Devaneios de Carnaval
P A R T E I
Meus nervos estavam a flor da pele, era energia que havia em mim. Tomei um banho gelado e demorado ao som de Ivete, já entrando no clima. Sai e encarei as roupas que havia deixado sobre a cama, o que usaria? Depois de um bom tempo só encarando aquelas peças, me decidi por um cropped vermelho, um short jeans, ponchete e tênis all star vermelhos para combinar com a blusa. A noite é de festa e eu não vejo a hora de estar loucamente pulando, cantando e dançando atrás do trio.
Roupa vestida, agora era a hora do glitter, da purpurina. E haja purpurina, coloquei sobre o busto, pelos braços e no rosto, fiquei radiante. Sai do quarto e peguei minhas chaves, encarei o celular indecisa sobre levá-lo ou não, por fim o coloquei dentro da ponchete e sai, desci a rua já escutando uns batuques distantes, sinal de que já tinha começado.
Thalita estava na esquina de uma escolinha me esperando, os cabelos loiros soltos, a roupa semelhante a minha, assim que me viu deu um tchauzinho e fez uma dancinha. Hoje a noite é nossa nessa avenida.
O ar da noite estava abafado, o céu fechado em nuvens, mas todo mundo sabe que com chuva ou sem, nada impede o juazeirense de pular carnaval.
- Antes de irmos, preciso te contar uma coisa.
Eu pus as mãos na cintura e encarei a face de Talita cheia de brilho, seu semblante era de pedido de desculpas.
- Vai furar comigo, não é?
- É, mais ou menos... - Disse ela balançando a perna em um movimento que me lembrava desenho animado. - Alguém também vai estar com a gente... Um cara.
- Um cara? Vacilou comigo, amiga. Nosso combinado de todos os anos é pular carnaval sem garotos no nosso pé. Só curtição.
Ela respirou fundo, como que cansada e se desculpou.
- Lembra do Carlos? As coisas ficaram mais sérias entre nós e resolvemos vir juntos.
- Carlos? É sério que você ainda tá com ele? Você sabe que isso é...
- Eu sei, eu sei. Tá bom. - Ela ergueu as mãos no ar. - mas nós nos gostamos e é isso que importa.
Eu dei umas batidinhas no ombro dela e começamos a andar. Confesso que isso me deixou demasiadamente chateada. Todos os anos a gente pula carnaval, só nós duas, as vezes a gente fica com uns garotos, nada que dure muito tempo, uns beijos e... Olha lá, lá vem outro trio e desaparecemos na multidão. Espero que Edie, meu amigo e parceiro de carnaval não vacile também. É um saco segurar vela.
- Onde você vai encontrar ele?
- Próximo ao INSS na saída dos trios.
- Ele já está lá?
- Não. - Ela me olhou e sorriu. - Temos um bom tempo ainda como nos velhos tempos. Ele só vai vir mais tarde.
Atravessamos a rua e nos encontramos na Adolfo Viana, ela estava cheia de pessoas que iam e vinham, conforme fomos descendo encontramos o trio, era uma atração regional. A avenida logo ficou pequena demais para tanta gente, era uma multidão que dançava e se agitava. O som que saia do trio era alto e o chão parecia tremer com ele. Talita agarrou meu braço para não se perder de mim e saímos da calçada para o meio daquela folia, era disso que eu tava falando, dessa energia! Começamos a acompanhar aquele trio, cantando a plenos pulmões, sacudindo o corpo e pulando. De repente me veio a sensação que sempre me acomete durante esses momentos, uma falta de ar do nada, parecendo que não teria como voltar, eu costumo dizer que é um afogamento de carnaval, mas logo tudo volta ao normal e eu saio pulando ainda mais. Talita sempre por perto curtindo tanto quanto eu.
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C A I S
PovídkyO que se vê ao olhar para o Cais? Existe um rio, existem pessoas, pulsa vida. A beira do Rio São Francisco diversas histórias começam, se cruzam, acontecem, mas, se vista por olhos não tão delicados, não se percebe nada. Esse livro de contos é um co...