Prólogo

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O Doutor sentou-se contra a janela para atender seu terceiro paciente naquele dia. O sol baixava, e mesmo que cedo para se pôr, já incidiava sua luz para dentro do quarto de modo a incomodar o médico se este não ficasse de costas. A idade já se anunciava, antes que nos cabelos, pela sensibilidade nos olhos.

Era incomum tantos atendimentos no mesmo dia. Na verdade, não era muito comum mais de um paciente por quinzena. Nesta conta, claro, o médico descontava a sra. Pennywise, a mãe do prefeito: se fosse possível, ela marcaria consultas todas as manhãs

Olhando para o seu terceiro paciente, identificou os mesmos sintomas de infecção que os outros dois apresentavam: febre e dor no corpo. Em níveis diferentes, os três também pareciam envenenados: náusea, tontura e vômito.

No primeiro caso, jurou ser decorrente de alimentação desfavorável. Não era incomum as famílias ingerirem carne podre ou cereais em fermentação. No segundo, suspeitou ser uma coincidência.

Olhando para o terceiro, duvidou de seu diagnóstico. Sentiu vontade, até mesmo necessidade, de investigar: as pessoas ali geralmente preferiam morrer a se cuidarem.

Receitou medicação e cuidados que agora cria serem paleativos, combatendo os sintomas e não a causa. No fundo, ele desejou que a causa continuasse para que a investigação fosse necessária.

Quando seguia para sua casa, viu através da rua estreita um homem desconhecido avançar calmamente pela tua principal. Quis ficar curioso, mas percebeu algo curioso às sombras de um beco.

Alguém vomitava e gemia sem forças, contudo, era cedo demais para estar alcoolizada. O médico quis supor que fosse um dos bêbados inveterados da cidade, mas o gemido de dor lhe chamava.

Pediu permissão e se aproximou. Era uma jovem de aspecto frágil e o médico prontamente acolheu-a. Durante o atendimento, que incluiu levar a moça até em casa, sugiu a pergunta:

- Quanto você bebeu hoje?

- Eu não bebo, doutor.

- Nada?

- Só água.

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