Capítulo 1: Heterocromia

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"A ricina é produzida a partir do processamento da mamona. É uma substância letal que, se ingerida, inalada ou injetada, pode causar náuseas, vômitos, hemorragia interna e, por fim, falência de órgãos. Não existe nenhum antídoto conhecido para a ricina."

Música: 1406 - Mamonas Assassinas



Alguns meses atrás

Anahí sentia suas mãos suarem.

Ela engoliu em seco quando Rami, em sua sexta visita para fechar novos acordos, chegou a passos calmos na sala cubícula do esconderijo. Talvez só Anahí, Luiz, Juarez e Jorge Vivaz tivessem ciência de que aquilo era de fato um cárcere, ao invés de um ponto de encontro para negociações.

Mas aquilo estava prestes a mudar e tudo dependia apenas de Anahí. 

Como todas as outras vezes, Rami tinha um sorriso amigável no rosto. Anahí sentia que podia confiar nele. Ela pediu forças aos céus, à mãe e ao universo para que o que estava prestes a fazer desse certo.

Anahí e Rami conduziram a conversa normalmente. Ela analisava o que que precisava, de quanto estoque era demandado, o quanto era possível ofertar e então eles acertavam um preço.

— Não. — Anahí disse com uma cara desconfiada. — Acho que nossos cálculos estão errados. Preciso de papel e caneta para acertarmos isso.

Ela suspirou, olhando para os lados.

— Juarez — Anahí olhou para o mesmo homem que sempre a vigiava em todas as negociações —, poderia me arrumar uma caderneta e caneta, por gentileza? Rami e eu estamos acertando as últimas contas para fecharmos mais um acordo, mas está confuso. Também não quero errar, isso pode acarretar em prejuízo para o Sul e, bem, sabe como Vivaz ficaria com isso, não é? — Anahí deu uma risada falsa. — Pode fazer esse favor?

Juarez olhou Anahí com uma cara tediosa, mas arfou e se levantou, indo em direção à sala seguinte a que estavam, em busca da bendita caderneta para Anahí.

Ela esperou que Juarez se distanciasse o suficiente para que ela pudesse cochichar a Rami o que estava preso em sua garganta há muito tempo. Ela virou o rosto e encarou Rami nos olhos, suplicante.

— Sei que não temos muito tempo até que ele retorne, então irei pedir apenas uma vez. Só me ouça. — Anahí começou a dizer, assertiva, enquanto Rami a olhou com estranhamento. — Eu preciso que me ajude a salvar minha vida, a vida de minha filha e do meu irmão. Estou presa neste lugar há quatro meses. Eu preciso que me traga o que irei te pedir.

— O quê? Do que está falando? — Rami perguntou, confuso, mas também em um tom mínimo.

— Eu sei ou quero muito acreditar que você é confiável, por favor, não me faça estar errada. Eu já não sei o que fazer e talvez esta possa ser minha última alternativa para sobreviver.

Rami engoliu em seco, espantado com o tom melancólico que Anahí mantinha.

— Quer que eu ajude você a sair daqui? — Rami olhou para os lados. — Podemos fazer isso agora mesmo.

Anahí segurou o braço de Rami, com os olhos arregalados.

— Não. — ela balançou a cabeça, olhando para a porta querendo ter a certeza de que Juarez não apareceria. — Não quero, não posso ir ainda. Não sem fazer o que preciso fazer.

— O que vai fazer?

— Não diga nada a ninguém, não questione. Apenas me traga o que vou pedir a você. — Anahí agora encarava Rami no fundo dos olhos, ele devolveu um olhar misericordioso a ela. Anahí estava desesperada. — Por favor, Rami, me ajude.

Dos Veces III - FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora