Não sei direito como começar, a escritora aqui sempre foi você.
Mas, de algum modo, escrever parece acalentar a dor que eu sinto por não te ter mais comigo. Sinto que posso conversar com você. Às vezes consigo até ouvir sua voz mais uma vez, tão doce e suave no meu ouvido.
Tento lembrar de todas as vezes em que você disse que me amava, para assim conseguir viver dia após dia. Todas as noites quando coloco a cabeça no travesseiro, minha mente desenha sua imagem. Consigo ver seu sorriso, posso enfim ver seus olhos azuis me encarando uma última vez.
Parece que a culpa por não ter feito o bastante para protegê-la nunca vai me deixar. Mas é meu dever carregar comigo este fardo.
Perder você está sendo o maior desafio da minha vida. Não sei se um dia vou conseguir vencê-lo.
Mas me recuso a cair sem levar quem te tirou de mim junto comigo, mesmo que seja para o túmulo.
Irão pagar.
Irão pagar, meu amor.
Farei com que eles paguem.
— Alfonso
Poncho bateu com a caneta sobre a mesa, mas sem fazer barulho. O lugar em que estava era demasiadamente silencioso.
Olhou para a folha de papel bem à sua frente e então suspirou. Depois, virou seu rosto em direção ao leito de hospital e, de repente, toda a dor pareceu retornar ainda mais potente até seu peito. Ele encarava Anahí, ainda adormecida.
Naquele dia, dois meses se completariam desde o nascimento de Jade, que seguia na incubadora daquele mesmo hospital. Todavia, ele não havia perdido a fé de que ela acordaria. Ela tinha que acordar.
Mas havia dias, como este, em que Poncho era tomado pela angústia e o medo de que ela não pudesse resistir. A cada semana, a pele de Anahí parecia mais pálida e seus olhos mais fundos. Ela estava mais magra do que era considerado saudável. Poncho se sentia incapaz, culpado e, sobretudo, com cada vez mais ódio.
Além dele, visitas constantes eram feitas naquele quarto: Maite, Rose, Luiz e Madalena. Silva e Sandra também buscavam notícias sobre o andamento do quadro de Anahí sempre que era possível.
Outras companhias também eram vistas de vez em quando: Nano e Rio, que tinham carinho por Anahí e lamentavam o estado dela e, por consequência, de Poncho. Apesar do último feito, no qual conseguiram uma boa quantia de recursos para dar início à reestruturação e independência definitiva da FLPM, não era o suficiente para animar o líder do movimento. Rio e Nano entendiam o amigo e faziam o possível para comandar a regência do vilarejo de modo que Poncho tivesse mais disponibilidade para se dedicar à Jade, seu último recurso de sentimentos bons.
Certo dia, Miguel fez uma visita à Anahí e, como esperado, Poncho estava lá:
— O que está fazendo aqui? — Poncho perguntou quando viu Miguel entrar no quarto, tomando um tom ameaçador.
Miguel levantou as mãos, em defensiva.
— Quis ver como ela está.
— Como você acha que ela está? — Poncho tinha um tom violento e sarcástico. — Mal. Muito mal! Graças ao Sul, de onde você faz parte. Saia do quarto!
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Dos Veces III - Final
RomanceLeia: Dos Veces e Dos Veces II Este volume é o último da trilogia Dos Veces, um romance AyA. Após a morte do principal inimigo de Anahí e Poncho, uma nova barreira é imposta ao amor de ambos. Todavia, uma ligação que nunca mais poderá ser desfeita a...