais cansativo que isso só ouvir meu professor de geografia falar (o reitor até colocava os clássicos "tá's" do professor Rogério no final de cada frase). Tirei o moletom que usava enquanto procurava um livro sobre cozinha nutricional. Cozinho desde pequeno, no início não gostava muito, era como uma obrigação, no entanto, com o tempo, fui me apaixonando por essa arte, a cozinha também tinha se tornado uma válvula de escape para mim. Meu pai, como sempre, não gostou muito da minha escolha, a discussão após a descoberta não foi muito agradável.

Desde a morte da minha mãe, os gritos, os tapas, se tornaram uma rotina, chegou ao ponto onde eu só o esperava notar alguma respiração diferente em mim para usar como desculpa para me bater, é triste falar isso, no entanto eu nem me importava mais, acabei me acostumando; sempre me colocava como alvo, para ele não fazer nada com a minha irmã, não conseguiria vê-la passar por isso.

Gemma não mora mais com a gente há um bom tempo, se mudou a trabalho para Paris faz uns quatro anos. É claro que ela sabia pelo que eu passava, já presenciou diversas vezes, quando pensou em denunciar nosso pai a ameaçou com uma garrafa de vidro quebrada, avancei entre eles e isso resultou em uma cicatriz de vinte pontos no meu braço, eu tinha só oito anos.

"Eu caí no parquinho e um dos pregos do balanço cortou o meu braço".

Foi isso o que eu disse aos médicos. Sou muito bom contanto mentiras, aprendi ainda pequeno, afinal ou era isso ou era levar uma surra pior do que a outra.

Quando soube que passei nesta faculdade, uma onda de alívio me consumiu, ficaria longe daquele inferno por um ano ou mais no caso. Gemma estava (as escondidas de nosso pai e com a ajuda do meu avô) vendo um apartamento para mim, eu já tinha dezoito anos, tornaria tudo mais fácil – também estava ajudando um pouco, óbvio, juntava dinheiro há muito tempo para isso – um perto da faculdade mesmo, ela voltaria para Londres no final de novembro, ficaria aqui até o ano novo, nesse meio tempo veríamos a papelada do apartamento. Se der certo, com certeza, nunca mais coloco os pés naquela casa.

Como perdi o horário do almoço, fui para a cantina pegar algum lanche para forrar o estômago. Na fila da cantina, vi meu colega de quarto com outros dois garotos. Um todo de preto com o rosto vermelho de tento rir (poderia ser de calor também, estava com roupas pretas) e outro mais sério que tentava, a todo custo, se esquivar dos abraços do garoto loiro. Já Louis parecia inquieto, ria com os amigos, mas ao mesmo tempo parecia distraído com alguma coisa, olhava para toda hora para um lugar diferente.

– Boa tarde, o que gostaria? – a atendente perguntou.

– Boa tarde, quero um sanduíche de atum e um suco de maçã, para viagem, por favor.

Alimentos não eram permitidos na biblioteca, tive que buscar outro lugar para passar o tempo. Aparentemente não havia ninguém na sala de música e muito menos uma placa que não permitisse comida.

Meu celular vibrou no meu bolso; era uma mensagem da minha irmã, ou melhor, dez mensagens, normalmente conversamos por ligação, ela não deve estar em sua sala no momento.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 16, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

In Another Life {L.S}Onde histórias criam vida. Descubra agora