3 - Decepções, Desentendimentos e Desconhecidos

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Doyoung 🐰


Será que eu vou conseguir, afinal, passar um dia sem me irritar até meus neurônios soltarem fumaça?

Toda a minha motivação e boa vontade esgotaram após o embaraçoso evento de Taeyong, quando o reencontrei após horas de espera naquele café que jurei não por mais os pés.

A cada dia, é uma decepção nova -principalmente comigo mesmo- nessa bosta. Argh, estou quase desistindo de tentar ser mais simpático.

Não. Quer saber? Que vá tudo à merda! Eu não ligo mais! Se for para continuar sendo tonto e preocupado, prefiro ser um tonto irritado a um tonto compreensivo com sentimentos perigosos reprimidos.

E ele ainda teve a audácia de me dar aquele cachecol vermelho de presente, esse ridículo cabeça oca!

Ademais, quem mais posso culpar? Foi uma decisão puramente minha me preocupar com ele. Dessa vez, se Taeyong estiver engasgando na minha frente, eu faço questão de ficar contando os segundos pra ver quanto tempo demora para ele sufocar até perder a consciência.

Não é pra tanto, mas a intenção é mais ou menos essa. Como o que sua mãe diz quando você cai e se machuca mesmo ela tendo avisado antes que era perigoso. "Eu não vou levar no médico!", mas no final ela sempre acaba cuidando das feridas, porque é assim que mães são. Mas eu não sou mãe dele, muito menos trouxa.

Chegou a hora de voltar a minha velha doutrina de vida baseada numa das ideias de Schopenhauer, a que levo para minha vida, sendo a que diz que a essência do mundo seria a vontade, presente em todas as coisas da natureza como um impulso cego, carente de fundamentos ou motivos.

No ser humano, essa vontade torna-se desejo, que quando não satisfeito, provoca sofrimento. No entanto, o desejo satisfeito gera tédio, na medida em que alcançamos e temos o que já não mais desejamos. Assim, a vida oscilaria do sofrimento ao tédio, em um pêndulo torturante e incessante.

"A vida humana transcorre, portanto, toda inteira entre o querer e o conquistar. O desejo, por sua natureza, é dor: a satisfação bem cedo traz a saciedade. O fim não era mais que miragem: a posse lhe tolhe o prestígio; o desejo ou a necessidade novamente se apresentam sob outra forma (...) o nada, o vazio, o tédio".

Neste sistema o homem está condenado a ser infeliz, pois a vontade se renova a cada dia. Cada vez que concluímos um objetivo, temos o tédio que provém da satisfação. Disso resulta a constatação schopenhauriana de que toda a vida é sofrimento e dor. Assim, para o filósofo -e para mim-, a felicidade não passaria sensação momentânea, um intervalo nesse ciclo de dor.

Portanto, não tenho porquê correr atrás de uma ideia de felicidade que é apenas superficial. No final será tudo o mesmo, então sequer faço esforço para buscar uma solução, mesmo tendo consciência que há meios para evitá-lo, preferindo viver na ignorância.

Parece uma ideia bem pessimista, admito, mas encaro isso como uma forma bem mais verdadeira de se lidar com os acontecimentos sacanas da vida. Evita grandes dores.

E sendo bem sincero, isso tudo é culpa minha.

Preso no mesmo ciclo de infelicidade, eu repito minhas atitudes errôneas que só geram arrependimento e dor tardios. Todo meu temperamento tipicamente intenso continua a ser incômodo, mas em meio a tantas tentativas falhas, só formo uma trégua comigo mesmo e abdico dessa missão até que a vontade, o desejo por mudança surja novamente para tentar ser um ser humano melhor.

Vanilla Day • DoJaeOnde histórias criam vida. Descubra agora