Problemas

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Depois de perder o terceiro saque seguido Juliette concluía agora que aquele não foi um bom dia para escolher jogar tênis.

Ela tentou outra vez, outro ponto perdido. A mulher não conseguia se concentrar.

"Ju, você não está nem tentando." Carla gritava do outro lado da quadra.

Carla conseguia se mover numa velocidade surpreendente para alguém da estatura dela, a partida estava sendo um massacre.

"Eu acho que não tô muito bem, a gente pode parar?" A mulher andou até a lateral da quadra para beber água.

Carla atravessou a quadra e agora estava ao lado dela.

"Problemas no escritório?" Carla arriscou.

"Não, o escritório está ótimo. Tá muito bem, na verdade, trabalhando bastante." Ela desviou o assunto. Juliette nunca estivera mais ocupada em sua vida e o motivo era ter se tornado sócia do escritório de advocacia que trabalhou desde que era estagiária. Ela gostava de estar tão ocupada, no fundo isso a distraía de seus outros problemas.

"Ok, então?" Carla deixou a pergunta pairando, esperando que a morena tivesse iniciativa em compartilhar.

Juliette não sabia se queria compartilhar, falar sobre seus problemas tornavam eles maiores, reais, se nem com Rodolffo ela conseguia lidar com esse assunto talvez não valesse a pena, mas Carla era sua amiga e Juliette sabia que ela queria ajudar.

"Ok, eu e o Rodolffo estamos com alguns problemas. Eu acho que eu quero me divorciar."

Ela não pensou muito se essa realmente seria a solução, Rodolffo não era um homem ruim, ele era gentil, havia sido muito romântico nos primeiros anos de sua relação, mas ultimamente parecia que nada que ela dissesse agradava a ele.

"Amiga, eu imaginei" Carla olhou para ela com aquela expressão que as pessoas fazem quando vão te dar um conselho crentes de que mudarão sua vida, Juliette aguardou a dose de sabedoria.

Não é que Carla fosse uma amiga ruim mas a vida dela com Arthur parecia perfeita, eles estavam sempre em viagens românticas e fazendo todo tipo de declaração de amor pública e eles tinham uma filha e agora tentavam o segundo bebê. Juliette sentia que ela não entenderia de verdade seus problemas.

"Ano passado, eu e Arthur nos separamos fisicamente." Carla continuou.

"Quê?!" Juliette estava realmente chocada. "Mas vocês são perfeitos juntos."

Parecia uma declaração boba de se fazer, afinal ninguém era perfeito, mas o casamento de Carla era quase uma meta para ela, como ela imaginava que os casais deveriam ser, como ela sabia que ela e Rodolffo não eram mais, talvez nunca tenham sido.

Carla riu, elas agora andavam pelo clube de tênis enquanto a loira dava detalhes de sua breve separação.

"Ele saiu de casa, alugou um apartamento eu não contei pra ninguém, eu não queria que me achassem um fracasso."

"Carla, acontece. As pessoas se separam, você não seria um fracasso!"

"Você não entende Ju, você é uma mulher de negócios"

Naquele momento Juliette gostou um pouco mais de Carla. Não que ela realmente se visse como uma mulher de negócios fria e implacável, essa era a Juliette que Rodolffo pintava quando ele queria confrontá-la por eles ainda não terem filhos, ela mesma se via como alguém que apenas tentava construir um nome e uma carreira.

"Mas então?"

A morena estava genuinamente curiosa sobre o que teria mudado uma decisão tão radical.

"A gente fez terapia de casal, no começo eu achava que não faria efeito, afinal ele já havia me deixado. Mas a doutora Andrade é uma gênia. Depois do primeiro mês de terapia ele voltou pra casa, no sexto mês nós recebemos alta."

O conceito de terapia de casal era engraçado para Juliette, como uma terceira pessoa estaria apta a resolver os problemas que duas pessoas já não conseguiam?

"Então você acha que eu e o Rô?" Ela não queria completar a frase, a ideia era ridícula.

"Sim, eu acho que vocês deviam tentar, é muito bom, Ju, de verdade. Essa mulher salvou a minha vida."

Juliette dirigiu para o escritório naquele dia reflexiva, mas as 21 horas quando adentrou o apartamento a ideia de fazer terapia de casal já tinha ficado para trás a muito tempo.

Ela entrou removendo os sapatos para enfim estar confortável de novo quando se deparou com uma cena inesperada.

Rodolffo estava sentado no sofá, com a lâmpada a meia luz, ele bebia whisky sozinho e olhava para ela parecendo chateado.

"Você tá bêbado? Pelo amor de deus Rodolffo!" Ela o indagou enquanto tirava o blazer e pousava ele e a bolsa no sofá. Se ela estivesse com um humor melhor poderia até se servir uma dose mas ele não estava e isso a contaminou.

"Juliette você sabe que whisky é esse?" Ela olhou para a garrafa e leu o rótulo não entendendo a pergunta.

Percebendo a confusão da mulher ele mesmo a respondeu.

"É o whisky que meu pai me deu quando a gente se casou, ele disse que eu ia ganhar outra garrafa quando nosso primeiro filho nascesse, e eu disse que ia encher a casa de filhos. Por que nós não temos filhos, Juliette?"

As vezes Rodolffo era excessivamente dramático para o gosto da mulher.

"Esse assunto de novo?" Era tudo que ela conseguia pensar.

"A gente não resolveu da última vez" Ele replicou dando mais um gole no whisky.

"E como você espera que a gente faça isso?" Juliette não iria ter um bebê agora só para resolver alguma crise pessoal do marido.

"Eu estava conversando com o Arthur e ele me deu o número de uma terapeuta de casais, eu marquei uma consulta pra gente, Juliette." Rodolffo disse aquilo como quem confessava algo.

O que deu em todo mundo com essa história de terapia hoje?

"E você marcou sem me avisar?"

"É só uma consulta Juliette, não vai matar você."

Sendo razoável, ele não estava pedindo algo tão difícil.

"Ok"

O homem a encarou quase chocado pela facilidade com que conseguiu o que queria, talvez ela realmente ainda amasse ele e eles tivesse uma chance, Rodolffo se sentiu esperançoso, feliz e levemente constrangido por ter bebido para ter essa conversa.

Ele quis abraçá-la, beijá-la, de repente tentar começar as coisas agora, Juliette viu que ele levantou e pretendia beijá-la e desviou, dando um beijo na bochecha do homem.

Ela foi para a cozinha pegar um vinho na adega, ela decidiu beber ele na banheira porque era ela que precisava ficar bêbada agora.

A TerapeutaOnde histórias criam vida. Descubra agora