G Y U L I A G R E C O
Sicília, Itália.Fechei os dois botões presentes no terno, me virei saindo do quarto e desci a escada circular feita de mogno. O silêncio que reinava me trazia uma certa paz, coisa que ultimamente eu não ando tendo muito.
Assim que cheguei no último degrau, tendo enfim a visão da sala, a silhueta de meu pai olhando a vista pela janela foi a primeira coisa que vi. Como se sentisse a minha presença ele se virou para mim com o rosto sério de sempre, mas podia ver outros sentimentos ocultos pairando sobre seus olhos azuis como o céu, esses os quais eu tive o prazer de herdar.
— Padre.
O olhei por poucos segundos, mas desviei continuando meu caminho em direção ao escritório.
Durante o trajeto até a sala, atravessei o hall de entrada que tinha suas paredes brancas com detalhes em preto, uma mesa de porte pequeno ao lado da porta e duas janelas que davam uma visão ampla do jardim. Antes de entrar no corredor que dava para meu escritório, olhei de soslaio para a sala de jantar vendo Helena – minha empregada, – arrumando a mesa para o almoço.
Depois de caminhar pelo corredor e ir até o final, parei em frente à porta dupla feita de carvalho escuro, passei por elas e deixe-as aberta, ouvindo segundos depois o ranger pela mesma estar sendo fechada. Sentei na cadeira de couro atrás da mesa de mogno e apontei com a cabeça a cadeira a minha frente.
Meu escritório não era pequeno e nem muito grande, o tamanho ideal eu diria. Continha uma estante de uma parede a outra atrás de mim repletas de livros, os quais eu já li todos. Mesmo tendo uma biblioteca particular a algumas portas do meu escritório, quis ter alguns livros por perto. No canto direito do escritório jazia uma pequena mesa com bebidas, copos e um balde de gelo que era reabastecido todos os dias por Helena. As paredes todas pintadas de branco davam contraste com as molduras pretas das diversas pinturas espalhadas sobre ela, tendo algumas fotografias da família também.
— A que devo a honra, Don? — perguntei de forma retraída.
Não costumava receber a ilustre visita de meu pai em minha residência, e quando recebia, era somente parar tratar de assuntos relacionados à máfia, mas mesmo assim ele avisava quando vinha, algo que desta vez ele não o fez.
Antes de se sentar, Anthony foi até o canto da sala colocando whisky com duas pedras de gelo em dois copos, entregou um para mim e se sentou dando um gole no Chiva Regals de dezoito anos.
— Casamento.
Proferiu sério depois de engolir a bebida cor caramelo. Bufei me encostando na cadeira e o olhei semicerrando os olhos.
— Não irei me casar, papá. — disse calma, degustando do whisky.
— Não é questão de querer, Gyulia, você vai se casar. Não posso deixá-la assumir meu lugar sem um marido do lado, isto é impossibile! — ergueu os braços em descrença. — A famiglia nunca aceitaria, cazzo! — exclamou, deixando evidente sua raiva por minha teimosia.
Que devo ressaltar não ser de hoje.
Desde que me entendo por gente, meu maior sonho foi ser como meu pai, temido por todos. E com o passar dos anos fui conseguindo realizar isso e ainda crescer dentro da Cosa Nostra, chegando exercer o papel de Sottocapo. Meu desejo sempre foi chegar a Capo del Cappi e ser tão boa quanto o senhor Greco é, mas existem regras, e bom, elas não me ajudam muito.
Nenhuma mulher durante todos esses anos conseguiu chegar ao cargo que estou agora pelo simples fato de serem tais. Mulheres dentro da máfia geralmente são designadas a cuidarem de seus filhos e esconder armamentos. Eu nunca servi para este tipo de papel e sempre tive vontade de mais e mais, achava que minha ganância era uma das minhas piores qualidades, entretanto, ao olhar para meus irmãos vejo que esta sede pelo poder não foi passada de nosso pai só para mim, mas sim para os Irmãos Grecos.
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ALLEATI - TRILOGIA IRMÃOS GRECO: LIVRO 1
RandomDesde criança, Gyulia Greco sonhava em ser Cappo da Cosa Nostra, desafiando as tradições de uma máfia dominada pelos homens. Mas o sonho de uma garotinha era uma frente às regras imutáveis desse mundo. Diziam que uma mulher jamais alcançaria uma...