Sessão 4

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Isso é ridículo.

A morena pensou enquanto começava a escrever depois de ter riscado três frases.

Ela não planejava seguir as atividades propostas pela terapeuta, primeiro porque ela não acreditava realmente na sua eficácia e isso nem era uma terapia de verdade, repetia para si mesma. Mas Rodolffo escrevia tanto que parecia estar preparando um diário, talvez ele realmente precisasse de terapia afinal.

Mas ela não, ela nunca pediu por isso, ainda mais com Sarah. 

Ela já havia perdido a primeira hora de almoço nisso, mas nunca conseguia chegar a alguma conclusão, o casamento dela não tinha nada de sua relação com sua família.

A menos que a Sarah esteja tentando insinuar que eu sou igual ao meu pai.

Não, ela não faria isso, faria?

Flashback ON

Eram duas da manhã, Sarah já estava mais do que atrasada, não atendia o celular, a esperança da menina começava a ficar abalada, sentada no chão distraidamente enquanto tentava pela décima sexta vez, não viu seu pai aparecer.

"Ela não vai vir, aqui só tem você, sozinha, desrespeitando seu pai e fazendo papel de palhaça. Mas sabe de uma coisa Juliette? É melhor assim, ela não é pra você, nunca será." _ Não havia raiva ou qualquer exaltação na voz de Lourival, apenas uma decepção latente, um cansaço como quem repete pela milésima vez o óbvio.

Juliette tinha uma mala de mão, um sonho e um coração partido. Então Sarah não fugiria com ela.

"O que você disse pra ela?" _Ela mal conseguia conter a vontade de chorar.

"Eu ofereci algo que alguém da laia dela não pode recusar." _O homem estava quase orgulhoso de enfim provar sua visão de mundo pra filha.

Juliette não conseguiu segurar as lágrimas, era óbvio que depois de cercear a liberdade dela completamente, mudá-la de colégio e mesmo assim não impedir esse relacionamento, seu pai jogaria sujo.

"O que você ofereceu? Eu quero saber exatamente pelo que ela me trocou." _A menina estava cansada, derrotada.

"Isso é entre eu e ela. Mas a minha oferta pra você está de pé, termina esse ano letivo nos Estados Unidos, esquece essa garota."

Nos meses que aquele relacionamento durou Sarah nunca pareceu simpatizar minimamente com o pai de Juliette.

 "Ele é o tipo de pessoa que sempre consegue o que quer, de um jeito ou de outro." Ela dissera uma vez.

Somado ao coração partido a morena agora tinha o orgulho ferido, ela fora trocada por alguma coisa material.

Flashback Off

Aquela memória não se tornara menos dolorosa com os anos, para surpresa de Juliette. Mas agora ela sabia o que escrever.

Conforme o dia passava, a morena se sentia cada vez mais ansiosa, Sarah a acusava de ter ido embora do país, o que ela fez por seis meses, mas antes fora Sarah que desistira dela.

O horário enfim se aproximava, ela matinha as pernas cruzadas mas balançava os pés num ritmo acelerado constante.

"Você tá bem?"

Sua agitação chamou a atenção de Rodolffo.

"Eu tô ótima" _ mentiu, deixando o homem de sobrancelha arqueada.

Quando finalmente adentraram a sala da terapeuta ela já havia repassado três vezes o que diria para colocar Sarah contra a parede.

_Eu quero ir primeiro!_ Se adiantou sem que ninguém perguntasse.

A TerapeutaOnde histórias criam vida. Descubra agora