Cap 7 - Como Mariposas Reagem à Luz

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(Alerta de gatilho!)

Depois daquele desastre, Jebediah cada vez mais se afastava de mim e da realidade. Eu praticamente não o via, e quando via, ele estava com a cabeça em outro lugar. Voltou a me tratar mal, me chamando de "Baratão" ou "Vômito de Inseto".

O relacionamento que eu achei que tinha evoluído para um tipo de amizade retrocedeu para o desprezo. 

Legal.

***

Estava caminhando tranquilamente pelo corredor escuro, quando ele me agarrou e me prendeu na parede. Levou uma mão para o meu pescoço, me enforcando e tirou meus pés do chão.

- Jebediah... - gemi. Eu estava assustado, confuso. Sem respirar, comecei a perder a consciência - Por favor...

Ele levou o rosto para o meu pescoço e começou a me cheirar. Por que Jebediah estava me cheirando? 
Com a outra mão, rasgou minha camisa com um puxão e deixou o tecido cair até o piso. Abriu minha calça e a tirou num só movimento brusco. Fechei os olhos com força, sentindo o ar gelado no meu corpo seminu. Não queria acreditar.

- Me solte, Jeb... por favor... eu não consigo respirar. 

Então tudo se apagou. Eu não vi mais nada.
Não sei quanto tempo se passou até que eu começasse a acordar. Ele não estava mais me prendendo. Eu estava jogado no chão, de cueca, tossindo enquanto sentia minha garganta rasgar. As luzes se acenderam e eu o vi. Jebediah. O verdadeiro Jebediah. Brigando com o outro Jebediah.

Eu não consegui ouvir o que eles diziam. Me deitei de costas, tentando fazer o mundo parar de girar. O ar finalmente pareceu preencher meus pulmões. Ele se aproximou e se agachou do meu lado.

- Você está bem? - Perguntou.

- O que é aquilo? 

- O CC. Venha - ele me ajudou a me levantar, tirou seu moletom e colocou sob meus ombros. O monstro que me atacou não estava a vista.

- CC?

- Cópia Carbono. O meu auto retrato - disse me levando para cozinha, o mais perto de onde nós estávamos.

- Ele... quase me matou.

- Ele estava curioso, não é todo dia que vê um inseto gigante com a pele quase transparente. Queria ver o tamanho do seu pau, não ia te machucar - ele disse, com o tom de voz que usa para me atormentar. 

- Não tem graça, Jebediah - o repreendi. - Aquela coisa tirou a minha roupa. Eu achei que ia me... - comecei a gaguejar, sentindo as lágrimas brotarem - eu achei que era você.

- Acha mesmo que eu seria capaz de fazer algo que você não quisesse? 

- Eu não sei. Na hora, estava ocupado demais tentando respirar para pensar "mas Jebediah não faria isso".

- Beba - vi a decepção em seus olhos quando ele me entregou um copo com água. Levei até a boca e deixei o líquido refrescar minha garganta, como se aquilo pudesse me acalmar. - Desculpe... pelo CC e pela brincadeira besta. Eu vou falar com ele. Não vai se repetir. 

- Você não deveria "falar" com ele. Deveria jogá-lo numa piscina!

- Vamos... não seja cruel.

- Aquele monstro é perigoso, Jebediah! Livre-se dele!

- Lhe dê uma segunda chance.

- Pense se tivesse sido com você. Pense se você se sentiria confortável em dar uma segunda chance para a criatura que quase estuprou você! - Gritei. Senti lágrimas queimando meu rosto, minhas mãos tremendo. Ele me abraçou e eu deitei a cabeça em seu peito.

- Sinto muito. Não queria que você o tivesse conhecido assim. 

- Eu não queria o ter conhecido!

- Me deixe te mostrar que ele não é mau.

- Você só pode estar louco para me pedir isso - o encarei.

- Por favor - depois de um momento encarando seus olhos eu assenti, percebendo que existem realmente poucas coisas que ele poderia me pedir com esses olhos e eu diria "não". Ele chamou o monstro. - Vamos fazer as coisas como deveriam ter sido - ele limpou a garganta. - Veja, Morfeu. Este é o CC, eu terminei de pintá-lo a pouco tempo.

Nas luzes, ele era ainda mais perturbador, com parte do rosto faltando. A criatura não tirou os olhos do chão. Eu agarrei o moletom, como se fosse meu último resquício de segurança.

- Bom... - comecei - não posso chamá-lo de Pseudoelfo - disse, prestando atenção nas diferenças entre os dois. A pele de CC é mais clara, ele tem orelhas pontudas, várias joias vermelhas no rosto, sem contar seu uniforme de Cavaleiro Élfico e a falta da tatuagem. - Por que o pintou assim? 

- Acho que é... a minha melhor versão - Jebediah saiu de perto de mim e foi até ele. - Vamos, mostre ao Morfeu o que eu te ensinei - a coisa estendeu a mão para mim e Jebediah fez um sinal com a cabeça para que eu a pegasse. Apertei sua mão rapidamente e a soltei. - Viu? É assim que cumprimentamos as pessoas, não arrancando a roupa delas. Entendeu? - A coisa assentiu. - Pode ir.

Ficamos apenas eu e Jebediah  novamente.

- Você é realmente péssimo com nomes - eu disse e ele sorriu.

- Ele não é mau, está aprendendo algumas regras básicas de convivência - quando não respondi, ele se aproximou e colocou uma mão em meu rosto. - Desculpe. 

- Tudo bem - minha pele reage ao toque dele como mariposas reagem a luz, sendo atraídas para perto. 

Ele se aproximou devagar, a boca a centímetros da minha. E por um instante, ele parecia novamente o Jebediah carinhoso que dormiu no meu colo. O meu Jebediah.
Afastou meu cabelo para trás do ombro, tocando suavemente com a ponta dos dedos meu pescoço, para onde direcionou o olhar. 

- Vamos cuidar disso, sim? E te conseguir roupas novas.

Eu não cheguei a ver as marcas no meu pescoço, mas podia senti-las. 

Ele me levou para o estúdio e me mandou sentar na mesa.

- Quero testar uma teoria minha - começou. - Se eu posso dar vida, eu também devo poder curar, não é?

- E eu sou seu cobaia? 

- Basicamente - sorriu, triste. Pegou um pincel e veio até mim. - Não se mexa.

Com um dedo, ele me fez levantar a cabeça, mal me tocando. Sua tatuagem começou a brilhar em púrpura quando ele encostou as cerdas macias em mim.
Poucos segundos depois, já não sentia dor.

- Deu certo. Se sente melhor? - Eu assenti. - Venha - ele fez sinal para onde pintaria novas roupas.

- Não precisa - ele me encarou. - Já está tarde, eu vou dormir.

- Está bom. Você que sabe.

- Boa noite e obrigado, Jebediah.

- Por nada - comecei a tirar o moletom para entregá-lo, ele desviou o olhar. - Não, pode ficar.

- Obrigado.

Voltei para o meu quarto sentindo que faltava parte de mim. Aquela despedida não foi nem um pouco satisfatória. Para começo de conversa, nós nem devíamos ter nos despedido. Nós devíamos ter ido para o quarto juntos, para dormir juntos.

Eu sabia que isso teria que terminar em algum momento, mas mesmo assim, não parece certo.

Alyssa.

Preciso pensar em Alyssa para ter forças e não procurá-lo.

Logo, logo, ela vai estar aqui.

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DylanHurricane

Vermelho Sangue e Azul Magia - O Lado Mais Sombrio - Morfeu e Jeb (Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora