Cap 4 - Finalmente Sou Eu Mesmo

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(Alerta de gatilho!)

Enquanto nosso esconderijo continuava a mudar (agora que Jebediah descobriu como fazer tintas coloridas, ninguém o segura mais), com pichações aparecendo na entrada e finalmente móveis e decorações coloridas surgindo, a minha rotina nos próximos dias se resumiu a sair para colher flores e caçar borboletas, ficar no meu quarto pensando em Alyssa, fumando e brincando com as fadas e estar sempre disponível para quando Jebediah quisesse transar.

A dele era pintar e vir me procurar quando quisesse transar. 

Em uma noite - já fazia dias que eu não o via, enquanto ele pintava quartos misteriosos com portas excêntricas -, um barulho insuportável saía de um dos quartos. Do meu quarto, eu podia ouvir. Jebediah discutia com outro homem. Não apenas discutia, mas brigava fisicamente. Os dois berraram xingamentos por horas a fio. 

Já era madrugada quando o barulho parou. Eu me perguntei se devia ir atrás dele. Claro que devia ir atrás dele, preciso saber o que diabos está acontecendo. Mas fiquei paralisado por alguns minutos, com medo do que poderia encontrar.

Tomei coragem. Ele pode estar machucado, precisando de ajuda.
Não precisei de esforço para encontrá-lo, estava no estúdio, pintando, sem camisa. 

- Quero ficar sozinho - ele disse com a mandíbula cerrada, sem tirar os olhos da tela, a voz rouca.

- Eu ouvi - respondi.

- Vou fazer um isolamento acústico naquele quarto.

- O que aconteceu? Quem estava lá com você?

- Me deixe em paz, Morfeu.

Eu me aproximei, devagar, apreensivo, abracei-o por trás. O terrível cheiro de sangue não-familiar em Jebediah pinicou meu nariz. Isso não é natural. Jebediah é um homem doce, gentil e delicado. Não é comum sentir esse cheiro nele. Beijei seus ombros, na tentativa de derrubar sua armadura. Ele estava tenso e não se deixou levar, continuou pintando. Olhei para sua tela,  um auto retrato em tamanho real, mas faltava parte de seu rosto. Levei minha mão esquerda até a sua e senti algo quente e molhado. 

Meu estomago se revirou com a verdade que eu não queria ver. 

- Jebediah, você está sangrando! - Eu me afastei, mas só o suficiente para ver sua mão. 

- Já disse que quero ficar sozinho, Morfeu! - Ele gritou, mas apesar de sua raiva, sua voz estava chorosa. Me empurrou para longe. Precisei dar três passos para trás para recuperar o equilíbrio.

Ofegante, ele me encarou, transtornado. 

Neste momento, eu percebi o quanto realmente me importo com esse mortal. Percebi que já passei muito tempo encarando seus olhos verdes, mesmo que sem querer. Só agora percebi que eu já havia notado que eles mudam de cor.
Quando Jebediah está feliz, alegre ou na companhia de quem ele ama, seus olhos assumem um tom verde cristalino, como as águas de uma praia paradisíaca (já vi seus olhos assim quando ele estava com Alyssa ou com Jenara, sua irmã).
Quando ele está com raiva (a expressão que ele geralmente reserva para mim), o verde se torna tão forte que é quase palpável. É possível ver o fogo queimando em sua alma através desses olhos.
Quando ele deixa sua criatividade fluir, a paixão que ele exala para o mundo fica evidente, porque flashes lilases surgem em volta de sua pupila.
Quando ele está excitado, que ficam num tom escuro, como uma floresta densa e úmida.
E agora, ele está tão devastado que sua cor se esvaiu. Sua íris adquiriu um tom cinza desbotado. Ele me encara tão gelado quanto um fantasma. Ele parece que chora sem parar há dias.

- São nesses momentos, Jebediah, que não devemos ficar sozinhos.

Ele não esboçou reação. Voltei a me aproximar, em passos lentos. Eu queria abraçá-lo, queria dizer que tudo ficaria bem, mas eu tinha que ir aos poucos, para que ele não explodisse e me enxotasse daqui. 

Vermelho Sangue e Azul Magia - O Lado Mais Sombrio - Morfeu e Jeb (Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora