Capítulo 11: Christopher

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Três meses depois

— Ok, eu vou fazer isso. — Rio dizia com as mãos cruzadas. O cotovelo sobre a mesa grande da cozinha. Estava aflito, não fazia aquilo há muito tempo.

Rose sorriu, voltando o olhar para o forno.

— Vou estar aqui pra apoiar você. — ela disse simples. — Já está tudo acertado com Poncho. É só você ir e fazer. — Rio a olhou, tentando ficar menos ansioso com o que estava por vir.

Anahí chegava ao fim do expediente no jornal. Estava cansada. Vestia uma roupa leve: jaqueta, calças jeans e sapatos sociais, mas nada muito formal. Os empregados tinham a liberdade de se vestirem como quisessem, isso a agradava.

Ela havia iniciado há poucas semanas no novo emprego, mas diversas situações já lhe acometeram nesse meio tempo. Anahí ficara ainda mais conhecida após o incidente com Jorge Vivaz. As pessoas, definitivamente, queriam ler o que ela tinha a dizer.

Anahí teve a liberdade de escrever sobre sua própria história. O relato dos anos em que passara ao lado do ex-governador foi manchete e notícia consumida por muitos dias seguidos. De certa forma, aquilo foi como um alívio. Finalmente todos sabiam o que realmente se passara por anos atrás das portas do gabinete de Estado.

— Oi. — dois toques na porta do escritório de Anahí a fizeram levantar o olhar. Visualizou uma mulher de cabelos castanhos, magra, alta e bem vestida. Spencer Hastings. — Já está de saída?

— Oi, Spencer. — Anahí sorriu, mexendo no próprio cabelo. — Estou. Acho que Poncho está prestes a chegar, na verdade, estou quase atrasada.

— Poncho é seu noivo, não é? — Spencer cerrou os olhos, querendo recordar a última conversa que tivera com Anahí no momento de pausa para o café, no local de descanso da empresa.

— O próprio — Anahí assentiu, orgulhosa.

— Tudo bem... Vim te chamar pra ir à cafeteria com Toby e eu, mas você parece com pressa. Deixamos pra outro dia, tudo bem?

Anahí suspirou, mexendo no cabelo. Estava ainda meio perdida.

— Desculpe, Spencer. Eu adoraria... Mas hoje não posso. Por favor, já pode deixar marcado a próxima data para irmos à cafeteria. Vou amar ouvir mais histórias sobre você e Toby. — ambas riram. — E também quero que conheçam Alfonso. Acho que ele vai gostar de vocês.

— Ótimo. Já estou ansiosa. — Spencer sorriu. — Aliás, como foi hoje? — questionou curiosa observando Anahí se levantar da cadeira e buscar por seu sobretudo e sua bolsa. — Cessaram as ligações?

Spencer Hastings era a nova colega de trabalho de Anahí. Setor jornalístico investigativo, sempre a par de mistérios.

Toby era seu marido há dois anos. Este, por sua vez, se mantinha no setor de casos de polícia da BCNews.

Com a chegada de Anahí, o escritório tornara-se um alvoroço. As ligações eram diárias e frequentes. Todos queriam saber da história da ex-quase-primeira-dama da Baixa Califórnia.

Anahí suspirou, aliviada.

— Sim. Graças a Deus. — levantou as mãos em agradecimento, o que fez Spencer rir. — Acho que depois de duas semanas finalmente se cansaram de extrair informações minhas.

— Ótimo. Daqui pra frente te desejo sorte. Temos muito trabalho pela frente. Ano de eleições.

— Posso lidar com isso. — Anahí riu, dando de ombros. — Ano do meu casamento também. Isso é o mais preocupante pra mim.

— Uou. — Spencer arregalou os olhos. — Ok. Isso é de fato mais urgente que as eleições. Te desejo sorte em dobro, então.

Elas riram a última vez. Anahí se despediu brevemente de Spencer, passou pela sala de Christian e o deu um abraço, e então seguiu para o elevador. Olhou-se no espelho: a pele quase perdendo o bronze devido à época de frio em Tijuana, os cabelos ainda mais longos e ondulados que antes, num tom castanho escuro. Os olhos azuis como nunca. Mas o mais importante: ela estava feliz. Era fisicamente visível.

Poncho aguardava Anahí em seu carro quando a observou chegar. Ele fazia isso a cada semana. Jade estava bem presa na cadeira infantil no banco de trás, presa em seu próprio mundo.

Anahí o procurou para o visualizar entre a janela de vidro dois segundos depois, a poucos metros de distância. Abriu um sorriso e caminhou em direção ao carro, calmamente.

Abriu a porta, entrou no carro e o fechou. Olhou Poncho e o deu um beijo gentil. Mirou Jade no banco de trás.

— Oi, filha. Como você está?

Jade ouviu o chamado da mãe e a olhou, rindo e balançando as mãos.

Os pais riram.

— Está bem. Acabei de trazê-la da casa da madre. — Poncho falou olhando Anahí, que ainda mantinha os olhos na filha.

— Ótimo. — suspirou. — Aonde vamos agora?

— Para casa. Vou cozinhar hoje.

— O quê? — Anahí riu.

— Qual a graça? Eu cozinho bem. — disse, sentindo-se falsamente ofendido.

— Claro que sim. — Anahí balançou a cabeça, atravessou o cinto contra o corpo e ouviu Poncho ligar o motor.

— Vamos jantar e vou fazer você engolir suas palavras de deboche contra mim. — Poncho apostou, querendo rir.

— Mal posso esperar.

Ele balançou a cabeça com a resposta de Anahí, então deu a partida. Era sempre assim: leve, mas ao mesmo tempo profundo. Apaixonante e íntimo.


Poncho seguia na estrada. O sol estava quase para se pôr e Anahí resolveu ligar o som. Uma música feliz, alegre... Quase como uma ironia do que estava prestes a acontecer.

Passando por uma das encruzilhadas que dava fim à ponte do centro ao norte de Tijuana, algo que não poderia ser previsto. Três semáforos, três sinais e cores distintos. Três carros. Duas histórias de amor. Uma batida e uma vida.

O carro de Christopher von Uckermann entrou em um choque quase perfeito contra o veículo em que estavam Poncho, Jade e Anahí, além de um terceiro carro.



A próxima manchete do jornal estava feita.

Dos Veces III - FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora