Parte II - 02. Agonia e ternura

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TW: manipulação, abuso psicológico, dependência emocional e delírio.

lembrando que: nossa protagonista é diagnostica com um transtorno psicológico sério e ela interrompeu um tratamento de forma abrupta, trazendo consequências. por isso, talvez os pensamentos e falas não sejam as das mais sãs.

mais uma vez: o capitulo está cheio de gatinhos sobre relacionamento abusivo, leia com cuidado!

boa leitura :)

música cantada no capitulo: pourquoi la mort te fait peur - pomme

***


Três anos atrás.

O galpão começava a queimar e a fumaça se espalhava por todo ambiente. Toji encostou no próprio abdômen vendo o sangue escorrer. Com a visão embaçada, o corpo pesado e cansado, ele se levantou arrastando-se até a saída de emergência.

— Argh... Porra!

Ele grunhiu de dor escorregando pela parede do galpão com a mão no ferimento. Fushiguro levantou a camisa vendo a lesão e percebeu que era crítico, e se não estocasse o sangramento perderia a consciência.

Por um momento, ele realmente pensou em deixar seu sangue escorrer pelo seu corpo até o chão e perder a respiração aos poucos, sentindo seu coração parar de bater e por fim, o cérebro morrer, deixando apenas seu corpo ali, uma casca morta; estava tudo acabado, todos esses anos sendo um dissoluto seria terminados assim? Pagaria por todos seus atos por um mísero corte? É. A ideia da morte era um tanto tentadora, porém, dessa forma ele não morreria por conta própria. Ele iria morrer por alguém que ele... O que você era para Fushiguro? Esse pensamento veio à tona na dor que sentia. Por que ele não a matou? Oportunidades não faltaram, desejos em alguns momentos também não. Amor? Não, ele não a amava, mas ele não a odiava. Parte dele estava genuinamente feliz por você estar viva. Você ainda estava viva, e não viveria sem ele. Toji havia destruído sua vida e ele sabia disso, mas ele não a despedaçou como queria, com as próprias mãos. E isso o motivava.

Uma obsessão não se esvazia de uma mente doentia de uma hora para a outra, e Toji tinha a certeza que você pensaria e esperaria por ele. Afinal, você sempre esteve lá o observando e o querendo, assim como ele estava lá te vendo, desde o começo. E como você mesmo havia dito, todos esses feitos não podem ter sido em vão.

Retirou a blusa que usava, a rasgando e cobrindo o ferimento, para que o sangue parasse de sair. Ergueu-se com dificuldade, gemendo e abafando o grito de dor que quis dar. Mancando e contundido, ele juntou forças caminhando pelas árvores. Mas antes de adentrar, ele escutou um barulho de carro. Olhando para trás, viu que o galpão começava a incinerar e um carro preto estacionado de qualquer jeito na rua. E então você carregada às pressas até o veículo.

Os raios de sol apareciam e com eles a língua de Toji fazia viagens de dois passos pelo céu da boca abaixo, e no segundo, batendo os dentes de forma egoísta e possessiva.

'Mi. Nha.

Essa é uma das últimas memórias de Fushiguro sobre aquela noite longa mas que logo se tornou manhã, com você sendo levada, assim como o sol nascia.

*

Um cheiro úmido e familiar invadia as narinas do homem que despertava de acordo com uma melodia doce que ele escutava.

— Pourquoi la mort te fait peur? (por que a morte te dá medo?) -- você cantarolou ritmado enquanto limpava a bisturi.

— Ryo... - ele disse um tanto zonzo e rouco, olhando para você e vendo que estava amarrado no quarto nos fundos do quintal da cabana.

𝐌𝐎𝐍𝐎𝐌𝐀𝐍𝐈𝐀 - Toji FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora