Parte II - 04. Nova pessoa, as mesmas e velhas fixações

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peço desculpas qualquer erro antecipadamente.

boa leitura! :)


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Algumas práticas nunca mudam. Digo, é inquestionável que todos têm singularidades e hábitos que são velhos, mesmo a cada mudança, mesmo se tornando uma nova pessoa. Nova pessoa? Sim, você se sente como uma nova pessoa, independente da mesma rotina.

Guardava as roupas recém lavadas e colhidas nas gavetas, sentada ao chão. Um sorriso surgiu ao rosto ao ver uma peça tão distante das outras que ali tinham, mas tão familiar para você. A segurando em mãos, levou até as narinas onde inalou fundo o cheiro que te trazia um misto de sensações. Mas você era uma nova pessoa, aquela peça seria substituída logo.

— O seu cheiro continua tão vivo...

Murmurou e escutou passos apressados e ao olhar, uma estrutura com o seu conjunto passado e muito bem limpo como novo, os cabelos longos e escuros como carvão em um perfeito penteado vinha correndo. A pele saudável e parte do rosto junto com os lábios cobertos por uma máscara descartável.

Aproximou e abaixou-se, ficando na altura do pequeno corpo de um metro e três centímetros, com um sorriso largo em seu rosto, para arrumar a gravata do seu uniforme.

— Mamãe, Ui Ui irá também?

A voz da criança saiu doce e inocente ao entrar em seus ouvidos. Olhou nos olhos verdes escuros de cílios alongados e acariciou sua bochecha em um gesto singelo.

— Não sei, meu amor.

Respondeu depositando um beijo no topo da cabeça da criança e caminhando até a porta, deixando ela passar e correr em direção ao carro.

Sentou-se no banco do motorista, encarando pelo retrovisor o pequeno sentado na cadeirinha e a olhar com os olhos miúdos, indicando um sorriso puro. Você virou-se para o prender com os cintos de segurança.

— Você arrumou a sua mochila, Ren?

Perguntou o encarando.

— Sim, igual a mamãe e a tia ensinou!

Sorriu se ajeitando no seu banco, dirigindo pelo trajeto, sentindo o seu coração aquecer.

Maternidade. Com certeza que de todas as coisas e cicatrizes que Toji te deixou, essa certamente foi a pior de todas.

Não que você não ame sua cria. Muito pelo contrário. Você a ama tanto que faria qualquer coisa por ele. E esse é o problema.

Ren te faz voltar a sua infância, ou parte dela, já que toda sua memória sobre é como fragmentos e peças chaves sem complemento. Te faz voltar e lembrar de como foi difícil conviver na escola, sendo excluída por toda turma por ser a "esquisita da família problemática"; lembra, também, de como era difícil em casa, ainda mais com uma mãe alcoólatra e um pai ausente que quando estava presente, a quantidade de vidros quebrados e espalhados pelo chão da sala eram mais do que podia contar.

Em dias como esses, em que os gritos eram altos, os socos nas paredes pareciam tremer toda a casa e os choros junto com os pedidos de desculpas vinham de madrugadas, você se encolhia no canto do seu quarto, tampava os ouvidos e contava até o silêncio reinar novamente. Ainda se lembra do seu recorde.

15225.

E isso por muito tempo te acalmou. Tanto que começou a fazer rituais sempre que se sentia ansiosa, aflita e com medo. Isso afetou sua vida inteira. O que começou com números para aliviar o medo, foi para estralar freneticamente todos os membros possíveis quando sentia-se tensa. Depois, passou a lavar as mãos cada vez que se sentia ansiosa, já que elas suavam demais e essa sensação pegajosa te enlouquecia. Então, as automutilações quando se pressionava ou se frustrava, descontando tudo em si mesma.

E isso você não queria para sua pequena, frágil e pura criança. Ela não merecia passar pela mesma coisa. Afinal de contas, você sabe o quanto isso te fez mal. Você se lembra o quanto isso começou a destruí-la a cada mísero segundo, consumindo todas as partes do seu cérebro que além de nunca parar, te fazia se sentir a porra do problema a cada passo incerto que dava.

