Londres, 1820.

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O som das carruagens o acordaram. De jeito, o cheiro de pão sendo assado, o fedor do esterco dos cavalos e os gritos incessantes de uma prostituta naquele beco não eram o melhor jeito de acordar naquela maldita manhã chuvosa, onde seu estômago roncava e sua boca tinha um gosto amargo pelo vinho mal feito da taverna.

Apertou-se mais no seu casaco velho e puído, onde com algum conforto, a couraça velha poderia ter dar alguns minutos a mais de sono.

Mas não deu.

Linley suspirou profundamente e se ergueu, em tempo de ver a carruagem daquele homem nobre que ali o esperava.

Misterioso, assombroso e taciturno.

Ele procurou jeitos de calçar as botas de couro, desajeitado. Bocejou e tentou sorrir.

Assim que andou alguns passos sem capengar, pegou sua bolsa de moedas e foi-se em direção a carruagem negra.

— Meus cumprimentos, Duque de Moray.

— E aos meus cumprimento, Linley Pollard. Ou poderia dizer... Duque de Devon

Ele fez uma careta. 

— Shhh... — Entrando na carruagem, sem pestanejar — Me leve pra tomar um bom banho.

— Achei que ingleses só tomavam banho em dias específicos.

— Um mendigo mijou em mim — Linley reclamou — Me dê um banho.

O Duque Malik sorriu.

— Claro — Ele entrou atrás — Para minha casa então.

Quando a carruagem começou a andar, Linley suspirou profundamente.

— Penso eu que deveríamos estar nesse momento compartilhando um desjejum em algum lugar confortável e não em você me buscando em um beco maltrapilho e dorizado.

—  Bem, se eu não lhe conhecesse tão bem... — Malik sorriu — O que você descobriu dessa vez?

Linley sorriu. Com um sorriso belo como aquele, Malik se perdeu um pouco.

"A vida eterna por uma gota de sangue" — Ele tirou de dentro de seu casaco, o velho caderno de couro que sempre andava — "Na lua cheia, onde as catacumbas gritam por miséria e piedade, há aquele que busca a cura para a eternidade e aquele que busca a imortalidade. Uma busca requer a outra. E a vida eterna vem por uma gota de sangue".

— Está me dizendo que achou mais um conto vindo daqueles velhos tolos e infelizes?

— A imortalidade é um conto para tu?

— É uma palermice de grande tamanho. Não podemos arriscar nossas vidas em enigmas, Linley.

— Sabe que devemos ir — Ele encostou no ombro de seu duque — Faz anos que não vou a Paris...

Malik sorriu.

— Eu também não vou lá há alguns anos...


O som melodioso da chuva, com o sabor do vento, enquanto as nuvens espessas e densas tomavam o céu naquela tarde, o som das carruagens e seus cocheiros trotando pelas ruas, em busca de rápidas viagens, enquanto damas e cavalheiros escapavam das gotas geladas e do frio que estava para chegar, o estalo da lareira era um conforto durável na biblioteca. Grandes edições de livros estavam abertas sob a mesa, com tinteiros fechados e alguns mapas desenhados sob grandes papéis antigos e manchados. O conforto se estendia para o tapete persa na sala, as esculturas pousadas e silenciosas. O ronronar suave de um gato negro que sentado em uma almofada, aproveitar o calor do ambiente para sonhar e descansar com seus maiores desejos.

Blood and Hell (AU!Ziam)Onde histórias criam vida. Descubra agora