- É verdade? - Gritei contra ela com toda a força de meus pulmões, batendo as portas atrás de mim.
- O que? - Ela não se exaltou, apenas levantou os olhos de sua mesa, como se já estivesse acostumada comigo invadindo seu escritório dessa forma.
- O que você disse para ele! - Coloquei o livro na sua frente, em cima de centenas de papéis que deveriam ser importantes, mas não me importei, aberto na página em que ele contava sobre o diálogo com ela. Minha vontade inicial era de jogar o livro na mesa, mas me contive. Era a única lembrança física que eu tinha dele.
- É - nem olhou para o livro para saber do que eu estava falando. Cínica.
- É só isso que você tem a me dizer? "É"? - Ela permaneceu calada, com seu olhar gélido sobre mim. - Isso é possível? Como é possível? E o meu futuro com Alyssa que você fez parecer que era certo?
- O futuro não é certo, mas no momento em que eu te contei, era o único que eu conseguia ver. Quando você começou a ficar próximo dele, não fazia a menor ideia de onde ela estava e estava desesperada com a situação do País das Maravilhas. Eu precisava de alguma esperança e consegui ver outra possibilidade de futuro.
- Eu não entendo. Como pode existir essa possibilidade de futuro? Eu não precisaria ter dividido a infância com ele?
- Você dividiu a infância com ele, de certa forma, já que ficou observando Alyssa de longe e ele sempre fez parte da vida dela, você meio que o observava também.
- Mas "dividir a infância" não significa conviver com a pessoa? Observar de longe não significa dividir nada.
- Tecnicamente não, pois você não conviveu com Alyssa. Vocês só tinham contato nos sonhos e caso você não saiba, nos sonhos você não está lá de verdade.
- É tudo um maldito jogo de palavras! Então você resolveu manipulá-lo, entrar na mente dele? O que você queria com tudo isso? Foi algum tipo de vingança? Você o fez ficar comigo também? Tudo aquilo não passou de você brincando com duas marionetes?
- Não! Não foi nada disso, Morfeu! Por favor, se acalme - se levantou e deu alguns passos na minha direção.
- Me acalmar? Como você pode...
- Eu estava com medo, está bem? - Me interrompeu levantando a voz, provavelmente pela primeira vez na vida. - Depois de um tempo, comecei a pensar que talvez Alyssa estivesse morta. Eu me desesperei, caramba! Estava sozinha, tendo que lidar com a maior crise de todos os tempos, assistindo o mundo acabar sem esperança de reverter a situação! Por sorte, consegui sentir sua magia em Qualquer Outro Lugar e tentei te contatar, mas não era você, era Jebediah. Eu senti o que ele sentia por você e o que você sentia por ele, já que estavam ligados e parte dos seus sentimentos transitavam entre vocês. Então comecei a pensar em jeitos desse relacionamento ser útil de alguma forma. Se Alyssa estivesse morta, nós não teríamos nenhuma chance! Eu passei muito tempo tentando interpretar as regras para o seu filho trazer a paz entre os dois mundos, passei muito tempo tentando encontrar a salvação independente de Alyssa, foi aí que tentei ver o futuro novamente e entendi que talvez, nós conseguíssemos recomeçar com os seus filhos com Jebediah.
- Então... basicamente, você estava nos usando. Estava me usando como sempre esteve. Você nunca se importou em como eu me sentiria ou em como Jeb e Alyssa se sentiriam por saber disso.
- Eu sou a única de vocês que prioriza o País das Maravilhas! Eu nunca penso em mim ou no que eu quero! Eu só penso no bem estar dos nossos súditos enquanto você e Alyssa só sabem olhar para si mesmos! - Lágrimas translúcidas escorreram por seu rosto pálido. Eu nunca a vi chorar, nunca a vi perder o controle. - Eu nunca machucaria você, Morfeu! Muito menos o coitado do humano! Você acha que todo mundo é cretino como você! Eu nunca brincaria com uma pessoa como você brincou comigo! Vocês ficaram juntos porque quiseram, o que vocês sentiram foi real. Eu nunca manipularia vocês. Nunca manipularia ninguém.
- Por que simplesmente não me contou? Eu precisava saber disso!
- Faz alguma diferença agora? Ele está em casa com ela e você está aqui, sozinho. E isso não vai mudar.
- Não. Não faz diferença.
Respirei fundo. A única diferença é que agora eu sei que o meu único consolo, a promessa de que um dia Alyssa voltaria para mim, não passa de uma possibilidade. Durante todo esse tempo, eu estava confiando que era uma verdade absoluta. Essa certeza era tudo o que eu tinha e agora, nem isso tenho mais.
Me sentei na espreguiçadeira no canto da sala, apoiando minha cabeça entre as mãos e os cotovelos nas coxas.
- Sinto muito - ela murmurou, se sentando ao meu lado.
- Você ficou assim quando eu fui embora? - perguntei, encarando-a.
- Fiquei. Destruída. Acho que é normal.
- Perdão.
- Eu já te perdoei, Morfeu, não se preocupe.
Passando meus braços por seus ombros, eu a abracei. Ela não correspondeu de imediato, passaram alguns minutos até que ela me abraçasse pela cintura.
- Vai melhorar. Essa sensação ruim vai passar, eu prometo - ela sussurrava enquanto eu chorava no seu ombro.
- Me perdoe por te acusar. Por te culpar. Por gritar. Eu sei que você só queria o bem do País das Maravilhas.
- Me perdoe por ficar me intrometendo na sua vida o tempo todo - ela disse e deu uma risada nervosa.
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DylanHurricane
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Vermelho Sangue e Azul Magia - O Lado Mais Sombrio - Morfeu e Jeb (Fanfiction)
FanfictionFanfic da saga de livros O Lado Mais Sombrio, da A.G Howard, parte 1 e parte 2. Parte 1: Ambientada no terceiro livro, Qualquer Outro Lugar. Depois de serem engolidos pelo portal e terem caído na terra bárbara para onde mandam os infratores e bandid...