Com o tempo, veio os pensamentos obsessivos e isso apenas piorou no final da adolescência, com sua mãe indo embora e você morando com o seu pai, que de presente só estava o corpo. Foi quando começou a fazer de tudo para dar orgulho, e quem sabe, receber atenção do mais velho.

Após o ensino médio, fez inúmeros cursos, entre eles, um de francês. Foi a primeira vez que alguém reconheceu todo o seu esforço. E foi a primeira vez em que você criou uma obsessão consciente daquilo.

Consciente é uma palavra muito forte. Até porque, era algo que você não conseguia controlar, mesmo sabendo que aquilo não era normal, não era saudável. E teve certeza quando viu o corpo da sua professora de francês morto em suas mãos e mesmo assim não conseguiu parar, porque fez a mesma coisa com Fushiguro.

A diferença, foi que com ele foi algo tão... Complexo. Com Iori, você tinha a noção que, no fundo e no final, aquilo nunca daria certo. Então veio Toji e essa fixação piorou. Você realmente queria que funcionasse e tentou de todas as formas amá-lo. E amou, e Ren é uma prova disso. Achou que depois de Toji e Ren, não haveria um novo vício.

Por isso se sentia uma nova pessoa. Você tinha alguém para amar e dar toda a sua atenção e afeto. Alguém para se dedicar e melhorar. Por ele e por você. Apenas os dois. Você daria conta, olha tudo o que já passou e resolveu. Mesmo sem Toji por perto ou até mesmo vivo, você tinha uma nova chance de ser feliz.

— Ren, chegamos — falou estacionando o carro e olhando para o bambino.

Ele se alegrou te vendo retirar os cintos e sem esperar, saiu do carro, te arrancando uma risada. Olhou pelo retrovisor e umedeceu os lábios ao ver uma figura que você esperava encontrar. Ajeitou o cabelo e o colar que uma vez foi elogiado por ela junto com as unhas pintadas na cor favorita dela.

Em um suspiro saiu do carro vendo o fruto do seu amor com o Toji correr na direção do amigo que ele tanto esperou para ver.

— Olha só se não é a pequena Ren.

A voz firme e seduzente da mulher veio acompanhada com o cheiro doce que se mesclava com um forte aroma de vinho caro, que a deixava mais atraente.

— Olha só se não é o grande Ui Ui.

Vocês duas riram observando as crianças se cumprimentarem e correrem até o parque e você viu a mulher olhar para o relógio prata de pulso antes de te encarar sorrindo.

— Há quanto tempo, Mei Mei.

— Estou muito ocupada, tanto que hoje terei que levar o Ui Ui embora mais cedo, terei um evento fora da cidade. Mas como você está? Temos que colocar nossas conversas em dias.

Ela perguntou enquanto vocês caminhavam até um dos bancos. Seus lábios se formaram em um simples sorriso ao escutar tais palavras saírem da bela e atrativa boca pintada em um vermelho maduro, dado que, você já sabia disso.

Até porque, você era uma nova pessoa com as mesmas e velhas fixações. E uma delas, era fazer de tudo para descobrir cada mínimo detalhe sobre o seu novo quebra-cabeça. A sua mais nova Monomania.

— Eu estou ótima, e você?


E essa mesma noite, extrapolaria os limites para poder, então, se aproximar e dedicar-se totalmente de forma definitiva.


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sim, gente, toji foi pro saco. (eu acho


próximo cap é o último e eu tô muito malkkkkkk essa fic tem um peso muito especial pra mim:(
btw... demorei muito pra revisar esse capitulo, mas minha mente ta a milhão.


só isso mesmo, até o próximo e último! cuidem-se e tenham um ótimo final de semana. obrigada pelas leituras, beijos! >.<

𝐌𝐎𝐍𝐎𝐌𝐀𝐍𝐈𝐀 - Toji FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora