Capitulo 1

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Rubiolla narrando.

Senti o meu coração falhar uma batida quando li uma placa a informar que estava a poucos quilómetros de chegar à empresa. Não acreditava que ia mesmo fazer aquilo. Mas era por um bem maior, acho.
Coloquei uma música no meu velho Toyota Pixis, que tinha ganho do Pedro numa das nossas típicas viagens ao Japão. Aquelas épocas eram incríveis...

Assim que avistei o prédio de vidros infinitos, soube que tinha chegado ao inferno. Estacionei o carro um pouco distante da empresa por motivos pessoais; da última vez que estacionei dentro, fui alvo de olhares e cochichos nada discretos. Não que pudesse reclamar — o que é que seria um Pixis no meio de um Audi R8, Porsche, Land Rover, Mercedes-Benz, ou mesmo o impecável BMW M8 Competition Grand Coupé do Liam? Detesto saber cada detalhe daquele carro, mas não tinha como evitar, visto que ele só sabia falar disso.

Saí do carro e caminhei apressada porque já estava atrasada. Se a Esmeralda não tivesse deixado cair o molho de chaves, de certeza que não demoraria tanto para chegar.

Passei por algumas pessoas e cumprimentei cada uma delas. Ao chegar no elevador, reparei que estava ocupado. Não sou uma pessoa muito paciente, e aquilo já estava a roubar-me um tempo valioso. Esperei dois longos minutos, mas, quando o elevador finalmente abriu, alguém chamou por mim, distraindo-me por uns segundos — o suficiente para as portas se fecharem.

— Ah, não! — resmunguei, olhando para as portas fechadas. — Quem me chamou? — Olhei à volta e vi uma mulher alta a aproximar-se.

Era irritante o padrão de mulheres magras, altas, morenas e lindas que essa empresa mantinha. Será que o Liam as escolhia a dedo? Era bem provável. Todo mês via recepcionistas, seguranças e pessoal da limpeza novos, porque ele despedia as pessoas por qualquer coisa.

— Rabienna, né? — perguntou ela com uma cara estranha.

Já trabalhava ali há dois anos; será que não sabia o meu nome? Ah, Patrícia...

— Rubiolla — respondi com um pequeno sorriso. — Deixei cair alguma coisa no caminho? — Era a quinta vez naquele dia!

— Que nome estranho... Ah, o chefe quer te ver na sala 2 — disse, entregando-me um dos papéis que quase caíam das suas mãos delicadas. Elas pareciam tão macias, mesmo de longe.

— Obrigada pela informação — respondi, olhando para o papel azul. O que seria aquilo?

Coloquei o papel na minha bolsa e entrei no elevador. Não demorou muito até eu chegar no último andar. A sensação de ter algo a apertar-me o coração aumentava a cada passo; quase não conseguia andar.

— Rubi! — Ouvi a voz da Tatiana Ocleni, e os meus dedos cerraram-se de imediato. Não estava preparada para lidar com a mãe do Liam, mas não tinha escolha.

— Tatiana! — Abri um grande sorriso para ela. Custava-me chamá-la pelo primeiro nome, mas era assim que ela queria ser tratada. Era igualzinha ao Pedro em alguns aspetos.

— Pensa bem no que vais dizer aí dentro — rosnou, olhando-me de cima a baixo com desgosto, algo que eu realmente esperava vindo dela. — Devias ter vergonha, interesseira — sussurrou, mas eu ouvi.

Não a podia julgar; compreendia-a perfeitamente. Acabaria com toda aquela confusão naquele dia.

Dois meses antes...

Olhei para o meu corpo no espelho e um pequeno sentimento de angústia instalou-se. Era estranho não saber a origem de tantas cicatrizes que tinha espalhadas por várias partes. Assustava-me sempre ao imaginar as possíveis causas. Tinha-as desde que me lembro como pessoa, mas isso não mudava o facto de ser algo esquisito. Não pareciam ser as típicas consequências de uma criança irrequieta; estava mais para...

24 HORAS ADULTASOnde histórias criam vida. Descubra agora