Capítulo 5

3 2 0
                                    



Estava em alguma cidadezinha com aproximadamente dez mil habitantes, a vontade de voltar correndo para sua fazenda era enorme, então suspirei pela quinquagésima vez desde que o deixei.

Tentei me distrair, então soube pela dona da pensão em que aluguei um quarto que haveria uma festa local; alguma comemoração sobre a padroeira da cidade; não me importo, eu só queria me distrair e beber até esquecer Lucian e a loucura que me dominou ao dormir com um vampiro centenário.

Aquela conversa sem sentido que tivemos de manhã rondava minha cabeça, cada ato, cada frase, cada gesto estava gravado no meu cérebro como tatuagem.

Tomei outro gole da minha cerveja já quente, queria algo mais forte, então entrei no bar do outro lado da rua e pedi um conhaque.

— Opa, filezinho hein! — Um homem nada atraente, barrigudo, provavelmente casado e muito mais velho se aproximou sorrindo.

— Hoje não, moço — resmunguei bebendo um gole do meu conhaque.

Ele resmungou alguma coisa que não me dei ao trabalho de tentar ouvir ou entender, o dono do bar me lançou um olhar preocupado.

— Você não é daqui, né, menina?

Balancei a cabeça negando e bebendo mais um gole do conhaque.

— Esse é o coronel da cidade, ninguém tem coragem de falar não pr'ele, toma cuidado viu.

— Eu vou embora amanhã, só parei aqui para dormir.

— Então deveria tá durmino, não vindu pra festa.

Ele tinha razão. Paguei meu conhaque, terminei o restava em um gole e sai de lá voltando para a pousada.

Passei por um beco escuro, estava quase chegando ao final vendo a luz da rua e a pousada a minha frente quando senti meu cabelo sendo puxado com força.

— Coronel mandô te levar.... — Uma voz lenta e grossa disse atrás do meu ouvido. — Não reági, ele já sabe que ocê não é daqui, então ninguém vai vim lutar por ocê.

Me debati, que porra de alguém lutar por mim? Eu mesma vou lutar por mim.

Mordi sua mão, ele gritou e me deu um golpe forte na cabeça me deixando tonta. Ainda estava um pouco fraca, então comecei a sentir minha visão escurecer. Depois de passar dois dias na casa de um vampiro e deixa-lo beber meu sangue, morreria em uma cidadezinha provavelmente estuprada no mato. Eu não conseguia aceitar isso, mas não tinha força o suficiente para lutar, mesmo assim me debati de novo e senti novamente outra bancada na cabeça, provavelmente uma coronhada.

Desmaiei.

Senti seus dedos gelados antes de abrir os olhos, sorri. Lucian.

— Acorde, Doce Arabela.

— Lucian.

Abri os olhos e meu vampiro salvador estava parado a minha frente, seus olhos vermelhos, sua boca suja de sangue. Ele vestia uma camisa de linho larga e branca, parecia a própria personificação do Drácula.

Olhei ao redor, não estávamos em sua fazenda, era um lugar escuro e parecia uma cabana. Me lembrei do homem que tentou me sequestrar.

— O que aconteceu?

Lucian suspirou e saiu da minha frente mostrando dois homens, o velho nojento da festa na praça com os olhos arregalados de pavor e amordaçado, e um outro no chão ensanguentado e imóvel, meu sequestrador.

— Você o matou?

Ele concordou.

— Você estava me seguindo?

Ele concordou de novo. Eu o abracei.

— E por que essa cara de enterro?

— Eu não estava exatamente te seguindo, eu não aguentei de saudade e estava tentando te encontrar. Quis conversar sobre o que aconteceu antes de você partir, e não me importo se você é humana ou não. Quando consegui te achar, esses dois estavam com você, mais alguns minutos teriam sido terríveis.

— Mas você me salvou. — Falei agradecida. Ele negou.

— Não, doce Arabela.

O que ele quer dizer com não? Será que?

— Você me transformou?

Ele acenou. O aliviou que senti foi tão grande que era difícil de descrever.

— Tudo bem. Vamos embora.

— Não podemos, logo você vai sentir sede de sangue, eu estimo vinte quatro horas, talvez dois dias. Você acordou muito cedo.

— Como assim?

— O tempo que o vampiro demora a acordar é uma estimativa de quanto tempo ele vai sentir sede de sangue. Quando Madame Soraia me transformou, fiquei quase três dias inconsciente no quarto dela, demorou quase duas semanas para sentir sede de sangue.

— Então leve ele, posso me alimentar desse crápula — falei dirigindo o olhar para o velho estuprador a minha frente.

Finalmente Lucian sorriu. Um homem baixo e vestido com roupas parecidas com as de Lucian entrou na capa.

— Mestre?

— Baltazar, pegue-o, vamos levá-lo para a refeição de Arabela.

Então esse é o Baltazar? Seus olhos carmesins não deixavam dúvidas de que ele também era um vampiro, o que me deixou intrigada. Ele tinha forte sotaque português e sem contestar pegou o homem e o jogou sobre os ombros como se não pesasse nada.

Seguimos pela mata até chegar à beira da estrada onde meu carro estava estacionado.

♦♦♦

Voltamos a fazenda, não chovia mais e o lugar era belíssimo demais. Fiquei completamente encantada, até o ar sombrio não tinha mais com tanto sol brilhando naquele lugar.

Já havia se passado um pouco mais de vinte quatro horas desde o incidente com o idiota do tal do coronel. Meu pai sempre disse que coronéis não prestam, ele estava certo.

Os primeiros sinais da sede de sangue causam uma dor física absurda, é como se as costuras do meu corpo estivessem se rompendo. Nos primeiros sinais Baltazar trouxe o coronel e o trancou em um cômodo comigo, sem pensar duas vezes grudei os dentes em seu pescoço e o sabor doce e a quentura do sangue encheram minha boca, era indescritível. Eu não conseguia parar. Então suguei tudo até senti seu coração parar e ele suspirar em meus braços.

Pensei que sentiria culpa por tirar a vida de um ser humano, mas tudo que eu sentia era uma corrente elétrica e muito prazer correndo pelo meu corpo.

Lucian entrou no cômodo e me abraçou, seu corpo agora já não era mais frio. Agarrei sua camisa e o beijei e juntos nos perdemos em mais um momento de volúpia. Agora por toda a nossa imortalidade. 

VolúpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora