4 - Zona de Conforto

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Doyoung 🐰

Depois de retornar pra casa com a patética tentativa falha nas costas, passei horas a fio pesquisando, maturando ideias que pudessem servir para o curta metragem na minha cabeça e transferindo tudo o que podia para o papel antes que esquecesse, já havia passado das duas da manhã durante aquele pico de produtividade. Assim, meu sono resumiu-se em um pouco mais de cinco horas e despertar às oito, sem conseguir pregar os olhos novamente.

Encarei — e quase amaldiçoei — a noite inteira aquele cartão de visita branco em minha escrivaninha. Pensei que fosse ficar mais fácil aceitar a ideia com o passar dos dias, como encarar uma imagem do que você tem mais medo em um tratamento de fobia, mas acabou me deixando meio biruta. Parecia que aquele pedacinho de papel zombava de mim, como um aviso de "Ei! Sabe o que eu significo, não é, trouxa?" com uma risadinha irritante. Fiquei com raiva da logo, quis rasgar o papel em tons de café e creme e riscar o nome do dono cuidadosamente escrito em letra cursiva.

Jung Jaehyun.

Só de raiva mesmo. Para limpar o restinho de rancor que ainda tenho e deixar tudo em lençóis brancos.

Jungwoo, não tenho opinião formada sobre você, mas já está me colocando em situações complicadas. Espero que você valha a pena o esforço.

Sem poder me render a oferta sedutora que seria me forçar a dormir por mais umas horas essa manhã, me levanto, escovo os dentes e tomo um café da manhã reforçado no sofá enquanto dou uma olhadela na programação da TV aberta. Não tem nada muito interessante; só o noticiário e desenhos infantis.

Ao terminar, coloco a louça suja na pia. Em seguida, vou para o meio da sala e penso no que deveria fazer. Dou uma espiada ou duas, olhando ao redor, vendo a bagunça que a minha casa se tornou durante a semana a qual estava com muita preguiça para limpá-la. Pronto, decidi o que vou fazer.

Assim, inflando o peito de uma coragem que não sei de onde vem, abro as cortinas e faço a minha pose de Super-Homem com as mãos na cintura e olhar decidido para o apartamento bagunçado.

— Hora de começar a faxina!

Às oito e vinte, começo a varrer o apartamento e, em seguida, aspirar. Passo pelos móveis estofados, piso e quinas das paredes. Depois com uma mistura de água sanitária e outros produtos de limpeza, que passo pelo chão até que ele esteja limpinho e brilhante.

São quase onze horas quando acabo, vendo pelo relógio branco acima do rack. Vou para a cozinha e lavo a louça de ontem e hoje, assim como tiro algumas comidas passadas da geladeira e faço uma listinha breve de compras. Arrumo o meu quarto bagunçado, abro as janelas para arejar, separo a roupa para lavar e jogo dentro do cesto do banheiro após ter lavado ele por completo, demandando mais uma hora e uma irritação no nariz. Esse cheiro de produto químico é péssimo.

Quando termino essa parte, recolho o lixo e, fazendo um truque de malabarismo digno de uns trocados, desço as escadas do prédio com três sacolas e vou para a área externa, onde estão as latas de lixo comum e reciclável. Retiro todo o conteúdo do saco verde despejando-o no chão e depositando cada item em seu local apropriado, aproveitando para no final amassar as garrafas d'água com os pés para poupar espaço.

Miau. — Escuto um miado próximo a mim, e logo vejo um gatinho de rua de pelagem marrom com manchas alaranjadas me olhando. Ele está escondido atrás de um poste próximo, apenas a cabeça para fora, observando com certo interesse o que estou fazendo.

Vanilla Day • DoJaeOnde histórias criam vida. Descubra agora