2008

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"Juliette Freire Feitosa, você vai abrir essa porta agora!" O pai de Juliette gritava por cima do pop rock alto do Paramore, que a menina colocou para não ter que escutar a voz dele.

"ME DEIXA EM PAZ!"

O motivo de toda frustração era que o pai de maneira absolutamente ditatorial a proibira de ter uma banda e ela estava apenas indo fazer seu primeiro show num pequeno festival de bandas de rock da cidade.

Ela só queria ser deixada sozinha para chorar.

"Eu vou embora dessa casa, eu vou viver da minha música!"

"Juliette olha a minha posição, você é filha de um juiz, precisa se dar ao respeito mocinha!"

"Se você não queria que eu virasse cantora porque me colocou nas aulas de violão?" Ela estava deitada na cama lutando contra o impulso de gritar no travesseiro.

"Era para você ter um hobby, viver de música é ridículo!"

Dessa vez ela realmente desistiu daquela conversa.

Ela foi escolher uma nova música e viu a janela do MSN subir avisando que sua pessoa favorita estava online e que agora, tudo ficaria bem.

Sarah: Animada para hoje?

Juliette digitou freneticamente uma resposta.

Eu não vou mais, o meu pai é um tirano, ele me odeia, eu quero morrer.

Ser impedida de fazer seu primeiro show, um que ela e sua banda composta por outros três amigos do colégio era a pior coisa que seu pai podia fazer com ela.

Sarah: Você não pode, sei lá, fugir de casa?

Julliette não podia simplesmente pular a janela porque seu quarto ficava no segundo andar, além do mais como ela voltaria? Como entraria em casa?

Juliette: você já veio aqui, como eu vou fazer isso? Além do mais, se meu pai souber ele me mata.

Sarah: você pode sair pela janela e voltar pela janela, eu tenho uma escada portátil, ela cabe na picape do meu irmão.

Juliette: Você quer vir aqui com uma escada portátil e quer que eu saia pela janela e volte por essa mesma janela mais tarde?

Sarah: Sim, estou pensando em como faremos com o muro.

Ela queria rir, ela nunca tinha percebido que seu pai era um fascista e sua casa era literalmente uma prisão e estava achando muito fofo o esforço de Sarah.

Meia hora depois seu pai retornou.

"Juliette"

"Se você quer se comportar como uma criança mimada e insolente fique sabendo que eu e sua mãe não temos tempo para isso e vamos sair para jantar."

"Eu posso ir com vocês?" Ela sabia que se fizesse parecer que queria ir conseguiria ser deixada em casa sozinha.

"Não, você está de castigo"

"SEM COMER?"

"Sem sair de casa, tem comida e delivery, mas se você sair de casa vai ficar de castigo pelo resto do semestre."

"Então tá bom. A Sarah pode dormir aqui?"

Sua família não sabia da relação dela com Sarah e por enquanto parecia melhor assim, seus pais eram muito conservadores nem permitiam que ela pintasse o cabelo ou fizesse um piercing no nariz, um relacionamento lésbico seria um choque para aquela família.

"Você não entendeu que está de castigo?"

"Tá booom, eu vou dormir então, boa noite senhor Lourival"

"Boa noite, Juliette."

Uma hora depois Sarah parava sua moto na frente da casa de Juliette.

Ela estava com uma camisa preta do Green Day, uma jaqueta de couro, um jeans rasgado e coturno e Juliette mal conseguia acreditar que ela era realmente sua namorada.

Ao contrário de Juliette, Sarah podia fazer tudo, ela já tinha duas tatuagens aos 17, além de um piercing no nariz e podia pintar o cabelo sempre que quisesse. Ela também tinha uma moto, o pai de Juliette a mataria se soubesse que ela andava por aí na moto da "amiga".

Juliette se lembrava perfeitamente do dia que Sarah chegou na escola dela, transferida no meio do ano anterior e logo se tonou a sensação da M212.

Todos queriam ser amigos dela ou ficar com ela, algumas meninas a odiaram imediatamente.

Juliette não entendeu de primeira o que estava acontecendo, só que ela ficava tão nervosa toda vez que Sarah falava algo para ela que algumas manhãs eram uma sessão de tortura.

Um dia ela fez uma pergunta que mudou a vida de Juliette para sempre.

"Você quer ir no cinema comigo?" Foi a pergunta que Sarah fez no meio da aula de física que Juliette falhava miseravelmente em prestar atenção porque a menina decidiu sentar do lado dela.

"Tipo um encontro?" Juliette sussurrou e se arrependeu no mesmo instante, porque era um absurdo, Sarah deveria ser hetero e ia ficar enojada e ultrajada pois fez um convite amigável e ela também não sabia porque tinha perguntado aquilo já que nunca havia ficado com nenhuma menina e nem sabia como faria isso se quisesse tentar.

Sarah riu e se sentiu um pouco menos confiante, ela já tinha ficado com meninas antes, na verdade desde a primeira vez que ela esteve em contato com lábios femininos ela notou que seria um caminho sem volta, e ela percebia que Juliette sempre estava olhando para ela, logo ela deveria estar interessada.

E ela não podia negar Juliette era bonita e tinha um jeito avoado que era fofo.

Um erro de abordagem nessa situação seria muito constrangedor.

"Tipo um encontro, você não é hetero, é?"

"Não! Eu não sou hetero!" Ela ficou nervosa e respondeu muito rápido, fazendo Sarah sorrir de novo.

"Juliette e Sarah, vocês gostariam de dividir alguma coisa com a turma?" O professor interrompia a conversa mais importante da vida de Juliette.

"Não, senhor!" Sarah respondeu.

Elas ficaram em silêncio por alguns minutos e Sarah recomeçou a conversa.

"Então, a gente se vê no shopping?"

Juliette não acreditava na própria sorte, ela tinha um encontro! Todos os meses suspirando por Sarah e fazendo suposições sobre ela não foram em vão. Juliette se sentia radiante, feliz e as expectativas a consumiam.

Mesmo depois de três meses ela ainda se sentia a pessoa mais sortuda do mundo.

Ela subiu na garupa do moto colando seus corpos o máximo possível, inalando o perfume de Sarah e sabendo que ficaria de castigo para sempre, mas cantaria com os amigos e curtiria a noite com sua namorada e seria uma adolescente normal.

A TerapeutaOnde histórias criam vida. Descubra agora