PRÓLOGO

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Você consegue, eu sei que você consegue.

Dois toques na porta.

– Entre – a voz ecoou sonoramente normal através da porta.

Isso é estranho. Ele me viu, ele olhou nos meus olhos, ele...

E com a cabeça baixa, como um bicho acuado, abri minimamente a porta apenas para que minha voz entrasse. 

– Pa-pai – gaguejei nervosa – posso falar com você? – Perguntei tão baixo que quase eu não me ouvi.

– Claro Candy, eu estava mesmo indo atrás de você – afirmou calmo, sereno, estranho.

É agora! Não desista agora.

Dei um grande inspiro como se sugasse toda a coragem do ambiente juntamente com o ar presente nele. Bem, eu esperava que houvesse alguma.

Você consegue! Você consegue!
Você!  Consegue!

Abri um pouco mais a porta para que pudesse finalmente entrar e lá estava ele sentado em sua grande e confortável cadeira atrás de sua mesa suficientemente espaçosa para seu trabalho, como se fosse o seu trono, ereto e imponente. E então quando analisei o ambiente e pus os meus olhos nele novamente foi como uma brisa do inverno, que chega antecipada e te pega de surpresa na rua sem um casaco para te proteger do frio, que sopra tão fria te arrepiando até a sua alma.

– Diga – Disse ainda sem olhar para mim.

Porque ele não está olhando pra mim? Ele sempre olha pra mim.

– Pa-papai, eu sei que você viu aquilo e não era para ser daquele jeito – disse sentando em sua frente procurando seus olhos – e-eu ia te contar, e-eu só estava procurando um momento certo, e-eu… – eu não conseguia mais formular uma frase, meu coração estava tão acelerado, minhas mãos estavam suando de nervoso, eu estava tremendo e minhas pernas pareciam tão fracas que juro, se não estivesse sentada, certamente  cairia.

O silêncio ensurdecedor reinou dentro da sala por alguns minutos que pareceram infinitos para mim. Ele não me olhava, não expressava sequer alguma emoção, simplesmente me ignorava, e essa indiferença doía três vezes mais do que se ele gritasse e me mostrasse toda a decepção que sentia por mim.

– Bem que o Nicolas me disse que você estava diferente – finalmente cortou o silêncio encostando as costas na cadeira olhando para mim, frio, parecendo calcular cada palavra que diria.

– Não fale dele! – exclamei com certa repulsa, só de ouvir aquele nome me subia um nojo e um arrepio incomum. 

– E eu entendo que "curiosidades" acontecem querida – ele continuou como se eu não tivesse dito nada – mas uma hora elas também precisam acabar.

Com certeza não foi uma boa ideia.

– O-o que? Papai, não…– tentei interrompê-lo mas por mais que eu falasse ele parecia não se importar em me ouvir.

– Acho que você já aproveitou bem a fase da rebeldia – sorriu com os lábios ainda que seus olhos expressassem frieza – você tentou seguir seus sonhos, saiu de casa, até mesmo ficou com aquela… – disse a última frase com raiva mas suspirou voltando a se acalmar – menina, mas agora você precisa voltar para realidade, voltar para a nossa casa e… 

– Para! Por favor, para! - coloquei minhas mãos sobre meus ouvidos tentando acabar com aquela tortura. – Eu não vou parar com nada – disse irritada olhando bem em seus olhos e pude ver ele travar o maxilar também me olhando assustadoramente sério mas não me intimidei –   e essa "menina" é quem eu am… – bateu ambas as mãos na mesa me assustando.

– Nem se atreva a completar essa frase – disse rispidamente – você está enfeitiçada com essa menina, está doente, essa não é a minha filha.

Era esse o poder que ele tinha sobre mim. E ele sabia me manipular direitinho, como se eu ainda fosse uma menina do ensino médio que obedeceria todos os comandos que ele dissesse, como se eu não fosse independente financeiramente. E mesmo que todas essas coisas fosse verdade, eu ainda dependeria emocionalmente dele, apesar de tudo ainda o amava e tinha esperança que se ele me amasse também me aceitasse do jeito que eu era.

– Não, isso não é verdade – disse incrédula – Papai… sou eu – sorri chorosa – essa sou eu, sua Candy – falei com a voz embargada e com os olhos marejados, estendo a minha mão, para que ele pegasse e me sentisse, como ele sempre fazia. Mas ele só as olhou. – Sua garotinha, que você criou

Ele não pegou a minha mão.

– Exatamente, querida – confirmou estranhamente sereno – Porque EU criei você, EU te conheço e essa não é você – disse firme, enfatizando a primeira pessoa do singular cada vez que a pronunciava. – Eu posso te ajudar, isso que você sente tem cura, você pode voltar a ser a filhinha que eu tanto me esforcei para criar todos esses anos – riu sem nenhum humor, me assustando ainda mais com a sua frieza – por quem eu dei a minha vida, por quem eu dei a vida da minha esposa, esteja se deixando levar por uma "curiosidade" – Ele cuspiu todas aquelas palavras na minha cara, coisas que eu pensei ser apenas da minha cabeça, ele agora comprovava com todas as letras.

Isso foi o meu estopim, as lágrimas que ainda segurava caiam sem pesar. Me doía profundamente saber que o homem que eu amava e chamava de pai me culpava de tudo aquilo. Mesmo que talvez ele estivesse certo.

Pff, vamos lá, não é como se você já não soubesse. Ele só confirmou.

– Eu sinto muito se você pensa dessa forma papai – respirei fundo pensando em tudo que eu precisava externizar  – mas eu nunca estive tão bem, essa sou eu, finalmente sou eu, sem as suas amarras ou as de qualquer outra pessoa para me conter – disse ainda chorando mas com a voz firme, sem lhe dar motivos de dúvidas ao que eu dissesse – e se você não consegue dizer, eu digo para você – soltei tudo de uma vez, pois apesar de estar com o coração destruído depois de todas aquelas palavras eu não conseguia mais levar comigo todo aquele peso também - lésbica, eu sou lésbica.


Oi, oi, oi!

Gostaram?

Quem vocês acham que é Candy?

O que o pai dela viu para estar tão bravo?

A fanfic está só começando, não esqueça da estrelinha e do comentário.

Bye!

My Straight Cure • flarrie (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora