A morte!

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— Pensei que não acordaria hoje!

Levanto ainda tentando entender tudo ao meu redor. Bocejo demorado e pisco algumas vezes seguidas enquanto sinto o cheiro do café. Olho para Alex que está saindo da pia e enchendo uma das duas xicaras na mesa. Café, está aí uma das bebidas que faz alguns anos que não bebo, se ela não ajudasse minha insônia a me vencer todo santo dia, eu a consideraria a melhor do mundo.

Observo tudo dentro do pequeno apartamento e me assusto.

— Que horas são?! — Pergunto incrédula.

— São 11h já — Diz checando o pequeno relógio acima da cama no qual estou — Algum problema? — pergunta curioso.

Levanto um pouco grogue do sono e me alongo.

— Porque fazia um tempo que eu não dormia tanto tempo assim.

Sento-me em uma das cadeiras da mesa na frente dele e na segunda vez no dia depois de acordar, me lembro de não ter tido pesadelos durante o sono. É o que sinto, todavia resolvo perguntar sobre.

— Fiz algum barulho durante a noite?

Alex me observa com uma careta e bebericou o café, logo deixando a xicara acima do pires.

— Não! Por qual razão faria?

Curioso como sempre. Alex e suas manias de responder algo já perguntando outra. Seria algo de família, observo. O pensamento de responder me fez sentir um tremor na pálpebra esquerda, sinal de estresse, porém não respondo.

— Obrigada pelo café da manhã! Sou muito grata, assim que possível pagarei tudo.

Ele revira os olhos e come um pedaço do bolo a sua frente. Certo! Entendi tudo e não tocarei mais no assunto, penso rapidamente.

— Estou curioso sobre onde vamos.

— Precisarei conversar com essa pessoa alguns minutos, você se importaria de esperar quando estivermos lá?

— Claro! Se quiser, te deixo lá e vou a outro lugar, também preciso fazer algo!

Terminamos o café com sentimento de almoço e fui me arrumar. Alex olhou-me desconfiado, mas não disse nada sobre minha vestimenta, era oportuno e fazia jus ao evento, a morte. Estava ansiosa, fazia um tempo em que eu não via essa minha "amiga", e vim justamente depois de ler sobre o enterro.

Muitas das vezes questionamos sobre o motivo de pessoas boas partirem dessa para uma melhor, mas dessa vez não, não questiono, pois, sei que a pessoa que morreu não era boa e muito menos será recebida por um ser celestial com uma harpa enquanto adentra portões enormes,  muito pelo o contrário. Enquanto o homem dirige todo sorridente ao meu lado eu queria rir de tanto alívio, mas não o fiz. Quero deixar tudo isso transparecer quando eu entrar naquela pequena igreja.

— Estou me perguntando se devo me preocupar com algo! —expressa.

— Como assim? — acordo dos meus devaneios e o olho.

— O lugar para onde estou te levando, é algum tipo de velório, enterro...? — sinaliza com a mão enquanto mantem o olhar atento no trânsito.

Suspiro e fico em silencio por alguns minutos. Parece que o que sempre venho fazendo era ficar calada e inexpressiva. Eu já estava cansada daquilo, porém a pergunta que sempre vinha martelando em minha cabeça era se Alex seria alguém confiável ao ponto de guardar uma informação no mínimo destruidora.

— É um velório! — respondo baixando meu olhar para as minhas mãos.

Ele me olha interrogativo e é nítido isso em seu rosto. Eu não queria chorar, não ali em sua frente, não depois de prometer a antiga Karen de permanecer impermeável. Ela merecia não chorar. Esse meu lado não merecia nenhum daqueles sentimento e eu garantiria que isso ficaria daquele jeito.

Meu celular vibrar e sobressalto no banco do carona. É Cesar me ligando. Esqueci totalmente de ligar depois de chegar na cidade.

— Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? — fala zombeteiro.

Solto um sorriso fraco e entendo o duplo sentido em sua frase.

— Estou indo a um velório Cesar! — explico.

Ouço o silencio do outro lado da linha e segundos depois um suspiro forte. Consigo até imaginar o que ele estaria fazendo: colocando o dedão e o indicador fortemente nas laterais daquele lindo nariz. Era uma mania toda vezes que o cansaço e o estresse se misturavam.

— Eu vi sobre a notícia, mas não achei que iria — fala ainda controlando as palavras.

Cesar sabe do falamos e porque não nos referimos a isso tão abertamente.

— Esperei muito, não posso deixar passar novamente.

— Geralmente nunca questiono suas atitudes, mas dessa vez acho que está sendo burra.

Não me abalo com suas palavras pois é totalmente a verdade, entretanto não é uma decisão que ele está no poder de evitar.

— Estive pensando sobre isso nessas horas, mas mantive minha linha de pensamentos.

Ele suspira pesadamente de novo.

— Certo! Faça como quiser — Ouço Cesar soprar algo impaciente enquanto Alex está em silêncio, mantendo seus olhos nas ruas —Liguei só para saber como está!

— Estou bem, obrigada por se preocupar! — respondo com o coração apertado.

— Sua cretina! Por que eu não me preocuparia?

Fecho os olhos sentindo meus lábios se curvarem em um sorriso genuíno. Eu o amava, Cesar era de longe a pessoa em que eu mais confiava, não duvidaria daquilo nem em um bilhão de anos.

— Estou feliz! — falo e Alex me olha surpreso.

— Eu também ficaria, esse tipo de gente merece sofrer até depois da morte.

Sinto o desdém em sua voz e não o repreendo, porque também não era uma mentira. Lembro-me de ter pedido em mensagem para Cesar me mandar atualizações do meu fetiche. Robert, por um milésimo de segundo teria voado alguns metros dos meus pensamentos, mas não foi por muito mais que isso. Logo ele voltou, e com isso a lembrança do beijo que lhe dei.

— Eu sei o que você está querendo saber! — responde soprando novamente no telefone depois de uma pausa.

— E?

— E que ele viajou pelo que fiquei sabendo.

— Sério?

— Sim! Com uma mulher. William comentou, parece que foi em algumas horas depois que você também viajou.

Sinto-me afundar no acento e Alex volta a olhar-me estranho.

— Sei que você não está bem com isso!

— Não é nenhuma novidade Cesar!

— Não me pergunte mais sobre isso — ele fala e continuo sentindo o desdém em sua voz.

— Certo! Obrigada de novo.

— Não se preocupe, mas também não saia fazendo loucuras por aí — respiro fundo e acho que estamos perto da igreja.

— Tenho que desligar! — aviso!

— Tudo bem e sobre seu irmão, ele te ligará. Converse com ele, sinto que ele está chateado.

Paramos em frente ao endereço no qual foi divulgado e penso por um segundo, o conheço e a certeza daquilo era de cem por cento. 












Queridos leitores,

Depois da morte é algo indecifrável, mas até aqui vocês já conseguiram entender?  

INTENSE - Spin Off de ProposalOnde histórias criam vida. Descubra agora