A tarde avançava pela metade. O dia fora muito barulhento, com a cidade tentando entender o que acontecera.
As pessoas estavam amparando-se mutuamente pelo susto e pelas perdas. Um funeral comunitário estava sendo organizado para a noite, mas ninguém no saloon aceitou levar o corpo de Rose. O padre não era alguém que aceitava a vida que elas levavam e não raras às vezes ele e Rose entraram em conflito verbal. As meninas e Brown queriam apenas se despedir de sua amada em paz.
Blackwood, a pedido de seu velho amigo, conduzia o velório adaptando antigas tradições. Rose não era religiosa, mas dava valor aos ritos. Estaria feliz com seu último adeus tanto quanto esteve a cada comemoração simples de ano novo ou aniversário que reunia todos eles. E ali estavam, todos reunidos.
O xerife esticou o braço para frente e para cima, descrevendo um arco, e então abriu a mão. Era o fim da celebração. Foi quando dois tiros, quase ao mesmo tempo, ecoaram pela rua central.
Pela janela, o saloon viu um velho teihiihan caindo no chão. Em sua direção estava apontada a arma fumegante do forasteiro.
*
Quando o forasteiro sentiu a movimentação já era tarde. Blackwood caiu em cima dele, derrubando-o na areia quente. Havia uma raiva assassina nos olhos do xerife e um único soco seu foi capaz de desnortear o vaqueiro.
- Eu nunca deveria ter tirado meus olhos de você! - gritou.
O homem caído, não reagiu. Seus olhos mexiam lentamente nas órbitas.
- Wohali! - gemeu o velho.
Blackwood parou o punho no ar, preparado para o segundo soco. Olhou na direção do teihiihan baleado e viu-o negar com a cabeça. Por que estaria defendendo seu assassino?
Nesse segundo de distração, o xerife sentiu seu corpo pesar para o lado e ouviu um tiro. Foi capaz de sentir a bala passando por seus cabelos, atravessando o lugar onde deveria estar sua cabeça.
O pistoleiro completou o giro posicionando a arma. No mesmo movimento, prendeu o tórax do xerife entre suas coxas, os braços com seus joelhos e atirou. O homem que caiu era um dos capangas do prefeito.
Confuso, Blackwood viu outros teihiihans, costumeiramente há 15 passos atrás do ancião, com machadinhas e arcos em punho. Do outro lado da rua, muitos homens vestidos de preto liderados pelo braço direito do prefeito erguiam suas armas de fogo. No chão, arrastavam-se dois capangas baleados.
- Levante-se, xerife, e cumpra sua função de proteger a cidade! - gritou o porta-voz do prefeito - Esses nativos nojentos voltaram para nos atacar.
- Atacar? - retrucou o xerife, recusando a mão estendida do forasteiro e pondo-se em pé sozinho.
- Tal qual fizeram noite passada, tirando muitas de nossas vidas. Mas o bondoso prefeito nos deu a chance de nos defendermos, mandando seus melhores homens - continuou o braço direito.
- Não foram eles, noite passada!
- Estava escuro. Você lutou sozinho e bravamente para salvar o máximo de gente que pode. Era difícil visualizar o rosto dos inimigos, nós entendemos - o homem do prefeito não falava com Blackwood, mas gritava para a população da cidade que se escondia como era possível.
O ancião teihiihan murmurou alguma coisa. Blackwood inclinou a cabeça, pensativo, e então respondeu no mesmo idioma. O velho gemeu algumas palavras e tossiu sangue. O xerife assentiu.
- Então você fala a língua destes selvagens? Você vendeu seu povo para estes comedores de gente? - o braço direito do prefeito continuava seu show.
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Gravestone
FantasyNo universo ficcional de Elementarya, repleto de criaturas míticas, o faroeste é diferente daquele que conhecemos. Ao mesmo tempo que é muito similar. Gravestone, uma cidade que vive seus últimos dias, está dividida entre ser consumida pelo progress...